
Temos nos habituado a decretar a morte de Jair Bolsonaro, a cada uma de suas trapalhadas, que fortalecem nossa convic��o de que nunca deveria ter passado de s�ndico de pr�dio. Com restri��es.
Ou:
- a cada vez que os �ndices da economia pioram;
- Lula faz movimentos de realpolitik para armar uma frente de centro-direita-e-esquerda; e
- os candidatos da terceira via d�o sinais de que seria melhor que tivessem sa�do candidatos a s�ndicos de seus respectivos pr�dios.
� dif�cil imaginar que a maior parte de seus eleitores decepcionados, determinantes em sua campanha, sejam re-convertidos para dar-lhe uma segunda chance de colocar o pa�s em mais quatro anos de tens�o, mesmo que a �nica alternativa seja Lula.
Contra todas as evid�ncias, por�m, ele est� mais firme que nunca. Aquele moribundo em torno de quem h� uma multid�o de gente rezando para que se levante e conjunturas ambientais favor�veis para que volte a respirar sem ajuda de aparelhos.
A saber:
1) Apesar de todos os seus descalabros e da pandemia que lhe comeu dois anos de governo, resistiu e mant�m fi�is 25% do eleitorado.
2) A economia d� sinais de recupera��o, d�lar em baixa, bolsa e emprego em alta.
3) O Auxilio Brasil de R$ 400,00 lhe dar� um empurr�o como deu no meio do primeiro ano da pandemia, entre junho e julho, quando o mundo desabava.
4) Est� muito mais estruturado nas redes sociais que todos os outros candidatos, chegando ao dobro ou triplo de seguidores, intera��es e capacidade de tumulto em rela��o a seu polo, Lula, dependendo da plataforma.
5) Vai fazer uma campanha de TV exuberante, com as obras do competente ministro da Infraestrutura Tarc�sio de Freitas, como Dilma Rousseff fez na campanha de 2014 e derrubou sua ent�o alta rejei��o. Tem dinheiro e tempo de TV.
6) Pesquisas mais recentes indicam uma congelada no crescimento de Lula, com algum recuo, e na queda de Bolsonaro, com algum avan�o.
7) Ter� candidatos competitivos ao Senado e a governos estaduais importantes. �ltimas pesquisas do Ibespe em S�o Paulo e do F5 Atualiza Dados em Minas indicaram como a vida de Lula poder� n�o ser f�cil em estados estrat�gicos: diferen�a de apenas 8% nas estimuladas e empate t�cnico nas espont�neas.
A essa altura, faz tudo certo para manter esse patrim�nio: fala menos bobagens, articula as candidaturas de seus ministros e planta memes como o de que salvou a Ucr�nia.
Que o mant�m em evid�ncia e ati�a os instintos mais primitivos que fazem sua marca, a favor e contra, com a ajuda inestim�vel de seus cr�ticos, seus ex-eleitores e da grande imprensa, que manipula com rara compet�ncia.
Ao mesmo tempo, planeja o dia seguinte a uma derrota, como tamb�m uma forma de campanha, pr�via e posterior. Serve para assustar o establishment agora e ressuscitar-se no dia seguinte, quando denunciar que foi fraudado.
N�o para "capitolizar" a derrota � moda Trump e derrubar o regime, como se prega, mas para ter uma boa desculpa de derrotado para manter o patrim�nio eleitoral sob controle.
Como Lula, que vendeu com muita compet�ncia a embroma��o de que teria vencido as elei��es de 2018 se n�o tivessem lhe proibido de disput�-las, quando se sabe que estava ineleg�vel ap�s duas condena��es de segunda inst�ncia.
Bolsonaro repete a velha direita que amedrontava o eleitorado com o esquerdismo de Lula. N�o podendo dizer agora que o esquerdista de centro vai implantar o comunismo e nem garantir que roubar� ou deixar� roubar, se eleito, ataca o sistema eleitoral.
O que tamb�m faz o maior sucesso entre seus seguidores, diga-se.
Mesmo depois de ter feito um pacto de n�o agress�o, falar mal de Alexandre de Moraes, Lu�s Roberto Barroso e Edson Fachin, � frente do TSE hoje e amanh�, tem sido suas estrat�gias preferidas para animar a base militante.
Sempre que pode, os acusa de terem soltado seu advers�rio, no tipo de bravata seletiva de quem sabe em quem bater. Fosse mais honesto, incluiria no pacote Gilmar Mendes, o grande mentor da desmoraliza��o de Sergio Moro e da anula��o da Lava Jato e de todos os processos do petista.
Mas Gilmar, como se sabe, � um ministro que se deve ter por perto e com quem se deve tomar um caf� de vez em quando, n�o fossem apenas por afinidade e interesses em comum contra o ex juiz. Vai que possa precisar tamb�m de ser solto…
De forma que, somando tudo, o moribundo tem um passado ruim meio superado, um presente cheio de carpideiras lhe injetando �nimo e um futuro de espantalho chutando a tumba se insistirem em sepult�-lo vivo.
N�o o subestimem. Mesmo — e se — derrotado, pairar� como uma assombra��o sobre as pr�ximas elei��es. Como Trump nos EUA, tamb�m equivocadamente tratado como defunto antes da hora.
Moribundo, espantalho ou assombra��o, em pol�tica, n�o � algo que orna com a ideia de morto.
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