
O Brasil sempre foi um pa�s um pouco isolado, primeiro por causa da geografia, depois pela barreira da l�ngua e pelas dificuldades econ�micas. Desenvolvemos uma economia fechada, com uma ideia subjacente de autossufici�ncia e pouca abertura para o exterior. Ainda assim constru�mos uma na��o civilizada, que durante a maior parte do s�culo 20 foi das que mais se desenvolveram e que prometiam um futuro brilhante.
O futuro, no entanto, n�o chegou. Nos �ltimos quarenta anos crescemos muito pouco e a maior parte de nossa popula��o vive na pobreza ou em condi��es de vida ainda prec�rias, apesar de nossa incompar�vel riqueza de recursos. Nossa sociedade parece viver hoje em um estado de apatia e desalento, fruto da descren�a da maioria e da falta de vis�o e de cultura c�vica das elites pol�ticas.
O autoconhecimento � uma capacidade rara, seja nas pessoas, seja nas sociedades. Nunca temos no��o clara do que realmente somos. Por isso o olhar alheio sobre n�s quase sempre nos surpreende muito. Nesta semana mesmo estava lendo um artigo de um importante jornalista conservador americano Bret Stephens, no New York Times, em que ele lamentava o decl�nio da confian�a nas pessoas e nas institui��es que vem ocorrendo na sociedade americana, especialmente durante a infeliz era Trump.
Na esteira do que pensa a maioria dos cientistas sociais contempor�neos, o articulista acentuava que a confian�a social � o mais importante elemento em qualquer sociedade bem-sucedida. Nesta altura do artigo ele me causou um choque, quando indicou que sociedades com elevado grau de confian�a social progridem em todos os aspectos e citou como exemplo a Su�cia e o Canad�, enquanto as que vivem num ambiente de baixa confian�a, fracassam. E deu como exemplo destas o L�bano e... o Brasil.
Eu vivo e reflito durante quase toda a minha vida sobre a vida p�blica brasileira e confesso que nunca pensei em ver o Brasil equiparado a um pa�s t�o belo e t�o desafortunado como o L�bano, uma na��o devastada por guerra civil, conflitos religiosos e palco dos horrores que afligem o Oriente M�dio, que tornam quase imposs�vel o funcionamento de um estado democr�tico. Como estrangeiros intelectualmente bem informados podem nos ver dessa maneira, � a pergunta que temos que fazer.
Se pensarmos bem vamos chegar � conclus�o de que n�o � f�cil nem trivial compreender o Brasil. Temos um grande territ�rio e uma grande popula��o. Nosso territ�rio, al�m da extens�o, acumula recursos que faltam � maioria dos pa�ses. Temos petr�leo, muitos minerais, �gua doce em abund�ncia, sol, florestas e solos para a agricultura. Nossa popula��o est� livre de conflitos religiosos ou �tnicos que infelicitam tantas sociedades. N�o temos guerras e vivemos em paz como nossos vizinhos.
Al�m disso temos muitas empresas de primeira classe e uma elite empresarial respeitada em todo o mundo. Sem falar que somos um povo criativo na cultura e am�vel na conviv�ncia. Apesar disto tudo somos ainda um pa�s pobre, com grande parte da popula��o vivendo na pobreza. Deve haver algum mist�rio nesta hist�ria.
Nos �ltimos cinquenta anos tentamos de tudo na pol�tica, desde vinte anos de ditadura militar, treze anos de um governo de esquerda e agora at� um governo de extrema direita. Como dizia o poeta Drummond: todos eles... e nenhum resolveu.
Embora nenhum passado possa nos consolar do presente, ele pode lan�ar uma luz sobre o mist�rio de nosso fracasso atual. O Brasil j� viveu anos de muito progresso e de muita esperan�a, Eles se estendem desde os anos de 1930, logo ap�s a grande Depress�o e duraram pelo menos tr�s d�cadas, passando por diferentes governos. O que havia de muito diferente ent�o � que a sociedade era menos profundamente dividida por ideologias ou valores e os governos s� governavam, n�o tentavam impor a todos a sua vis�o do mundo e da vida. E acima de tudo, os brasileiros ent�o pareciam ter os olhos voltados para a frente. Havia confian�a e esperan�a num futuro sempre melhor.
Sem isto nenhum governo nos salvar� e nenhum futuro nos cair� dos c�us.
