
A Uni�o Europeia (UE) busca dar mais um passo na dire��o da integra��o de suas sociedades ao definir um sal�rio m�nimo europeu. Segundo defensores da proposta, ela tem dois objetivos interligados: limitar a concorr�ncia “desleal” entre os Estados-membros, ao mesmo tempo em que garante um n�vel de vida decente aos trabalhadores europeus.
Bancada pela Fran�a, a proposta encontra dois focos de resist�ncia que bem simbolizam as dificuldades objetivas da globaliza��o dentro da UE. Por um lado, pa�ses do Leste Europeu s�o reticentes porque acreditam que uma das fontes de sua vantagem competitiva com rela��o ao resto da UE seja justamente o fato de praticarem sal�rios mais baixos. Por outro lado, pa�ses n�rdicos consideram que a UE n�o tem legitimidade para dizer a eles o que fazer em termos de regula��o do mercado de trabalho, porque eles regulam muito melhor do que a UE.
O estado de bem-estar social n�rdico, simbolizado pela Su�cia – pa�s que conta com a maior popula��o da regi�o –, � mantido por uma bem-azeitada rela��o entre sindicatos de trabalhadores, sindicatos patronais e o governo. � uma hist�ria antiga de como o choque entre capitalismo liberal e comunismo encontrou uma s�ntese propulsora de educa��o, civilidade e riqueza. No capitalismo n�rdico, o sal�rio n�o � a defini��o principal do grau de bem-estar social do individuo que n�o acumulou ou herdou capital. Al�m disso, as negocia��es, as barganhas e os acordos entre empresas privadas, sindicatos e governo s�o parte da “identidade” desses pa�ses. Por l�, a solu��o democr�tica para os conflitos foi fazer a vida das pessoas t�o melhor que elas desistiram de se revoltar.
Em outros lugares, a solu��o autorit�ria para insatisfa��o � piorar a vida das pessoas a um extremo que elas perdem a for�a e as condi��es de revolta. Geram trabalhadores comodificados e uma sociedade cuja apar�ncia de harmonia � falsa, violenta e injusta. Funciona sugando a vida das pessoas at� colapsar. Tal era o caso dos pa�ses a Leste da Cortina de Ferro.
O interessante � que pa�ses do Leste Europeu – que vieram daquele lado da Cortina de Ferro – fizeram sua op��o pelo liberalismo e pela UE ao mesmo tempo em que tra�aram sua estrat�gia de integra��o pela pr�tica de sal�rios mais baixos. A Rep�blica Tcheca tem hoje um dos n�veis mais altos de complexidade econ�mica na UE justamente porque atraiu para l� produ��o industrial de produtos complexos a serem montados por uma m�o de obra bem-educada e de baixo custo.
Apesar de aparecer bem no �ndice, a propriedade intelectual n�o � tcheca. Para ser sustent�vel, o pa�s precisa ir aprimorando sua inventividade e os retornos para sua sociedade, enquanto negocia uma rela��o ganha-ganha com os centros de poder e riqueza europeus. Dentro do contexto europeu, tchecos, h�ngaros e poloneses buscam fazer como fez o Sudeste Asi�tico na sua rela��o com os norte-americanos. Abrir a economia e aprender.
Afinal, n�o adianta, na falta de imagina��o, decidir desvalorizar a m�o de obra de seus pa�s. Porque at� quem se deu bem fazendo isso dependeu decisivamente de ter algu�m abrindo o mercado do outro lado para viabiliza��o de tal estrat�gia. N�o adianta baratear seus trabalhadores se n�o tiver garantia de mercado no exterior para a produ��o.
Entre outras, essa � justamente uma das maiores in�pcias da pol�tica de trabalho, emprego e renda em torno da Carteira Verde-Amarela e seus derivados na atual PEC 1.045, em discuss�o no Senado. S� um liberalismo sovi�tico � capaz de propor tal barbaridade. Ela desconhece a realidade global de que n�o adianta ter a oferta mais barata poss�vel de trabalho se n�o estiver negociada a demanda. Porque a �nica oferta que cria sua pr�pria demanda n�o � a do trabalhador barato, mas, sim, a do trabalhador qualificado e produtivo, que gera produtos com cada vez mais qualidade e inova��o.
Os centros de poder pol�tico da UE querem um sal�rio m�nimo europeu para harmonizar a uni�o em um meio-termo entre o c�u n�rdico e o purgat�rio do Leste Europeu. Nenhum dos extremos topa a harmoniza��o porque est�o com seus modelos funcionando e percebem que � uma jogada de for�a por parte de Paris para puxar a sardinha para o seu lado. � interessante ver tr�s grupos de pa�ses que cuidam conscientemente dos seus interesses porque sabem realmente o que tem melhores condi��es de enriquecer suas sociedades e aumentar o poder de suas democracias num mundo globalizado. Defendem modelos distintos ainda que dentro da mesma uni�o, mantendo coer�ncia com seus interesses. J� o Brasil cria programas sem p� nem cabe�a por falta de prestar aten��o em como funciona de fato o mundo.