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Estado de Minas Em dia com a psican�lise

Precisamos de outras linguagens, outras palavras a serem escutadas

� urgente o alargamento dos nossos horizontes para outras formas de pensar poss�veis em tempos de grandes amea�as democr�ticas no pa�s


31/07/2022 04:00 - atualizado 30/07/2022 12:51

Ilustração da coluna em dia com a psicanálise
Outras palavras, a escolha do tema da Revista da Academia Mineira de Letras n�o poderia ser mais assertivo

No s�bado, 23 de julho, tive a alegria de participar, na Biblioteca P�blica de Ouro Preto, do lan�amento do n�mero 81 da Revista da Academia Mineira de Letras. Uma publica��o anual desde 1922, quando o poeta Mario de Lima era o presidente. Este n�mero celebra 100 anos da revista e � bem-vindo pelo tema atual�ssimo e de grande relev�ncia para nosso tempo.

Parab�ns aos organizadores pela eleg�ncia e conte�do escolhidos neste empenho coletivo. Na bela capa, pintura de Jorge dos Anjos, artista ouro-pretano, fotografada por In�s Rabelo e Guto Cortes. Texto da orelha por Edmilson de Almeida Pereira. Poesia de abertura de Fl�via de Queiroz. Revis�o de Leonardo Mordente, que muito agradou pelo respeito com as grafias.

N�o podiam ser mais assertivos na escolha do tema que aponta outras linguagens, outras palavras a serem escutadas, indicando a urg�ncia da inclus�o das diferen�as, do alargamento dos nossos horizontes para outras formas de pensar poss�veis em tempos de grandes amea�as democr�ticas no pa�s.

Frente ao avan�o do crescente discurso da direita autorit�ria e colonialista, eivado de preconceitos, que pretende a hegemonia dos valores capitalistas e neoliberais, desfavorecendo um olhar humano para as margens da sociedade de consumo. Para as periferias, as classes menos favorecidas e a mis�ria com polo oposto e consequ�ncia das cada vez maiores fortunas acumuladas por poucos.

Este n�mero foi cuidadosamente preparado. Conta com dossi� sobre “As literaturas africanas de l�ngua portuguesa”, organizado por Rog�rio Faria Tavares e a professora Maria Nazareth Soares Fonseca (UFMG); e dossi� sobre “Poesia ind�gena de Minas Gerais”, a cargo da professora Maria In�s de Almeida (UFMG) e do escritor e professor ind�gena Ailton Krenak.

O dossi� das linguagens africanas foi composto por ensaios de especialistas do Brasil, de Portugal e da �frica sobre escritores e escritoras de Angola, Cabo Verde, Guin�-Bissau, Mo�ambique, S�o Tom� e Pr�ncipe, que tem o portugu�s como l�ngua oficial.

Os escritores e poetas selecionados desde tempos coloniais at� agora trazem propostas liter�rias de quebra de padr�es externos em um mergulho em quest�es espec�ficas de seus pa�ses. Esta escrita trouxe � luz o lugar fundamental que a literatura de cada um destes pa�ses africanos ocupou no processo de conscientiza��o e exorta��o para a luta antimanicomial.

Segundo relata Maria Nazareth, permite compreender as escolhas tem�ticas e formais dos escritores e escritoras principalmente no campo da poesia e expressa o desejo de fazer da literatura ve�culo de contesta��o, uma arte voltada � resist�ncia contra o dom�nio colonial, sem abandonar os aspectos pr�prios � escrita liter�ria.

O segundo dossi� contemplado – “Poesia ind�gena de Minas Gerais” – apresenta um conjunto de textos e poemas que pertencem a grupos �tnicos tradicionalmente marginais � cultura moderna do impresso, mas possuem vasta poesia oral. Somente por volta de 1990, depois do Programa de Implanta��o das Escolas Ind�genas de Minas Gerais criado pela Secretaria de Educa��o, a UFMG, o Instituto Estadual de Florestas e a Funda��o Nacional do �ndio, foi poss�vel “passar para o papel” hist�rias e cantos transmitidos por gera��es at� hoje. S�o obras Maxakali, Krenac, Xacriab�, Patax�, Kaxix�, Kukuru-kariri.

Segundo os organizadores, “os textos s�o uma meton�mia da poesia ind�gena de Minas Gerais, paisagem secreta desde tempos imemoriais trazendo vozes dos que aqui viveram agora suportada pela escrita de seus descendentes”.

Uma escrita emocionante em quem poderemos garimpar belezas e riquezas, aprendendo que “a ancestralidade cura”. Deixo aqui o poema de Ailton Krenak, publicado pela Universidade da Bahia, entre outros artistas ind�genas, o que muito o alegrou:

“Um outro c�u”:

Sumiu mesmo/Desde sempre esteve oculto/nas dobras do tempo /Como raio/em noite escura/desce � terra/para trazer dor e loucura/Escondido nessas dobras / dormita feito obra/ de um g�nio que malogra/Pois nunca soube do bem/que das alturas /o c�u cont�m.

Outras linguagens diante de um real imposs�vel de suportar que apontam para o fracasso da nossa civiliza��o talvez possam trazer “ideias para adiar o fim do mundo”. 

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