Carolina Herrera e a terceira idade: a quem pertencem nossos cabelos?

No in�cio desse m�s, a estilista Venezuelana Carolina Herrera, de 82 anos, foi um dos assuntos mais comentados do Twitter. Ela declarou em entrevista ao jornal brit�nico 'Daily Mail', que apenas as mulheres sem classe mantinham seus cabelos longos ap�s os 40 anos de idade. N�o fosse suficiente, a estilista ainda decretou que minissaias, biqu�nis e jeans devem ser usados apenas pelos jovens. O tema, como n�o podia deixar de ser, viralizou e nos colocou para pensar se h� uma idade para parar de fazer ou usar algo.

Sabe aquela famosa frase, “eu n�o tenho mais idade para isto”? Na maioria das vezes nada mais � do que o preconceito social e o estigma da velhice contaminando a nossa exist�ncia. N�o s�o poucas as pessoas maduras que t�m dentro de si a no��o de que a partir de certa idade n�o � mais permitido determinadas coisas. E isto � verdade! Mas s� � verdade em rela��o a algumas poucas coisas, pois nas demais, somos livres para continuar decidindo como se ainda tiv�ssemos vinte anos!

Por anos fomos v�timas da ditadura da moda: nos recomendaram o que vestir, como vestir, o que usar, o que parar de usar, quantos quilos nossos corpos devem ter para serem considerados atraentes, quantos cent�metros devem ter as saias para n�o parecerem vulgar, a cor e o tamanho das unhas e dos cabelos, isto s� para ficar em alguns exemplos. Mas, ainda bem e gra�as a informa��o e a um movimento lindo de auto aceita��o, as pessoas n�o est�o mais se deixando dominar pelas m�os de ferro da ind�stria da moda. 

Temos repetido na coluna a import�ncia de ressaltarmos a discrimina��o que a popula��o madura sofre e, na medida em que uma estilista famosa se acha no direito de decretar o que podemos ou n�o usar ap�s certa idade, ela refor�a padr�es sociais discriminat�rios em rela��o � velhice e ao envelhecimento, nos deixando ref�ns dos padr�es de beleza, classe e comportamento que h� muito estamos tentando nos livrar. 

As pessoas maduras de hoje n�o querem se prender aos estere�tipos de outrora. Assim, os cabelos podem ser arrumados ou desgrenhados, as roupas podem ser curtas ou longas e os cabelos e as unhas, podem e devem ser exatamente como nosso desejo ordenar pois, acima de tudo, ao escolhermos nossas roupas e nossos complementos, n�o fazemos mal a ningu�m, de modo que ningu�m tem o direito de vir nos incomodar, ainda que sejamos adeptos da extravag�ncia. Temos direito ao nosso pr�prio corpo e o adornamos como nossa imagina��o determinar.

Em que pese meu respeito e admira��o pelo trabalho de Carolina Herrera, ao decretar o que podemos ou n�o usar ou fazer, ela errou feio, pois fez coro �queles que julgam e discriminam as pessoas maduras. Que acreditam que o mundo � apenas para os jovens e que n�s, os maduros, somos um fardo social a ser suportado.

O que Carolina Herrera n�o entendeu � que a classe e a eleg�ncia de uma pessoa n�o est�o no seu corte de cabelo ou nas roupas que escolhe vestir, n�o mesmo! A classe de uma pessoa est� nos valores que ela carrega, nos gestos de bondade, na simplicidade brejeira, na delicadeza e na capacidade de se colocar de modo educado e gentil no tratamento para com os outros.

Eleg�ncia tem a ver com ter no��o da dimens�o do outro e respeit�-lo em sua inteireza, sem expectativas irreais. Tem a ver com n�o julgar as escolhas dos outros e compreender que uma pessoa, independentemente da idade, pode ter cabelo longo, usar minissaia, biqu�ni, jeans e tudo mais que desejar, sem que ningu�m venha a lhe condenar no inst�vel tribunal da moda.