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Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

O ano se vai, mas nos deixa as li��es do isolamento prolongado

Ficar mais solit�rio encaminhou o nosso olhar para dentro. As pessoas perceberam que precisam escutar a si mesmas


18/12/2022 04:00 - atualizado 17/12/2022 01:55

Ilustração mostra rostos de pessoas entre prédios
(foto: Gomez/CB/D.A Press)


O ano passou t�o r�pido que de repente estamos a poucos dias no Natal e do r�veillon. Ano dif�cil de p�s-pandemia, quando tivemos que retomar atividades presenciais arrastando conosco ran�os do isolamento prolongado.

Foram v�rias mudan�as. No modo de trabalho, que migrou para on-line e ainda vem se mantendo, houve avan�o ineg�vel e economicamente vantajoso nos custos e tamb�m nas dist�ncias, o que nos fez ganhar tempo e entender que podemos viver mais com menos.

Uma das maiores diferen�as que ficaram claras depois de tudo o que passamos foi a introspec��o. Ficar mais solit�rio, por causa das restri��es que nos prenderam e afastaram do abra�o, do agito, de encontros, reuni�es e festas, encaminhou o olhar para dentro. Embora neste ano tudo tenha voltado � normalidade, digo, o com�rcio, as aulas, clubes, shows, gente nas ruas e bares e tudo mais, o que passamos nos mudou. Estamos diferentes.

Ficamos obrigados a conviver com a falta do calor humano. Se antes o excesso era a t�nica vivida, veio a falta e nos empurrou para dentro de n�s mesmos e encontramos ali uma aus�ncia, um vazio para o qual tivemos que dar novos sentidos. Vazio antes encoberto pela vida agitada. Isso fez com que as pessoas percebessem que precisam se cuidar, olhar para si, escutar a si mesmas – e as consequ�ncias disso n�o s�o poucas.

Escutar-se � muito dif�cil e nos leva para o mundo da subjetividade. Isso faz com que nos encontremos com dificuldades, car�ncias, a demanda de amor e a servid�o volunt�ria, que n�o t�m resposta e lugar mesmo quando o outro est� presente. Assim, perdemos a refer�ncia de estar sempre nos referindo ao outro, expostos a seu olhar e presen�a. O olhar do outro tem extrema import�ncia e nos afeta.  A demanda do outro n�o se pode atender toda e tampouco responder suficientemente. Entender isso muda as coisas. Toca a afetividade.

Por isso, a demanda pelo tratamento, os pedidos de socorro apareceram e proliferaram, evidenciando a necessidade de falar e ser escutado, fazendo com que as pessoas saiam do marasmo e se movam em dire��o a seu pr�prio desejo, tendo a oportunidade de vivificar pequenos detalhes, coisas simples.

Diante de nossa divis�o entre consci�ncia e inconsciente, da administra��o do narcisismo, da dissimetria entre a imagem que nunca coincide com o que somos, a falta de certezas e de verdade �nica que nos obriga a adotar uma �tica para viver e tomar decis�es, arcar com elas, se autorizando, nos coloca diante de conflitos, ansiedades e ang�stias.

A ang�stia � quando a falta nos falta. Quando queremos recobrir todas as faltas com certezas e nunca podemos admitir nossa vers�o vulner�vel, divis�es e a falta de s�ntese. Porque somos mesmo seres de falta, e deixar vago o espa�o para que haja desejo � saud�vel. O problema � que as pessoas t�m medo do espa�o aberto e livre de garantias.

Absolutizar tudo � adoecer. Ser dono da certeza e do saber � negar a err�ncia, nossa humanidade, e �, de fato, lidar com o real que est� sempre a nos apontar a falha no planejado, o furo nos esquemas, o desarranjo do arrumado.

Portanto, se a cl�nica da psican�lise est� neste momento recebendo muitas demandas, � pelo fato de a escuta proporcionar um remanso nas afli��es, um azeite nas exig�ncias do ju�zo cr�tico atormentador, um sil�ncio antes nunca praticado e que permite repouso � alma. Um tempo de recolhimento que nos ensinou a nos acolher a n�s pr�prios, a nos abra�ar em nossas imperfei��es, a dar ao Outro o que � do Outro e s� a ele pertence.

A fun��o de tampar os buracos do mundo, como muitas pessoas acreditam ser poss�vel, � engano que traz infelicidade. Afinal, nada mais frustrante do que correr o tempo todo atr�s da felicidade, que n�o � uma constante. S�o apenas momentos que podemos ter.

A alegria � de outra cepa. � produto de uma vida com desejos realizados, mesmo que modestos e pequenos. � resultado da vida dirigida por um sujeito. Na vida, como na linguagem, toda frase precisa de um sujeito. Mesmo que oculto, mas ali, positivo e operante. Esta � a vida que vale a pena e � isso que pode proporcionar a genu�na alegria, apesar da dor existencial inerente a toda vida que se sabe finita.

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