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Estado de Minas ROBERTO BRANT

Estaremos embarcando numa viagem sem destino nas elei��es de outubro

Pior defeito da Constitui��o foi ter cristalizado uma ordem pol�tica velha e desconectada das grandes mudan�as sociais


29/08/2022 04:00 - atualizado 29/08/2022 07:39

A atual Constituição Federal foi promulgada pelo Congresso Nacional em 5 de outubro de 1988
A atual Constitui��o Federal foi promulgada pelo Congresso Nacional em 5 de outubro de 1988 (foto: AG�NCIA BRASIL)

As elei��es de outubro, vistas de agora, parecem um jogo de vida e morte para todos n�s, mas no fundo n�o passam de uma pura luta pelo poder. Todos sabemos, ou dever�amos saber, que o poder pol�tico entre n�s � reserva de grupos e interesses muito restritos e passa muito longe de quase toda a popula��o.

Essa luta, portanto, n�o � a luta de quase nenhum de n�s, pois nada do que sonhamos ou desejamos est� propriamente em jogo. Vamos �s urnas, at� por uma absurda obriga��o legal, que n�o deveria existir numa sociedade civilizada e livre, sem uma verdadeira esperan�a de vencer, apenas com o prop�sito de perder o menos poss�vel.

Fa�o parte de uma gera��o que sonhou muito alto com o Brasil, pois nascemos e nos tornamos adultos num tempo em que nosso pa�s se desenvolvia rapidamente na economia, na cultura e nos esportes. �ramos um povo que come�ava a se afirmar e a cultivar a autoestima.

Nossa ilus�o foi logo interrompida. A primeira coisa que perdemos foi a liberdade, e a perdemos t�o completamente que l� pelos idos dos anos 70 grande parte dos brasileiros chegou a perder a vontade de ser livre e apoiou sem constrangimentos o regime dos generais.

O regime militar, como quase todos os sistemas de governan�a autorit�ria, teve �xitos no seu in�cio ao executar sem oposi��o reformas modernizadoras havia muito tempo necess�rias. Terminou, no entanto, em fracasso e caiu sozinho, deixando como legado um pa�s em crise e amea�ado de colapso, com infla��o sem controle, baixo crescimento e pr�ximo ao calote de sua divida com o mundo.

Ainda convalescendo dos efeitos da ditadura no car�ter e nos sonhos de todos n�s, nos reunimos para votar uma nova Constitui��o democr�tica. Ela foi escrita basicamente com os olhos no passado e foi generosa nas promessas, mas nela veio embutido um pacto social perverso, no qual os pr�mios efetivos ficaram com as altas burocracias do Estado e alguns interesses organizados, restando �s grandes maiorias apenas as belas proclama��es, quase sempre irrealiz�veis, com a not�vel exce��o do Sistema �nico de Sa�de, um claro avan�o civilizat�rio.

O pior defeito da Constitui��o foi ter cristalizado uma ordem pol�tica velha e desconectada das grandes mudan�as sociais que vinham ocorrendo no pa�s desde os anos 50. Institui��es pol�ticas s�o padr�es que se estabelecem em resposta �s necessidades de um determinado per�odo hist�rico.

De 1950 at� 1980, a sociedade e a economia brasileira mudaram completamente e o sistema pol�tico existente n�o era capaz de lidar com a emerg�ncia de novos atores, de novas rela��es sociais e as grandes mudan�as tecnol�gicas, mas mesmo assim o constituinte de 1988 optou por n�o mudar nada no funcionamento das institui��es pol�ticas. Os pol�ticos, como ostras, se agarravam aos troncos carcomidos da velha ordem para conservarem para sempre o seu poder. Esta � a ordem que ainda nos governa.

Muitos governos se sucederam, mas o pa�s permaneceu basicamente estagnado, a pobreza e a desigualdade continuaram muito altas, o Estado tornou-se impotente para buscar o crescimento e  para corrigir as desigualdades e a agenda pol�tica virou apenas um palco para conflitos sobre trivialidades, preconceitos e del�rios ideol�gicos, nada de importante ou de construtivo. Mais do que um problema de homens, o problema brasileiro � uma quest�o das institui��es. Sem que elas mudem, nada mudar� de fato na vida das pessoas.

No horizonte de qualquer sociedade civilizada, duas metas est�o acima de qualquer coisa: a liberdade democr�tica e o progresso econ�mico para as grandes maiorias. Toda elei��o deveria ser um debate sobre os caminhos para aqueles destinos. N�o � o que estamos vendo.

A idade madura nos ensina que n�o podemos ter muita certeza sobre nada e que � preciso ter muita humildade diante das quest�es da hist�ria. No entanto, n�o tenho receio de dizer que estamos diante de uma das elei��es mais vazias de nossa hist�ria e que no m�s de outubro n�o estaremos escolhendo nada, apenas embarcando para uma viagem sem destino.
 

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