
A posi��o de especial impacto dessa ind�stria na matriz insumo-produto dos nove maiores PIBs do mundo (a nona posi��o sendo ocupada pelo Brasil) vai abrir uma temporada de reorganiza��o global para possibilitar os investimentos necess�rios com vistas a capturar a maior parte dos ga- nhos advindos da distribui��o da especializa��o tecnol�gica. Nesse grupo, o Brasil � marcado pelo descaso de ser o �nico que n�o tem uma montadora de marca nacional. Apesar de ter estruturado boa parte de sua economia na cadeia produtiva que gera multiplicadores de emprego e renda em torno da ind�stria automobil�stica. E por mais poderosas que sejam, todas as montadoras obedecem a matrizes no exterior. O que fica claro em momentos de grandes reorganiza��es.
O an�ncio de que a Ford vai parar a produ��o no Brasil era uma trag�dia evit�vel, mas anunciada. Nessa primeira metade do s�culo 21, a produ��o de autom�veis em geral est� passando por maior automa��o das f�bricas, internet das coisas, ve�culos aut�nomos, abandono do petr�leo como combust�vel, etc. A Mercedes tamb�m se foi reorganizar na Alemanha. O futuro do autom�vel tradicional como conhecemos est� com os dias contados no mundo.
A hist�ria do desenvolvimento mundial entrela�ando ind�stria automobil�stica e pa�ses hospedeiros explicou, at� aqui, por que o Brasil foi bem-sucedido sem ter estrat�gia e intelig�ncia competitiva. Tendo um povo que gosta de carro, pilotos consagrados, inventado um combust�vel pr�prio, quase todas as montadoras do mundo, percebe-se agora que foi muito menos bem-sucedido do que se tivesse governos e bancos de desenvolvimento com melhores e mais inteligentes estrat�gias de a��o. A tal armadilha de governos sem influ�ncia mundial se agrava nesses momentos em que a economia global muda e o pa�s n�o sabe, nem com quem, nem como, (re)negociar sua inser��o internacional. O Brasil n�o � s�cio, apesar de ter os predicados para ser.
Quando chegou ao pa�s no in�cio do s�culo 20, a Ford fabricava autom�veis no Sudeste para o mercado dom�stico e extra�a borracha no Norte, em redor da criada Fordl�ndia, para o mercado internacional de pneus, que se expandia junto com o crescimento da demanda por autom�veis. Num in�cio de s�culo 20 com expans�o industrial e urbaniza��o organizadas em torno de autom�veis movidos a petr�leo e borracha, a jovem rep�blica cafeeira at� que n�o estava t�o perif�rica e desorientada. Hoje, a rep�blica � infinitamente mais rica, diversificada e capaz – tendo at� se tornado autossuficiente no petr�leo, que come�a a declinar e a Petrobras n�o se d� conta e se recusa a se tornar uma universidade de energia. Mas a rep�blica parece ter perdido a no��o de que precisa balancear estrategicamente commodities com ind�stria e tecnologia verdadeiramente de ponta (aquela que agrega valor ao produto e paga sal�rios altos ao maior n�mero de trabalhadores), porque seu maior ativo � sua enorme e criativa popula��o.
Quem quiser ver esse cen�rio em dois tempos viaje de barco pelo Rio Tapaj�s, de Itaituba, no Par�, onde barca�as recebem gr�os – sobretudo soja – que chegam ali de carretas e futuramente tamb�m de trem, at� Santar�m. O destino dos gr�os � a exporta��o atrav�s do Oceano Atl�ntico. O uso das hidrovias e melhoria das demais infraestruturas de transporte � um dos aspectos fundamentais para garantir a competitividade daquilo que � produzido no Brasil e � uma das melhores conquistas dos �ltimos anos. Mas temos que prestar aten��o para que os gr�os passem por ali, mas parte da riqueza fique, para gerar mais prosperidade sustent�vel, valorizando a Amaz�nia. Afinal, como inquietante lembran�a do que n�o deveria vir a ser, as barca�as que seguem de Itaituba passam pachorrentas justamente em frente da abandonada Fordl�ndia, s�mbolo das cru�is varia��es da inser��o passiva dos pa�ses na economia internacional. Se a soja destruir a Amaz�nia, o mundo j� avisou que vai plantar em outro lugar. (Continua dia 31)
* Com Henrique Delgado