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Estado de Minas O BRASIL VISTO DE MINAS

O pa�s das tristes certezas e que vive ref�m de um Parlamento de interesses

A polariza��o de 2022 � a que separa de um lado a Rep�blica e a sociedade e, de outro, um sistema de chefetes partid�rios que tomou para si o Parlamento


20/12/2021 04:00 - atualizado 20/12/2021 07:09

Outro problema é que no sistema brasileiro, os presidentes não têm conseguido maioria no Senado ou na Câmara
Plen�rio do Senado: parlamentares no Brasil s�o eleitos sem cumprir o compromisso de prestar contas ao eleitor, ultrapassam fronteiras partid�rios e ideol�gicas (foto: Roque de S�/Ag�ncia Senado - 2/12/21)
Os analistas pol�ticos e os economistas do mundo paralelo das finan�as s�o todos un�nimes em afirmar que o pa�s est� parado e que o c�mbio, a infla��o e os investimentos est�o perturbados por causa das incertezas quanto aos resultados da elei��es do ano que vem. O sentimento � que tudo pode mudar muito conforme o presidente que for escolhido.

Penso que isso � reflexo de uma vis�o idealista da pol�tica, porque � semelhan�a do mundo do pr�ncipe de Salina, do romance “O Leopardo”, na maior parte do tempo no Brasil os presidentes mudam para que tudo fique como est�.

Na hist�ria das �ltimas d�cadas, o Brasil s� mudou de fato sob o comando de uma ordem autorit�ria e impositiva, nos governos dos generais Castelo Branco e Ernesto Geisel, ou sob raras lideran�as inspiradoras, capazes de projetar uma imagem atraente do nosso destino, como Juscelino e Fernando Henrique.

No resto do tempo os sistemas tradicionais da pol�tica e da Justi�a se impuseram sobre a Presid�ncia e acabaram ditando suas pol�ticas e seu comportamento, muitas vezes no sentido contr�rio aos dos discursos de campanha.

As �nicas escolhas eleitorais democr�ticas em nosso pa�s, no sentido de que o povo sabe exatamente quem est� escolhendo e para que, s�o as de prefeitos, governadores e presidente da Rep�blica. Nos pa�ses em que o regime de governo � o parlamentarismo ou naqueles de regime presidencialista com apenas dois ou tr�s partidos, tamb�m a escolha dos deputados � consistente com a vontade dos eleitores.

No Brasil, a elei��o dos deputados, que no fim das contas vai definir o que os governos podem realmente fazer, � um tiro no escuro. Ningu�m, nem mesmo o cidad�o mais sofisticado, tem qualquer no��o das consequ�ncias do seu voto. O deputado em nosso sistema praticamente n�o presta contas de nada. Pode cruzar todas as fronteiras, sejam partid�rias, ideol�gicas ou de valores e faz todos os acordos que forem convenientes.

Esta realidade vem de longe, mas no governo atual chegou a um limite extremo. N�o � poss�vel saber se no futuro algum presidente ter� a for�a e a coragem para desmontar esses arranjos, que desmoralizam qualquer administra��o e ditam a sua pauta, tornando-a fragment�ria, paroquial e alheia �s verdadeiras quest�es que cabe ao governo enfrentar.

A Constitui��o brasileira, que mudou tanta coisa, n�o quis reformar a vida pol�tica. Deu margem � multiplica��o de partidos sem nenhuma raz�o de ser. Partidos sem projeto, sem propostas, sem nada que tenha rela��o com o interesse p�blico. Salvo dois ou tr�s, os outros n�o s�o democr�ticos. S�o partidos que t�m donos e funcionam como cart�rios, que distribuem franquias. No final, sem que ningu�m perceba, dominam as elei��es e o Parlamento.

Enquanto perdurar essa ordem pol�tica n�o h� que se falar em incerteza. O que temos, ao contr�rio, s�o tristes certezas. A certeza de que o presidente a ser eleito, qualquer que seja ele, n�o vai ter maioria na C�mara ou no Senado. A certeza de que n�o precisa perder seu tempo em convencer 10 ou 20 partidos das raz�es de Estado, das car�ncias da popula��o e da constru��o de um futuro.

Essa l�ngua republicana n�o � compreendida num c�rculo que se acostumou com nomea��es e emendas, se poss�vel, secretas, e que tem sob seu controle todas as pautas legislativas e, se necess�rio, a amea�a dos impeachments. E a certeza de que para governar precisa ultrapassar muitos limites.

No fundo n�o � s� o presidente que � ref�m desse sistema infeccioso, � tamb�m a pr�pria popula��o. A verdadeira polariza��o da elei��o de 2022, a que precisa ser resolvida, n�o � entre pessoas, mas a que separa de um lado a Rep�blica e a sociedade e, de outro, um sistema de chefetes partid�rios que tomou para si o Parlamento brasileiro.

Pode parecer imposs�vel, mas vou lembrar Hannah Arendt, quando disse que o homem, de um modo misterioso, � manifestamente dotado para fazer milagres e que os homens, enquanto puderem agir, podem realizar o improv�vel, e continuamente o realizam.

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