
Querem apurar o que n�o lhe diz respeito em cima de um processo do Tribunal de Contas da Uni�o metido no que n�o lhe cabe: o contrato privado entre um cidad�o no exerc�cio de seus direitos e a empresa americana Alvarez & Marsal, depois de cumprida sua quarentena de juiz da opera��o que mudou o pa�s.
A tese esdr�xula � de que teria prejudicado as empresas com suas decis�es na Lava Jato, de forma premeditada, na inten��o de que um dia seria contratado pela consultoria a que suas condenadas recorreriam no futuro em quest�es de recupera��o judicial.
Na cabe�a deles, n�o foram as empresas que se quebraram ao se envolver e serem condenadas por rela��es fraudulentas com �rg�os p�blicos. E o juiz, sabendo das falcatruas, n�o deveria puni-las em nome de preservar-lhes a sa�de financeira.
N�o tem m�rito algum, salvo pol�tico, na guerra sangrenta que lhe movem lulistas e bolsonaristas, s�cios na empreitada de desmoraliz�-lo por terem sido devidamente desmoralizados por ele.
Embasados pelo grupo de advogados encastelados no grupo Prerrogativas, em grande parte defensores dos r�us condenados por ele, que nunca lhe perdoaram por acabar com seu principal meio de vida, a chicana.
Foi o grupo que patrocinou o jantar que consagrou a alian�a entre Lula e Alckmin, em que um dos seus membros proeminentes, Alberto Toron, presenteou o candidato petista com uma beca, aquela capa que d� pose de Batman aos ju�zes, e uma frase de Coringa:
— [Lula seria] o s�mbolo mais elevado da Justi�a.
Outro eminente do time, Cl�udio Mariz de Oliveira, emendou outra t�pica de Gotham City:
— Se o crime j� aconteceu, de que adianta punir? Que se puna, mas n�o se ache que a puni��o ir� combater a corrup��o.
O Prerrogativas re�ne a nata dos defensores de personalidades enroladas nos altos tribunais que consomem charutos e u�sques caros como uma extens�o da personalidade.
Seu mentor intelectual e s�mbolo mais exibido � Kakay, aquele que foi de bermuda brigando em tons com a camisa estampada ao STF e posou de beca mostrando a cueca.
Foi criado para defender as tais "prerrogativas" constitucionais que lhe deram o nome, embora tenha muitos advogados que n�o est�o em campanha aberta por Lula e nem fa�am a guerra suja contra Moro, como t�m sido as a��es barulhentas do grupo.
Que tem o apoio alegre de parte da imprensa respeit�vel atr�s do confronto com o terceiro candidato mais indicado nas pesquisas para a Presid�ncia da Rep�blica e da que, como eles, tamb�m est� na mesma campanha, a favor de um e contra o outro. Com sangue no olho.
� a mesma fac��o que n�o deu destaque ou ignorou o manifesto de mais de mil advogados, esses sim prerrogativos em defesa do juramento que fizeram na formatura, contra as manifesta��es coringueiras de Toron e Mariz:
— A advocacia brasileira n�o glamouriza o crime, o criminoso, a injusti�a, a impunidade e a corrup��o.
Juntos e combinados, os tr�s blocos e a imprensa que lhes sustenta d�o vida e continuidade �s a��es escandalosas de um quarto, o STF, que — Gilmar Mendes � frente — anulou todas as condena��es do ex-juiz e decidiu por sua suspei��o com base em mensagens hackeadas que n�o constavam dos autos.
� uma conflu�ncia pavorosa de interesses para desmontar um s�mbolo nacional, numa campanha de desmoraliza��o nunca vista na hist�ria deste pa�s. N�o s� pelo tamanho e volume dos ataques que mobiliza, mas pela desfa�atez com que defende o lado errado, mal se dando conta — ou dando conta demais — da vexat�ria invers�o de valores que promove.
Desmontar e evitar que ganhe corpo numa campanha de candidato a presid�ncia da Rep�blica que pode azedar a pizza de seus candidatos e, na hip�tese ainda que remota de ser eleito, mudar o jogo de poder que hoje os sustenta.
Sergio Moro estaria tranquilo com seu emprego em d�lares nos Estados Unidos, se vingando do pa�s miser�vel que o tornou criminoso e em her�is seus condenados. Mas cometeu a imprud�ncia de ser candidato e ressuscitar as for�as adormecidas contra ele.
Pior do que isso, mais amea�ador, tomar logo de cara o terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, como principal amea�a aos dois primeiros colocados, maiores prejudicados por suas a��es passadas e futuras, n�o por acaso os dois cabos da guerra que lhe travam.
