
Um almo�o com amigos queridos, entre tapas e beijos pol�ticos, me deixou profundamente pertubardo (no bom sentido, claro). No final do dia, car�ssimos leitores, “enquanto a gente pensa que sabe de tudo, o mundo muda de cena em um segundo”.
O Brasil vive dias bastante intensos; e tensos! Infelizmente, nossas elites (pol�ticas, empresariais, art�sticas, imprensa etc) nos conduziram a um p�ssimo momento, provando que n�o aprenderam nada e n�o esqueceram nada.
Uma sombra adormecida ressurgiu com extrema for�a nessas malditas elei��es. Malditas? A meu ver, sim. N�o, obviamente, pela democracia, mas pelo tipo dela. E por termos nos apreendido entre duas p�ssimas escolhas, cada uma pior que a outra.
Certas portas n�o devem ser abertas jamais. Uma fresta, por menor que seja, permite a passagem de luz. E a passagem de luz projeta a sombra, neste caso, do autoritarismo, que, repito, ressurge com grande vigor. Pior. Enfurecido e dissimulado.
besta-fera est� � solta por a�, atacando institui��es democr�ticas (imprensa, Igreja, Justi�a, institutos de pesquisa), empresas e cidad�os.
Todos j� ouviram falar no tal inconsciente coletivo. Mas poucos conhecem, contudo, o ogro coletivo. A O autoritarismo � multifacetado e, eu diria, apolitizado. Ele s� se importa consigo mesmo e suas verdades. Fora de sua caixa, sua bolha, todo o mal deve ser e ser� combatido. E uma das facetas mais aparentes chama-se “censura” (pr�via ou n�o).
Os agentes pol�ticos e a imprensa, em conluio de f� com gigantesca parte da sociedade civil, turbinados pela internet e as onipresentes redes sociais, abriram os port�es de todos os infernos, e dem�nios autocr�ticos e intolerantes foram soltos.
A censura - e essa � a verdade inexor�vel - voltou. Travestida, t�mida, educada, mas voltou. Um site, aqui, um canal de Youtube, ali, ou uma R�dio, acol�. Em nome da democracia, agentes pretensamente democr�ticos atacam a pr�pria… democracia!
Com toda e a devida raz�o, ve�culos de imprensa, por todo o Brasil, se insurgem contra as recentes decis�es judiciais, notadamente contra a R�dio Jovem Pan e a produtora de conte�do digital Brasil Paralelo, v�timas de censura pr�via e autoritarismo judicial.

A press�o, melhor dizendo, opress�o, parte de todos os lados. O departamento comercial tem interesses, os acionistas e/ou controladores t�m interesses, os chefes (em todos os n�veis) t�m interesses. Dinheiro, poder, ideologia, religi�o, vaidade…
“De onde se vem, pra onde se vai, s� importa saber pra qu�”. Eis a�. Se vem do STF ou TSE, se vai para a sociedade civil ou para os partidos e pol�ticos, o que nos importa - e aos censores - � saber: pra qu�? No fundo, ningu�m pensa na democracia.
A viol�ncia � sempre intoler�vel, sob nossa �tica, quando praticada por e contra os outros. Por�m, � sempre relativizada quando somos, n�s mesmos, o agente ativo. Impor censura aos mais fracos, sob nosso poder de influ�ncia, � costumeiramente comum.
Censuramos, sim, filhos menores e pais e av�s idosos. Censuramos funcion�rios! Ditamos regras de comportamento social e interferimos na liberdade de express�o e de opini�o de todos que nos cercam e s�o, digamos, a n�s subordinados.
Nessa hora, contudo, n�o nos consideramos um Xand�o ou uma C�rmen L�cia, afinal, fazemos “para o bem e pelo bem”. S�rio? Bem de quem, cara p�lida, al�m do nosso pr�prio e de nossas convic��es? Eis o auto-engano natural humano em estado puro.
Sim, “opressor do bem”, admita: voc� � autorit�rio e censor. Por isso, antes de meter o dedo na fu�a dos outros, olhe-se no espelho. Est� com raiva do Supremo e dos togados da Justi�a Eleitoral? Beleza. Eu tamb�m estou. Mas somos mesmo t�o diferentes assim, em nossos tribunais, sob nossas jurisdi��es?