(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas RAMIRO BATISTA

Por que Putin, Zelensky e Lula n�o podem recuar na n�voa de suas guerras

Petista entrou numa guerra que n�o queria e, diante do avan�o do inimigo nas pesquisas, prepara uma frente para uma derrota honrosa se for o caso


15/03/2022 06:00 - atualizado 17/03/2022 07:01

O ex-presidente Lula
Como McNamara, claro que ele sabe que o mundo � dos que ganham, mesmo na derrota (foto: Tomas CUESTA / AFP)
Robert McNamara, secret�rio de Defesa de John Kennedy e do sucessor Lyndon Johnson, participou da fase inicial do fiasco da participa��o americana na guerra da Vietn� e do sucesso da rendi��o do Jap�o que p�s fim � Segunda Guerra.

Foi determinante no planejamento que matou 101 mil japoneses em apenas uma noite de mar�o de 1945 e destruiu entre 30% e 60% das maiores cidades japonesas, a come�ar de T�kio.

Das duas experi�ncias, acrescidas de mais de duas d�cadas como presidente da Ford e do Banco Mundial, retirou 11 li��es sobre a arte da pol�tica e da guerra que est� no document�rio Na N�voa da Guerra, Oscar de 2003. 

Nada muito novo para quem leu Maquiavel e Sun Tzu, mas consolidado com casos reais que vivenciou como protagonista de tr�s momentos em que o mundo esteve � beira da hecatombe final. Al�m da Segunda Guerra e do Vietn�, a invas�o da ba�a dos Porcos.

Neste, em que a Uni�o Sovi�tica planejava plantar na costa cubana uma base de m�sseis apontados para Miami, aprendeu que � preciso ter empatia pelo inimigo ("conhe�a o teu inimigo"). Saber que no �ntimo Nikita Krushev n�o desejava a guerra conteve os assessores mais exaltados de Kennedy que o pressionavam por dizimar a ilha caribenha.

A ideia de que � preciso o mal para fazer o bem ("o mal de uma vez s� e o bem aos poucos", diria Maquiavel) permeia o realismo de seu balan�o de vida, cuja cereja do bolo � a ideia, velha como a guerra, de que o mundo � dos vitoriosos.

Depois de falar sobre as duas bombas at�micas que tiraram do mapa Hiroshima e Nagasaki ("o mal de uma vez s�"), pontifica:

— Se tiv�ssemos perdido, ser�amos julgados por crime de guerra.

Donde que n�o tenho nenhuma d�vida de que Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky n�o t�m volta. Chegaram �quele ponto em que desistir ou ceder totalmente �s condi��es do outro seria entendido como trai��o �s popula��es que mobilizaram.

E esta, como sabe qualquer vereador de grot�o, � mais desonrosa e fatal que a morte f�sica de joelhos em pra�a p�blica.

J� a vit�ria evita a cadeia e conserta todas as feridas. Putin continua nessa porque viveu as patranhas do poder o suficiente para saber tamb�m que, depois do triunfo, perdas e erros se diluem nas justificativas em que se empenham aliados e advers�rios.

Os bancos, a Coca-Cola, o Mc Donalds, a Netflix, os cart�es de cr�dito e todos os que o boicotaram reabrem as portas, porque a vida continua. Ok, a geopol�tica e os direitos humanos, mas n�o vamos rasgar dinheiro, certo? Presidentes assinam tratados com promessas de corre��o de rumos e socorro �s v�timas.

Putin e Zelensky tiveram seus motivos para fazer o mal em nome de suas concep��es de bem: destruir um pa�s para proteger suas fronteiras, no caso do primeiro; expor sua popula��o para defender seu solo, no do segundo. 

Zelensky merece todas as atenuantes, porque entrou para se defender numa guerra desnecess�ria provocada por um demente, tomado por del�rios de emancipa��o do tempo do imp�rio romano com armas do s�cuo XXI.

E precisam ambos de uma vit�ria ou uma derrota honrosa. Que � o outro nome de voltar para casa com o pr�prio rabo entre as pernas com uma boa justificativa para terem empenhado o rabo de suas popula��es.

A ideia de que a R�ssia j� perdeu a guerra � pertinente, mas s� vai at� o ponto em que Zelensky n�o perca tudo. Se for deposto ou morto, seu hero�smo ser� esquecido ou at� amaldi�oado com o tempo.

� papel dos diplomatas, essa ra�a que pensa dez vezes antes de dizer nada, descobrir com que tipo de trof�u de consola��o cada lado pode salvar seus curr�culos, se � poss�vel ainda falar de algum ganho ou perda m�nima nessa trag�dia toda.

E o que Lula tem a ver com isso?

Me ocorreu que, embora sabidamente seu partido e seus aliados mais radicais estejam mais para Putin e sua cruzada anti ocidental, ele est� mais para Zelensky. No sentido de que entrou numa guerra que n�o pediu e, tendo entrado, n�o tem como recuar.


J� escrevi que Gilmar Mendes lhe deu um presente de grego ao liderar a anula��o de seus processos na Lava Jato e jog�-lo numa disputa em que tem pouco a ganhar e muito a perder. 

Vai ressuscitar tudo o que gostaria de ser esquecido numa campanha sangrenta e, se vencer, enfrentar um pa�s ingovern�vel com mais chances de ferrar que melhorar seu curr�culo.

Minha tese � a de que Gilmar deveria ter deixado pelo menos uma condena��o de segunda inst�ncia em aberto, que lhe tiraria da disputa e lhe daria a desculpa, at� a morte, de que n�o salvou o pa�s porque n�o deixaram. Como preso, deu em 2018.

Nas �ltimas semanas, como Zelensky, ele viu o inimigo avan�ar. As �ltimas pesquisas indicam um crescimento de Bolsonaro, na propor��o de uma queda ligeira em suas pr�prias indica��es, sinalizando um empate t�cnico a caminho.

Manter Bolsonaro em ligeiro crescimento, otimista com as pesquisas, estava nos seus planos de guerra, de forma a mant�-lo na disputa e conter o avan�o de algum invasor da terceira via que lhe seria mais desconfort�vel. 

Nunca houve d�vida mais s�ria de que venceria Bolsonaro no segundo turno. Mas por via das d�vidas, com seu radar intercontinental, adiou o quanto p�de o lan�amento de sua candidatura para considerar a hip�tese n�o desprez�vel de mandar outro para o cadafalso (Haddad, claro), se o cen�rio piorasse.

No c�lculo, n�o considerou por�m os tantos compromissos que engendraria, as tantas correntes de ades�o que arrastaria e mesmo as condi��es favor�veis que construiria, tanto para uma vit�ria quanto para uma derrota honrosa, se for o caso.

Ele desarmou o plebiscito que se armava contra ele, isolado na esquerda, e criou outro contra Bolsonaro ao aglutinar as for�as de todos os naipes, da extrema esquerda � extrema direita, numa frente a que d� o nome de democr�tica.

Com isso, terceiriza a derrota ou a transforma numa vit�ria moral. Ao inv�s de ir para a aposentadoria feliz dizendo que n�o salvou o pa�s por que o STF n�o deixou (caso Gilmar lhe tivesse sido mais generoso e o impedisse de se candidatar), poder� dizer que quem perdeu foi a frente. E o pa�s, que n�o a entendeu. 

Como McNamara, claro que ele sabe que o mundo � dos que ganham, mesmo na derrota. 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)