A vida como ela �

A not�cia sobre a variante �micron nos surpreendeu poucos dias depois de termos chegado ao Malawi/�frica. Nosso plano inicial era passar um m�s por l�, retornando ao Brasil dia 20 de dezembro. A falta de informa��o sobre o que o novo surto poderia causar, aliada ao fato de que v�rios pa�ses estavam fechando suas fronteiras para na��es africanas, nos colocou em um impasse. Tentar retornar de imediato ou arriscar ficar sem poder voltar na data prevista.

N�o tinha sido a primeira d�vida a abalar nosso trabalho desta vez. Poucos dias antes de embarcar vivemos um impasse. Com a suspens�o das opera��es da South Africa Air Lines, a Etiopian passou a ser a nossa �nica op��o para chegar ao Malawi. Por�m, a guerra civil na Eti�pia estava tomando as manchetes dos jornais no mundo todo. Os rebeldes, que j� dominam algumas regi�es desde 2018, amea�avam tomar a capital, Addis Ababa, onde precis�vamos pernoitar na ida e na volta.

Depois de refletir, analisar, checar as informa��es, conversar muito com quem estava por l�, fazer consultas, decidimos ir. Eu e uma amiga, psic�loga em Bras�lia, passar�amos a noite no aeroporto de Addis Ababa, se fosse preciso. Conclu� que quando se decide por este tipo de a��o humanit�ria � preciso vencer o medo e arriscar. N�o significa colocar nossas vidas em risco, mas n�o desistir a todo sinal de fuma�a.

O fato de a companhia a�rea n�o estar suspendendo os voos, contribuiu para percebermos que a situa��o na capital n�o era t�o ca�tica quanto parecia. E de fato era verdade. Tanto que tivemos coragem de pegar uma van no aeroporto at� os hot�is onde pernoitamos na ida, dia 18 de novembro, e na volta, dia 20 de dezembro, op��o mais confort�vel que passar doze horas acomodadas nas cadeiras duras das salas de embarque.

Imin�ncia de rebeli�es e variantes do covid ou outros v�rus ser�o constantes. Ent�o se n�o nos arriscarmos n�o conseguiremos levar adiante nossos projetos. � preciso ter consci�ncia de que romantizar miss�es humanit�rias � coisa bem t�pica de filme hollywoodiano. E n�o � para menos, porque a realidade nua e crua � muito dif�cil de digerir e nem todo est�mago tem preparo pra isso.

Neste momento estou em solo brasileiro dando gra�as a Deus por n�o ter desistido de ir, pois valeu muito a pena. Valeu cada emo��o que passei, uma verdadeira montanha russa. A todo momento um golpe, seguido de outro golpe, n�o importando a dire��o que tom�ssemos. A mis�ria humana, tanto material como moral, se torna mais clara e vis�vel quando nos dispomos a abrir os olhos para tal. E lutar contra ela dentro e fora de n�s mesmos s� se efetiva quando nos dispomos a agir e n�o apenas a julgar e lamentar.