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Estado de Minas INTERNACIONAL

Clamor pelo Sud�o

Doze milh�es de sudaneses est�o passando fome, sem moradia, sem �gua pot�vel, medicamentos, assist�ncia qualquer


23/04/2023 04:00 - atualizado 23/04/2023 08:39

Na traseira de um caminhão, moradores fogem de batalhas de rua entre as forças de dois generais sudaneses em Cartum
Na traseira de um caminh�o, moradores fogem de batalhas de rua entre as for�as de dois generais sudaneses em Cartum (foto: AFP)

Deus modera o vento para as ovelhas tosquiadas � um singelo ditado folcl�rico franc�s que n�o se aplica ao ensanguentado Sud�o. Terceiro maior pa�s da �frica e do mundo �rabe, n�o tem paz h� quase 50 anos. Popula��o de um pa�s de grandes plan�cies des�rticas, zonas montanhosas e planaltos, banhado pelo Mar Vermelho, os sudaneses s�o descendentes dos N�bios, povos b�blicos da �poca dos Fara�s.

A forte tradi��o oral, cantos e contos populares de car�ter mitol�gico, mistura mfantasias, magia e supersti��es e atravessa os tempos. Recitados com alegria e sempre com final feliz fazem parte da melhor tradi��o. Poesias celebram a beleza do lend�rio Rio Nilo, a esperan�a na terra, os mist�rios do deserto de Saara e se misturam a can��es de louvor ou zombaria, descrevendo cren�as e rixas, exprimindo a identidade, a posi��o pol�tica e a vis�o da vida e do futuro de seu povo.

Pa�s com m�ltipla influ�ncia cultural africana, �rabe, eg�pcia e inglesa era poss�vel encontrar todo m�s, na Pra�a Etinay, no centro de Cartum, a capital fundada pelo Egito h� 202 anos, centenas de amantes de livros. Reunidos em frente a livraria Sudan, aberta em 1902 pela Gr�-Bretanha, a aglomera��o compunha o p�blico de uma feira-sebo ao ar livre. Seus organizadores, orgulhosos de uma cidade que j� teve mais de 400 livrarias, se orgulham de dizer que n�o vendem livro usado, mas livro com desconto.

Quis o destino que um conjunto de maus governantes, militares ferozes, mil�cias delinquentes, religiosos fan�ticos e comerciantes sem escr�pulos, se unissem para destruir o pa�s. Conseguiram fazer do Sud�o um pa�s marcado pela pobreza, agravada por guerras constantes, crise econ�mica permanente, fome e fanatismo religioso. No meio de todo o horror primitivo, enfrenta tamb�m, como todo o mundo, o esfacelamento cultural provocado pela internet. Tudo assim, e a indiferen�a do mundo, contribu�ram para levar ao decl�nio a reputa��o liter�ria dos sudaneses, um dos mais importantes mercados culturais para escritores �rabes.

Considerado por diferentes indicadores internacionais como um dos mais pobres, violentos, de alta percep��o de corrup��o governamental e mais inst�veis pa�ses do mundo, o Sud�o volta a enfrentar conflitos armados entre as for�as do ex�rcito que controlam governo e grupos paramilitares. Segundo a ONU o n�mero de mortos j� ultrapassou o total de 300 com mais de 3 mil feridos ou desaparecidos. Os combatentes n�o aceitam o cessar-fogo que possa permitir a sa�da de civis das zonas de conflito, agravando a trag�dia humanit�ria no pa�s.

O militarismo ativo, autorit�rio e discricion�rio, legal ou de mil�cias, � uma triste tradi��o no Sud�o desde a independ�ncia. As divis�es entre generais, ora dentro, ora fora do governo, impedem que se criem as condi��es para o pa�s fazer a transi��o e funcionar como Rep�blica sob controle civil. Os combates entre as fac��es rivais, sem nenhuma considera��o pela tranquilidade da popula��o civil, s�o rotina, misturadas com limpeza �tnica, genoc�dios e viola��o da privacidade e integridade das pessoas comuns, especialmente mulheres e crian�as.

Doze milh�es de sudaneses est�o passando fome, sem moradia, sem �gua pot�vel, medicamentos, assist�ncia qualquer. A economia est� em frangalhos pela neglig�ncia do governo com a gest�o mais elementar na administra��o de um Estado. Governos e regimes se alternam atrav�s de golpe de estado. Ali�s, n�o h� nada mais relevante para a pol�tica do pa�s do que o golpe de estado e o car�ter inamistoso para opini�o divergente.

A sociedade civil sudanesa � bastante ativa, deseja a democracia e muito atenta aos movimentos pol�ticos se manifesta sempre que � provocada. Age da forma imediata e � fortemente reprimida, inclusive com massacres e mortes. A mem�ria da repress�o n�o abandona a vida do povo desde o genoc�dio de Darfur em 2003 e o massacre no acampamento de Cartum em 2019.

Contribui muito para instabilidade pol�tica a exist�ncia de quase 80 partidos pol�ticos em atividade fren�tica. L�deres militares e civis tensionam a popula��o com suas rixas por poder colocando o pa�s em regime de exce��o permanente. Da� n�o conseguirem consenso para fazer a transi��o para um governo democr�tico. O Conselho Soberano de militares e civis, instalado no pa�s desde o golpe militar de 2019, que derrubou a ditadura anterior, deveria fazer a transi��o. Como � internamente dividido e conspira contra a democracia a transi��o acabou em 2021. Os conflitos atuais s�o a sequ�ncia de golpes dentro de golpes. Liga �rabe, Uni�o Africana, ONU, Uni�o Europeia, China, EUA... quem est� disposto, de cora��o, a ajudar o Sud�o?

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