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Estado de Minas M�DIA E PODER

Escolher vacina � op��o que n�o afeta direito de ningu�m

Linchamento dos "sommeliers de vacina" � produto de sociedade debilitada emocionalmente por excesso de informa��es contradit�rias, d�cil a tiranetes e demagogos


29/07/2021 06:00 - atualizado 29/07/2021 07:50

Não há problema algum em que o cidadão escolha a vacina que julga mais adequada
N�o h� problema algum em que o cidad�o escolha a vacina que julga mais adequada (foto: Miva Filho/ SES-PE)
O Minist�rio da Sa�de leva em conta os percentuais demogr�ficos do IBGE para definir o n�mero de vacinas para cada estado. Que, por sua vez, distribui aos munic�pios segundo seu coeficiente populacional.

Minas Gerais recebe o correspondente a 10% da popula��o do Brasil e mandar� a Belo Horizonte o seu percentual, de cerca de 10% da popula��o do estado.


Se tem 7% de pessoas de 35 a 39 anos, por exemplo, cerca de 175 mil pessoas, � o que ter� de enviar de imunizantes aos postos. 

Considerando que existam 35 mil habitantes com 36 anos (um quinto dessa faixa ou 1,4% da popula��o), � a quantidade que os postos dever�o ter dispon�veis assim que abrirem as portas no dia anunciado para imunizar as pessoas dessa idade.

N�o importa se AstraZeneca, CoronaVac ou Pfizer, as tr�s sabidamente dispon�veis hoje. Ter�o que t�-las para evitar o vexame e provavelmente o caos de neg�-las por falta de doses, oriunda de um c�lculo errado.

Tendo-as, n�o importa quem esteja na fila ou se j� esteve em outras filas de outros postos. A estado ou munic�pio compete disponibilizar o quantitativo no dia marcado, checando idade e comprovante de endere�o. N�o decidir quem, de que CPF e de que prefer�ncia vai receber, em que horas e qual vacina.

Donde que n�o h� problema algum em que o cidad�o escolha a vacina que julga mais adequada. E que fa�a p�riplos por diferentes postos para encontrar uma das tr�s. Se ele consegue tomar qualquer das tr�s, estando na fila regularmente, que ilegalidade h� nisso?

N�o est� furando fila, tomando o lugar de outra pessoa, subtraindo vacinas de outros e muito menos causando qualquer preju�zo ao estado, a n�o ser a ele mesmo, em cuspe e sola de sapato no p�riplo in�til.

Tamb�m n�o est� incorrendo em falta de �tica ou de sensibilidade social, como quer fazer crer a onda condenat�ria na imprensa e nas m�dias sociais, que acabou resultando at� em lei, em alguns munic�pios, para coibir o tr�nsito.

N�o h� problema �tico ou de indiferen�a em rela��o ao outro e � coletividade se o comportamento n�o afeta o direito de ningu�m, a n�o ser o dele mesmo ao abrir m�o da vantagem de ficar livre do compromisso logo na primeira fila.

Havendo muita necessidade de julg�-lo, como parece ser uma necessidade coletiva atual, pode-se talvez acus�-lo de mal educado ou anti-social. Mas � essa � uma quest�o de etiqueta, relacionada aos usos e costumes, que a lei, os prefeitos e o julgamento coletivo n�o podem querer evitar.

Entendo que haja uma compuls�o coletiva de julgamento, por informa��es contradit�rias sobre a efic�cia ou riscos das vacinas e insuficientes sobre os preju�zos de fato para a coletividade provocados pela escolha de uma das tr�s marcas, num lote de 35 mil que d� para todos.

O problema est� mais em quem julga e cobra, menos por car�ncia do que por excesso de informa��o. Uma sociedade automatizada e infantilizada, que embarca com pressa e sem racioc�nio em apelos moralistas e transfere o poder sobre seus direitos, mesmo os de uso e costumes, para o Estado.

Uma coisa est� ligada a outra. Uma popula��o atarantada, cada vez mais sem refer�ncias na barafunda cotidiana de informa��es contradit�rias, numa montanha russa di�ria de medo e esperan�a, dor e prazer, acaba ref�m d�cil de solu��es milagrosas, linchamentos cat�rticos e de ditadores de plant�o.

Me lembra Pavlov, o cientista russo que descobriu o reflexo condicionado testando mensagens contradit�rias em cachorros. Alternava alimento e luz, at� descobrir que, depois de atarantado por informa��es contradit�rias, salivava de fome quando a luz acendia ou ouvia os passos de quem o alimentava.

Isso explica a cloroquina, a ca�a aos chamados "sommeliers de vacina" e a paiz�es como Alexandre Kalil. Sua estupenda vota��o na �ltima elei��o se deve muito � cara de papai irritado que, ao inv�s de explicar os limites e possibilidade de seus sistema de sa�de, submetia a cidade a seus caprichos apontando o dedo acusador.

— Quero dizer ao pessoal da caminhonete cabine dupla que cart�o de sa�de n�o � vacina.

Nossa submiss�o a esses tipos j� vinha de longe, numa tend�ncia bovina a aceitar que fossem nos impondo um cipoal de leis para legislar onde deveria prevalecer o bom senso: lugar na fila para idosos, cuidado em ag�ncias banc�rias, o que pode pegar na g�ndola da farm�cia, quanto furos deve ter um cinto de seguran�a, em que idade se pode ensinar sexo aos filhos.

Da�, foi f�cil saltar para os decretos de hora de voltar para casa, entrar em bar, beber, ouvir m�sica ao vivo, frequentar pra�as e est�dios.

A pandemia, com seu in�dito e avassalador poder de debilitar emocionalmente mediante tantos sinais trocados, s� agravou nossa desorienta��o e nossos instintos de depend�ncia ao Estado, a tiranetes ou a demagogos do dia, meio hipnotizados e aut�matos, quase num reflexo condicionado.

H� um certo anestesiamento geral, em que parecemos cansados de duvidar ou contestar, na sensa��o de que nada adianta, impotentes de j� mal saber o que � certo.

Temos salivado sem pensar, como o c�o de Pavlov. A cada informa��o contradit�ria sobre a efic�cia das vacinas e o efeito dos lockdowns, a cada possibilidade de julgamento, a cada vez que prefeitos dizem que a culpa � das pessoas que andam em camionete dupla ou escolhem vacinas.

� s� acender a luz, que a gente se agita.


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