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Estado de Minas RAMIRO BATISTA

Doria � o melhor substituto de Bolsonaro que a direita pode desejar

Candidato tem as melhores condi��es para atrair os 40% de iludidos e desiludidos do bolsonarismo com as mesmas ideias, instinto de marketing e discurso anti-PT


05/04/2022 06:00 - atualizado 05/04/2022 11:23

Doria levanta uma bandeira do Brasil
Doria tem, nesse aspecto, o grande defeito/virtude da obsess�o pelas mesmas ideias e o mesmo objetivo (foto: Governo do Estado de S�o Paulo/Divulga��o)
A direita vem crescendo a olhos vistos desde os primeiros movimentos de rua sem PT em 2013, que influenciaram o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a elei��o de Jair Bolsonaro em 2018. Mas tamb�m em termos eleitorais.

Artigo dos cientistas pol�ticos Vin�cius Silva Alves e Antonio Lavareda na Folha de S. Paulo, a partir do livro deste com Helcimara Telles, mostra como cresce desde as elei��es municipais de 2012 e influencia as seguintes, para governadores e presidente da Rep�blica.

Nessa altura, com base no seu desempenho majorit�rio nas municipais de 2020, apontam que ser� fator determinante da elei��o de 2022, com o qual centro e esquerda devem se preocupar. 

Para al�m disso, defendo que a parte dela que n�o quer Lula e n�o perdoa Bolsonaro (40%, segundo as pesquisas) busca um substituto para o populista de extrema direita que alimentou como nenhum outro candidato suas expectativas em 2018.  

E n�o vejo na pra�a nenhum candidato com melhor figurino para suprir essa demanda, arrastar os desiludidos e mais os 30% de iludidos com Bolsonaro nas pesquisas, do que Jo�o Doria.

Contra a unanimidade dos respeitados analistas nacionais, devo ser o �nico que acha que ele n�o est� morto e nem que o picadeiro armado por ele para se desincompatibilizar ao governo de S�o Paulo tenha sido coisa de amador.

Ele transformou um evento que passaria por burocr�tico no maior acontecimento pol�tico da temporada e atraiu uma repercuss�o nacional que ainda n�o havia tido. 

No padr�o Doria de cinismo e falta de escr�pulos que tem feito toda a diferen�a em sua carreira e, como j� escrevi mais de uma vez, � determinante em pol�tica nos pol�ticos vitoriosos, em especial nos nossos tr�picos.

� maneira de Nelson Rodrigues, repito: "Muitas vezes � a falta de car�ter que define uma partida. N�o se faz literatura, pol�tica e futebol com bons sentimentos."

Somada � sorte da morte da candidatura de Sergio Moro (virt� e fortuna, valor e sorte segundo Maquiavel, lembrem-se), deve ganhar mais alguma aten��o nas pr�ximas rodadas de pesquisas. 

Solto para criar fatos, sua especialidade e sua voca��o marqueteira militante, deve chegar em junho, nas v�speras das conven��es partid�rias, muito melhor do que desejam seus concorrentes e advers�rios na terceira via.

Acresce que n�o � um aventureiro solto, sem partido, sem experi�ncia e sem projeto. Pelo contr�rio, tem um partido s�lido com capilaridade, experi�ncia comprovada de bom administrador no mais influente estado da federa��o e um discurso que supre o que a maioria do eleitorado anda procurando.

Ele � a melhor c�pia do Jair Bolsonaro que a direita poderia desejar para repetir 2018, sem os erros e os disparates colossais dele. 

Tem as mesmas ideias liberais econ�micas, a mesma intui��o para defender valores tradicionais — fam�lia, tradi��o, propriedade — que n�o necessariamente exerce e, sobretudo, o discurso virulento contra o PT que ajudou a definir o jogo e dever� continuar influente em outubro pr�ximo. 

Como a larga vantagem de que n�o errou como ele na pandemia, pelo contr�rio, n�o se aprofunda em temas pol�micos que s� desgastam (armas, aborto, identidade de g�nero), n�o ataca institui��es e n�o sofre acusa��es de corrup��o, rachadinhas e distribui��o irregular de verbas p�blicas.

N�o duvido que tenha as mesmas voca��es para os erros, como sinaliza a falta de limites para triturar aliados, advers�rios e formalidades civilizat�rias, nas ocasi�es em que suas ambi��es foram testadas. Minha impress�o � de que n�o teve ainda tempo e oportunidade de comet�-los.

Cara de um e focinho do outro no essencial, nas possibilidades e na coragem para erros e acertos, como nenhum dos outros candidatos mais vi�veis da terceira via. Mais afinado com o jeito de ser Bolsonaro do que os companheiros de partido em Bras�lia que, n�o por acaso, se acumpliciam com o governo.

