Para surpresa zero de quem o conhece e muita da maioria que apostava num novo Lula Paz e Amor para ampliar seus apoios na centro direita, Lula passou a chutar o pau da barraca nos �ltimos dias.
Em pelo menos cinco epis�dios que o Lula cauteloso da pr� campanha desaconselharia, partiu para o velho modelo de ataque consagrado no modo petista de assustar a classe m�dia e a maioria conservadora que, em princ�pio, andava preocupado em cativar.
1- Defendeu a legaliza��o do aborto,
2- atacou o modo de vida da classe m�dia,
3- chamou a elite brasileira de escravagista,
4- insuflou a milit�ncia a cercar casas e familiares de parlamentares,
5- condenou o boicote internacional � R�ssia: "� uma bomba at�mica".
- Leia: E a�, Reinaldo Azevedo? E agora, Miriam Leit�o? Lula � mesmo democrata?
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Misturou o modo Marilena Chau� de �dio � classe m�dia com o sindicalista de porta de f�brica que imprecava contra a zelite e o l�der capaz de subestimar a intelig�ncia da plateia como nenhum outro, esquecido de suas afinidades com as elites que ataca.
Num primeiro momento, achei que, como todo ser humano pressionado e desconfort�vel por ostentar por 24 horas di�rias um personagem em que n�o acredita, ele tinha enchido o saco.
Ou que, irritado com press�es internas a cada dia mais insuport�veis dentro do pr�prio partido, pudesse estar querendo minar os acordos que fez e at� mesmo o modelo de candidatura que as circunst�ncias lhe impuseram. Ou a pr�pria candidatura.
Depois de achar estranho que esteja adiando ao limite a confirma��o dela, tomei como enigm�tica a �ltima abordagem sobre a alian�a com Geraldo Alckmin, seu carimbo de boa vontade com a centro direita.
Foi a primeira vez que n�o a colocou como certeza. Disse em entrevista que vai levar o nome do ex tucano � aprova��o do PT. Que pode ser tomado como uma formalidade gentil, mas fora do padr�o para quem n�o tinha tido esse cuidado at� ent�o.
At� que me dei conta de que ele pode estar vendo valor eleitoral na radicaliza��o, preocupado com os n�meros nas pesquisas, a figura indefinida e o conselho de velhos amigos.
Suas indica��es de voto nas �ltimas sondagens empacaram e at� ca�ram um pouco, embora ainda superiores, mas com sinais nada desprez�veis de que possam chegar a um empate t�cnico com Bolsonaro, nas pr�ximas semanas.
Precisa reverter o quadro e perseguir o objetivo sonhado a certa altura de liquidar a fatura no primeiro turno, de modo a evitar um segundo turno sangrento e imprevis�vel.
Em decorr�ncia disso, pode ter interpretado que a figura indefinida que arquitetou ou lhe arquitetaram n�o � um ativo eleitoral valioso num eleitorado que continua procurando um candidato antissistema, como Bolsonaro se anunciou e continua se anunciando, sem s�-lo.
Al�m de ativo ruim, pode estar lhe custando votos em suas hostes e � preciso assegurar esse apoio como ponto de partida. Tamb�m como Bolsonaro vem fazendo e crescendo, apostando no discurso radical para a milit�ncia idem.
- Veja: Lula � ser humano melhor, mas tem tr�s personalidades inconcili�veis
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Pode estar, nesse sentido, atacado pela s�ndrome que o empurrou para a rua ao final da campanha eleitoral de 2014, quando a milit�ncia petista fazia corpo mole (ele inclusive) por Dilma Rousseff e havia um clima favor�vel crescente ao advers�rio A�cio Neves.
Peguem v�deos da �poca para conferir um Lula transtornado, descabelado, quase irreconhec�vel, atacando o tucano abaixo da linha da cintura com insinua��es a bebidas e drogas, numa s�rie de com�cios r�pidos pelo pa�s. (N�o me esque�o da amiga lulista de carteirinha: "esse Lula n�o me representa".)
Nessa linha, o racioc�nio �: garanta a base que voc� tem, porque, se voc� estiver na frente, puxa o resto dos indecisos, na velha e nunca superada atra��o afrodis�aca despertada pelo poder.
E, uma �ltima hip�tese, � que esteja dando ouvidos a velhos e s�bios companheiros como o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de imprensa, mentor e amigo de copo, incomodados com o jeito manso adotado at� aqui.
Num artigo pungente que rodou at� em grupos de WhatsApp, ele implora pelo velho Lula que mobilizava mentes e cora��es, que fazia a hora e n�o esperava acontecer.
— Sai logo pra rua, nego velho, ali � o teu lugar. Volta pra de onde voc� veio, pega o pe�o a unha, como fazia o Lula da Vila Euclides para enfrentar a ditadura. O dia 2 de outubro j� est� chegando....
Como Lula ainda n�o errou estrategicamente desde que ganhou a primeira elei��o para presidente e j� deixou o status de humano que n�o se cansa dos personagens que interpreta, conv�m prestar aten��o.