
� o motivo pelo qual sofremos de ansiedade, ang�stia ou inibi��o. O sintoma e o mal-estar que estabelecemos apontam para o que precisa ser escutado e � o que nos faz buscar ajuda. Escutar aquilo que est� inconsciente e que poder� ser traduzido atrav�s das palavras usadas pelo paciente � o melhor a se fazer. Traduzir, sem agregar ideias ou concep��es e manter-se absolutamente fiel ao que vem do sujeito � o que faz o analista.
Fato � que, nestes casos, o sujeito est� fora de seu eixo, desconhece seu desejo e anda em trilhos alheios, que n�o lhe trazem satisfa��o no viver. O caminho de uma an�lise � um percurso no qual o sujeito vai se despojar das imagens narcisistas de seu eu (idea��o que tem de si mesmo), imagens que o cativam e enganam. Dizendo de outro modo, ser� necess�ria a queda das identifica��es que s�o assumidas a partir de modelos que v�m do outro familiar e que o sujeito toma como seus.
Este processo nos leva invariavelmente � quest�o seguinte: se caem as identifica��es e as imagens narc�sicas que o sujeito tem de si mesmo, o que restar�? O que surgir� deste processo? Um outro homem? Uma pessoa que perdeu todas as refer�ncias?
Resta uma pessoa que pode dizer n�o. Despojado das identifica��es que o alienam nos moldes do outro, ainda ser� determinado pela hist�ria vivida, por marcas do outro que o forjaram. Inscri��es que n�o se podem apagar. Algu�m que poder� se guiar por seu pr�prio desejo e fazer as escolhas de seus pr�prios objetos.
Jamais poder� perder as marcas iniciais que vieram da voz, do olhar e do afeto, que fizeram inscri��o em seu corpo, tornando humano aquele que nasceu virgem. E que, embora mergulhado na cultura, na linguagem da cultura que espera dele uma adequa��o, ainda assim, poder� imprimir sua marca singular.
Quando era crian�a, eu jogava resta um. Era um tabuleiro com furinhos e, pulando um, este era retirado e assim faz�amos os cruzamentos com objetivo de sobrar apenas um.
Tenho a impress�o que uma an�lise � mais ou menos assim. � medida que o paciente vai falando em cada sess�o, v�o caindo os conte�dos sustentados pelo imagin�rio, v�o caindo as emp�fias do ego de se ofender com todo sinal do outro que n�o corresponda ao esperado.
Tamb�m v�o caindo impulsos de atender demais o que se espera dele. E v�o caindo tantas amarras, que a alegria tem lugar neste pouco de liberdade alcan�ada.
A liberdade de se sentir sujeito de seu desejo, de deixar de responder ao que n�o � preciso, de silenciar quando necess�rio, de se autorizar por si mesmo sem esperar aprova��o nem b�n��o. Desejo �nico, sujeito �nico: resta um. Nenhum outro pode desejar igual. S� um.
Assumir a orfandade. Estar s�, ou consigo, sem cair na queixa de ser um coitado solit�rio. Porque quem est� consigo nunca estar� sozinho, ao contr�rio, estar� muito bem acompanhado. Desde que seja fiel a seu desejo, a si mesmo. Este viver� mais contente.