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Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

Crer na verdade �nica � perigoso

H� uma verdade subjetiva, que � fic��o de cada um. Criada a partir do imagin�rio, do sentido que ele deu para o vivido. Ela � constru�da


02/07/2023 04:00 - atualizado 01/07/2023 00:47
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Ilustração na cor cinza tem interrogações, uma delas em vermelho fosforescente
(foto: Pixabay/reprodu��o)

Ningu�m � dono da verdade. N�o se pode dizer toda a verdade, � o que aprendemos com a psican�lise. E a princ�pio nos parecem palavras meio estranhas e a gente se perguntava: como assim? Sem uma verdade, ficaremos perdidos e desnorteados. N�o podemos destituir o valor da verdade para a vida cotidiana. Qual seria ent�o nosso norte?

De fato, a verdade orienta em linhas gerais nossa conduta moral, nossa inser��o na sociedade. Mas n�o podemos esquecer que somos almas errantes, e n�o seres de certeza, e nem sempre sabemos todas as respostas necess�rias para solucionar impasses com os quais nos deparamos frequentemente.

Mesmo havendo uma verdade comum e factual que rege nossa comunidade, ainda assim, n�o mergulhamos completamente nela, fazemos cr�ticas quando a certeza � de uma verdade �nica � r�gida demais. Respeitamos, mas vivemos segundo nossas cren�as e convic��es. Dizer que n�o se pode dizer a verdade toda n�o nos livra de estar atentos a ela e n�o abre as portas da mentira nem nos autoriza a dizer qualquer coisa de qualquer modo.

Claro que existe uma verdade factual sobre a qual existe consenso no que diz respeito a coisas �bvias, preto no branco, legal e ilegal, regras sociais, �tica e moral que acatamos. Recentemente, no Brasil, a pol�tica dividiu as opini�es causando muitas separa��es e afastamentos.

Por�m, nossa forma de encarar “a verdade” n�o pode ser simplesmente objetiva. Existe uma realidade paralela que chamamos subjetiva. Aqui a coisa se desdobra, mostrando uma disjun��o imposs�vel de conciliar e intranspon�vel.

Dois pontos de impossibilidade s�o claros. A verdade � para cada um, intimamente, o resultado de seu ponto de vista. �ngulo atrav�s do qual a pessoa percebe a realidade e a interpreta. Ent�o, a verdade � concebida pela percep��o e tamb�m pela interpreta��o. Fica claro que cada um vive e tem as suas.

Da�, j� temos uma coisa complicada, pois cada um experimenta a realidade de modo particular e, neste caso, entendemos que existe uma verdade m�ltipla. Ent�o, h� uma verdade subjetiva, que � a fic��o de cada um. Criada por cada um a partir do imagin�rio, do sentido que ele deu para o vivido. Ela � constru�da. Mesmo que n�o saibamos nada sobre isso.

Se a discrep�ncia for de tal magnitude, que entre em choque com a realidade objetiva e comum, realmente isso nos obrigaria a tomar posi��es necess�rias. N�o existe uma verdade �nica, sabemos disso, por�m, ao assistir ao v�deo do desfile de neonazistas em Paris, que aconteceu no m�s passado e foi permitida pelas autoridades francesas, sem interven��es, n�o h� como compactuar minimamente, dialogar com tal extremismo e com pessoas que expressam sem pudor retornar � pr�tica pura da puls�o de morte. � obsceno.

E n�o porque eles n�o sabem o que fazem, ou o que o nazismo representou e suas consequ�ncias para a humanidade, mas porque, ainda sabendo, mesmo assim, desejam o exterm�nio dos diferentes, seja de outra ra�a, credo e g�nero. Da�, vemos o perigo em crer numa verdade �nica.

N�o podemos esquecer da descoberta de Freud que subverteu a posi��o do homem no mundo. Depois de Cop�rnico afirmar que a Terra n�o � o centro do universo e Darwin nos apontar com descend�ncia comum aos macacos, Freud retirou o homem do lugar de donos da pr�pria casa. Ele afirmou que mora em n�s um estranho, o inconsciente, do qual nada ou quase nada sabemos e que tem seus efeitos em n�s.

Nem mesmo sabemos tudo sobre n�s pr�prios, como tamb�m frequentemente erramos e devemos retificar nossas posi��es sempre que alguma coisa for demonstrada contr�ria ao que at� ent�o pens�vamos.

Assim, como n�o sabemos tudo, nem sobre n�s mesmos, sugiro evitar batermos no peito cheios de raz�o, ignorando que ao nosso lado algu�m com suas pr�prias raz�es pode ter raz�es que a pr�pria raz�o desconhece. 

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