Como j� escrevi nesse artigo, mesmo que n�o seja eleito, tem alto potencial de estrago nas campanhas de ambos ou de ser, no m�nimo, desconfort�vel a Lula, na medida em que encarna tudo o que se pode pensar de ruim sobre o petista.
Basta sua presen�a em cena para rememorar aos de boa f�, n�o contaminados totalmente pela campanha insana contra ele, o cen�rio de inquiri��o em Curitiba, onde o grande l�der de massas exaltado em verso e prosa foi reduzido � sua verdadeira estatura.
Pena que Sergio Moro ainda n�o tenha talento, jogo de cintura e a malandragem para enfrentar essa guerra com os instrumentos certos, de que o serpent�rio de Bras�lia � mestre. Nesse outro artigo, quando engatinhava como estagi�rio em pol�tica, escrevi que deveria sair candidato a senador.
Anda preocupado, por exemplo, se deve ou n�o dar-lhes o que pedem, o valor de seus rendimentos na empresa, ou explicar que n�o atuava em casos de empresas julgadas por ele. Sem perceber que n�o � nisso que est�o interessados.
Manejam ferramentas de desmoraliza��o que devem ser respondidas com as mesmas armas dos manuais de guerra pol�tica: bater de volta e atac�-los pelos flancos, por suas vulnerabilidades. Pol�ticos espertos fazem o advers�rio ver que o ataque pode ser mau neg�cio.
Ele s� vai sair dessa e ter algum al�vio se fizer saber que a CPI, caso vingue, pode retirar do arm�rio esqueletos da Lava Jato que n�o interessam a seus signat�rios, � trupe de advogados e aos ministros de tribunal que os ap�iam. Como, por exemplo, algum eventual tr�fico de influ�ncia que pode haver entre eles, seus parentes e os grandes escrit�rios de advocacia brasiliense.
E dar nome, endere�o e CPF aos bois. Muito do limbo de Sergio Moro se deve � sua omiss�o diante da primeira bateria de pancadas. Aguentou calado a campanha s�rdida de memes emanada do gabinete anexo ao de Jair Bolsonaro, que lhe agregou a fama injusta de "traidor" � que j� tinha de "suspeito" pelos lulopetistas.
Quando passou a falar, o fez do jeito protocolar de juiz em senten�a: "Salvo melhor ju�zo, o ex-presidente deve explica��es…" S� muito recentemente passou a usar linguagem de candidato e a devolver o insulto com a compet�ncia dos bem sucedidos em pol�tica.
— Canalha � voc� — devolveu a Lula, no que � marco de sua virada ret�rica.
Ainda precisa aprender a atacar por iniciativa pr�pria, como ensinam os mestres dessa arte, e colocar bodes na sala dos outros ao inv�s de perder tempo tirando os que lhe colocam na sua sala. Aprender com Lula, ajeitar bem o alvo e atacar antes.
Ou com, v� l�, Bolsonaro. A maior parte do sucesso da campanha vitoriosa de 2018 esteve em escolher o alvo certo — o �dio ao PT — e colocar os ataques na mesa antes de esperar oportunidade.
Seu alvo ideal hoje talvez seja o mesmo do capit�o, o establishment que resiste com as mesmas cren�as, os mesmos interesses, os mesmos m�todos e a mesma resist�ncia a perder seu status. No Congresso, no STF, nos escrit�rios de Bras�lia, em boa parte da imprensa.
Parte do arsenal de acusa��es que lhe movem, nesses cinco blocos de poder, � o de que seria uma continua��o de Bolsonaro. Com a mesma plateia de extrema direita e o que chamam sem fundamento de as mesmas tenta��es ditatoriais.
Poderia, com base em outra li��o dos manuais de guerrilha eleitoral, assumir o defeito como virtude. Como faz Ciro Gomes agora, ao transformar sua agressividade num ativo: "a rebeldia da esperan�a".
Tome a ideia de ser Bolsonaro como seu ativo de enfrentar o establishment como o capit�o prometeu em 2018. Se dizem que ser� um novo Bolsonaro, admita que pode ser no que foi a inten��o original na campanha que galvanizou o pa�s: colocar os pol�ticos, os ministros do Supremo e seus advogados nos seus devidos lugares.
Assumir enfim que pode ser o Bolsonaro que vai dar certo, que tem curr�culo, experi�ncia e valores totalmente diferentes. Tem autoridade para fazer o que ele prometeu, acabar o que ele mal come�ou.
Pode se surpreender. A popula��o detesta esses grupos. Falar mal do Congresso, do STF e da imprensa sempre d� �timos resultados.