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Estado de Minas VITALidade

As rugas dizem quem somos

Para conhecer a si mesmo, o ser humano precisa ter coragem de enfrentar suas verdades e deixar de embotar seu pensamento com ilus�es a respeito de si mesmo


02/08/2022 07:28

Mulher idosa, com rosto de rugas
(foto: Pixabay)


O or�culo de Delfos nos coloca frente a uma das quest�es mais complexas do pensamento humano e, ao mesmo tempo, nos lan�a um desafio: “conhe�a-te a ti mesmo”. Segundo acreditavam os gregos, o homem precisava conhecer a si mesmo, para, ent�o, conhecer o outro e, quem sabe assim, esbarrar no conhecimento do mundo. Sem o conhecimento de si, que � a primeira porta rumo � compreens�o do mundo, o homem estaria fadado a viver em c�rculos, cometendo os mesmos erros indefinidamente, em um ciclo eterno de retorno ao mesmo lugar. 

Para conhecer a si mesmo, o ser humano precisa ter coragem de enfrentar suas verdades e deixar de embotar seu pensamento com ilus�es a respeito de si mesmo; e uma das principais m�scaras que impedem o homem de ter acesso a si mesmo � a no��o de que ele � eterno e n�o um ser para a morte, como dizia Heidegger. 

J� faz tempo que estamos colocando em relevo nesta coluna as v�rias formas de discrimina��o enfrentada n�o apenas pela popula��o idosa propriamente dita que, segundo o Estatuto do Idoso s�o os maiores de 60 anos, mas tamb�m por aqueles que est�o entre os 45 e os 60 anos. Parece que nos esquecemos que somos todos seres fadados � extin��o e, enquanto tais, ao envelhecimento. Em nossa sociedade narcisista somos convidados a nos manter jovens a qualquer custo e, quando isto n�o � mais poss�vel, somos novamente convidados a deixarmos a vida p�blica, mesmo que antes da hora, se � que tal hora de fato existe!

A verdade � que estamos todos em processo de envelhecimento, e quanto mais cedo percebemos isto, mais satisfat�ria se torna nossa vida quando os anos se passam – pois, inexoravelmente, eles passam. Deveria haver uma disciplina na escola denominada “verdades �bvias sobre a minha humanidade” que, dentre outras coisas, deveria ensinar aos mais jovens, de uma vez por todas, que todos envelhecemos e que, enquanto “velhos”, merecemos respeito por nossas conquistas, nossas voca��es, nossa sabedoria, e tamb�m por nossas rugas, nossos corpos fr�geis, nosso tempo diverso para compreender as coisas, enfim, por nossa maturidade.

Nossas sociedades ensinam �s nossas crian�as que a idade retira dos seres humanos sua capacidade f�sica, intelectual e emocional, n�o deixando nada em troca, o que � a maior das mentiras j� contadas e repetidas.

Como seria bom se as crian�as aprendessem desde cedo que, com o avan�ar da idade h� in�meros ganhos que, inclusive, devem ser ansiados pelos mais novos, tais como a calma, a cautela, a prud�ncia, o conjunto do nosso aprendizado, a capacidade de nos preocupar somente com o que realmente importa, deixando de lado as ansiedades e as dores desnecess�rias.

Como viver�amos melhor e mais se os jovens fossem ensinados que um velho de c�coras v� bem mais longe que uma crian�a de p� e que, quem sabe juntos, possam enxergar ainda mais longe.

Ansiamos com um tempo no qual os ganhos da maturidade sejam colocados em relevo e que cada vez mais a sociedade busque nos mais velhos o esteio para a constru��o de uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Assistimos a diversos movimentos em prol das minorias mas, no que se refere aos preconceitos que os mais velhos sofrem diuturnamente, pouco ou nada � dito – muito pelo contr�rio, tudo parece perfeitamente aceit�vel e adequado.

A realidade � que todos os que est�o em processo de amadurecimento s�o v�timas de preconceito escancarado ou travestido de brincadeira, como soe acontecer com as a��es de rebaixamento contra popula��es espec�ficas. Os filhos, os netos, os sobrinhos, os alunos, enfim, todos os mais jovens – e n�s tamb�m – foram criados para achar que a velhice � um mal que precisa ser combatido e somos n�s os respons�veis por mudar uma l�gica t�o perversa.

Uma sociedade que n�o conhece a si mesma, que ainda n�o se conscientizou da finitude de seus membros e, consequentemente, das mazelas e das in�meras vantagens que a idade proporciona, valorizando apenas o ef�mero, o novo e o rec�m lan�ado, est� condenada a tratar seus velhos como mercadoria de menor import�ncia, como fardos a serem suportados e n�o como vidas inspiradas, que est�o a nos mostrar o caminho rumo � constru��o de um mundo no qual uma ruga seja motivo de comemora��o e n�o de procedimento est�tico. 

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