(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

A eterna ilus�o do amor perfeito

Relacionamentos reais implicam em rejei��o, decep��o e alegria. Aplicativos j� oferecem o parceiro "ideal", criado por intelig�ncia artificial


30/07/2023 08:10 - atualizado 30/07/2023 08:12
820

Eren Kartal, criado por Inteligência Artificial para ser o namorado ideal
Este � Eren Kartal, o "parceiro perfeito" que s� existe no ambiente tecnol�gico (foto: Facebook/reprodu��o)

Queremos ser amados. No m�nimo, agradar, ser aceitos, reconhecidos. A demanda de amor vem do nascimento prematuro, em termos de sobreviv�ncia, do ser humano. A crian�a depende totalmente de um adulto que cuide dela e isso se estende at� a vida adulta, tornando-se, caso seja preocupa��o constante, um dos maiores aprisionamentos afetivos que se possa viver.

� bastante evidente que o adulto considerado “normal” queira ter vida saud�vel, conseguir autonomia para amar e trabalhar – uma vida comum. Estar� entre acertar, ter alguns sucessos e errar, experimentando alguns fracassos.

Mesmo assim, sendo o que somos, as pessoas podem n�o nos querer. Na verdade, haver� as que n�o te querem, nem te incluem. Mas agora, quando adultos, sobrevivemos � rejei��o, embora ainda temendo certo desamparo.

Nosso fantasma antigo ressurge. Mesmo que os motivos de n�o ser querido n�o sejam compreendidos, mesmo que sejam os mais aleat�rios, tolos e banais. Nem sempre, nem todos gostam de voc�, simplesmente.

N�o sou religiosa, por�m, em um serm�o rel�mpago do Facebook, o padre F�bio de Melo, assertivo e anal�tico, defende o direito de ser. De ser feliz, de se dar chances. Ele diz que o fato de n�o nos quererem n�o nos faz menos do que somos – ao contr�rio, nos faz estar mais pr�ximos de n�s mesmos, porque somos a nossa melhor companhia. Podemos suportar frustra��es e decep��es se estivermos do nosso lado.

Quanto mais dependemos e esperamos do outro, mais distantes estaremos de n�s mesmos. Quando nos encaixamos no que “o outro espera”, perdemos nosso brilho ou seremos sombras.

O amor � muito importante, mas nos torna vulner�veis, pois o n�o � uma garantia, � conting�ncia. Acontece ou n�o, acaba, frustra, contraria, decepciona. Obriga-nos a enfrentar limites, imp�e-nos a castra��o. Mas � tamb�m nosso b�lsamo e nosso prazer.
 
Joaquin Phoenix em cena do filme Ela
Solid�o alimentada pela tecnologia marca a vida de Theodore (Joaquin Phoenix), o escritor apaixonado pela voz do computador no filme 'Ela' (foto: Warner Bros/divulga��o)
 

No filme “Ela” (2014), dirigido por Spike Jonze, Joaquin Phoenix interpreta o solit�rio escritor Theodore, que desenvolve rela��o de amor especial com um aplicativo de celular. Com a voz feminina programada para conversar e corresponder, intuitiva e sensivelmente, ao desejo do usu�rio. Ele se apaixona pela voz.
 
O celular a representa, ele passeia com sua amada, apresenta-lhe seu mundo e espera encontr�-la. Descobre tardiamente que “ela” � uma voz desencarnada, que responde a centenas de usu�rios. Uma grande decep��o. Um engano do amor.

Recentemente, recebi de uma colega postagem instigante no Instagram. O site ofuturodascoisas prospecta as poss�veis rela��es e escolhas. Ali est� o post da americana Rosana Ramos. Depois de um relacionamento abusivo de tr�s anos, ela se separou para ficar com Eren Kartal, criado no aplicativo de intelig�ncia artificial Replika.

Rosana diz que ele tem sido importante para curar seus traumas de rela��es passadas e abrir portas para voltar a namorar. Mas avisa que Eren veio para ficar... Com ele, descarta a vulnerabilidade dos amantes, o amor torna-se constante e imperd�vel. Uma rela��o de amor sem dor – sem d�vida, sem risco. A m�quina responde ao esperado.

A pergunta que n�o quer calar: ser� que n�s, errantes, humanos, adotaremos este amor perfeito, sem dor e sentimentos, por covardia diante dos riscos de um amor imperfeito e de carne viva?

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)