Nas condi��es atuais, n�o acredito nos bons modos dos dois representantes da terceira via mais cogitados depois da sa�da de Sergio Moro: Simone Tebet do MDB e seu concorrente Eduardo Leite dentro do partido, no caso de conseguirem dissuadi-lo a desistir por falta de voto

N�o ser� ainda uma elei��o para senhores e senhoras elegantes, de discurso politicamente correto e pudores de chutar canela. Os bons sentimentos, de que falava Nelson Rodrigues. Que Doria n�o tem.

Pode ser que, a certa altura, cres�am em cima de uma demanda nacional, tamb�m leg�tima, de concilia��o e paz social. Mas at� onde a minha vista alcan�a, a proje��o p�blica passa hoje pelo modo Bolsonaro de polariza��o agressiva e cont�nua nas redes sociais, com que Doria tem mais afinidades.

(Beto Altheholfen, um dos g�nios do marketing digital que fez da Empiricus a maior empresa de orienta��o financeira do pa�s, v� a internet com um caldeir�o de apelos como aquela esquina do centro da cidade cheia de ambulantes, distribuidores de panfletos e pain�is humanos anunciando compra de ouro. Para ser percebido nesse meio, ï¿½ preciso sair pelado e gritando.)

O mais pr�ximo disso � Ciro Gomes, tamb�m com experi�ncia, partido mais ou menos capilarizado (sem a dimens�o do PSDB) e a virul�ncia anti-petista ampliada por tamb�m certa falta de escr�pulos, aprendida com seu marqueteiro Jo�o Santana.

Pesa contra ele, por�m, o vi�s de esquerda que n�o est� bem na moda e j� tem dono (Lula, que n�o agregou Geraldo Alckmin � toa) e uma personalidade d�bia, que passa por contradit�ria. Apesar da l�gica interna de suas ideias, por turrice e algum tipo de vaidade, n�o se alia a nenhuma corrente majorit�ria, seja de ideias ou de pessoas. 

Comprou uma briga desnecess�ria que n�o era sua com Sergio Moro e seus eleitores, entre os quais angariava alguma simpatia, afinidade e consist�ncia para uma hip�tese alternativa. � sintom�tico que esteja isolado das conversas e acordos da terceira via.

(Falta de lado e clareza � outra debilidade altamente pun�vel no novo mundo das redes sociais, sobretudo nas de pol�tica.)

Doria tem, nesse aspecto, o grande defeito/virtude da obsess�o pelas mesmas ideias e o mesmo objetivo. N�o vacila desde que se meteu a candidato a prefeito, em 2016, com pretens�es de chegar ao governo de S�o Paulo e � Presid�ncia da Rep�blica.

� meio cego para os obst�culos, � maneira dos son�mbulos na frase de Hitler: "Sigo o meu caminho com a precis�o e a seguran�a de um son�mbulo.” Leia meu artigo: Orat�ria e mente de messias explica poder hipn�tico de Hitler

Muito Bolsonaro, n�o? 

Preparado, estruturado, financiado pelas burras pr�prias e do PSDB, marketeiro instintivo de objetivo claro e obcecado pelas ideias adequadas a seu p�blico, sem medo algum de parecer de direita, tem onde crescer e crescer mais assim que come�ar a crescer.

� o efeito espiral, que torna os vencedores altamente atrativos desde Maquiavel e atrair� at� os ex-aliados mais resistentes, mesmo os hoje interessados em inviabiliz�-lo, como a turma de A�cio Neves e Eduardo Leite.

Se chegar bem em junho, ter� mais cacife que todos os outros candidatos da terceira via para se apresentar como o Bolsonaro ideal, o que deu certo, para afastar o Bolsonaro queimado, de grandes dificuldades para enfrentar Lula. 

Estar� mais preparado que os outros para liderar a disputa pelo patamar inicial de 40% dos eleitores que n�o querem o capit�o ou o petista. A� � com ele e as oportunidades de proje��o que vir�o, como a mais determinante delas, as entrevistas de 10 minutos do Jornal Nacional em agosto.

Se chegar l�, seu �nico advers�rio de peso e orat�ria para substituir Bolsonaro ser� Ciro Gomes. Que n�o ter� dificuldade de adaptar o discurso mais � direita, se entender que conv�m. Mas Doria continuar� com a vantagem de ter mais a cara da maioria, mais interessada, ao que tudo indica, na direita raiz.

S� teria contra seus intentos, em princ�pio, a fama merecida de antip�tico e superficial, do tipo que conversa discursando e d� coletiva como mestre de cerim�nias, de nariz e alguns degraus acima da plateia.

Ainda assim, conv�m n�o se esquecer que sua falsidade de manequim de loja, �nico dado que o diferencia da aparente autenticidade de Bolsonaro, nunca o atrapalhou no seu sucesso empresarial e nas duas grandes elei��es que disputou. 

E, convenhamos, se simpatia fosse quesito indispens�vel, Dilma e o capit�o que tenta substituir n�o teriam sido eleitos.

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