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Estado de Minas VITALIDADE

Envelhecendo juntos, nos tornamos amigos

Souberam deixar de lado o amor-falta e aprenderam a partilhar uma esp�cie de amor-alegria, alicer�ada pela certeza da reciprocidade do amor


06/03/2023 06:05 - atualizado 06/03/2023 13:15

  • No amor entre casais h� dois tempos: o tempo do amor-paix�o e o tempo do amor-amizade. E n�o necessariamente um seguir� o outro, j� que, como diria o poeta, se apaixonar � para qualquer pessoa, mas amar, isto j� n�o � dado a qualquer um. A paix�o do in�cio da rela��o � alimentada pela aus�ncia do outro, pela sede constante, pelo desejo desenfreado e pela proje��o do outro, numa esp�cie de jogo que n�o d� muito trabalho, pois j� estamos rendidos antes mesmo dele come�ar. J� o amor-amizade vive da presen�a do outro, da sensatez, da realidade vivida e n�o projetada e demanda trabalho.

Com o passar dos anos, os relacionamentos entre os casais podem seguir v�rios caminhos, e todos somos testemunhas de relacionamentos longos de esp�cies variadas: os casais que ficam em sil�ncio, os casais animados, os casais ranzinzas, os casais que se tornaram av�s, enfim, n�o faltariam exemplos. Talvez o que mais chame aten��o seja o casal longevo que verdadeiramente se tornou amigo com o passar dos anos. Aquela esp�cie de cumplicidade em que um nem precisa mais conversar com o outro para entender exatamente o que se est� pensando. Os anos os fizeram c�mplices, e aprenderam a se amparar mutuamente de modo gentil e leve. Est�o envelhecendo juntos e gostam da experi�ncia.

Haveria algum segredo? Talvez exista um mist�rio, e ele n�o diz respeito a um ato isolado de um ou de outro para manter a harmonia na rela��o. � mais prov�vel que ele se refira ao modo como esse casal foi compreendendo as mudan�as que o amor invariavelmente sofre ao longo do tempo e foram se adequando a elas.

� prov�vel que tais casais j� tenham deixado para tr�s o tempo da paix�o e aprenderam a amar. O t�rrido sentimento cedeu espa�o para a cumplicidade. Talvez - seja certo - tenham compreendido que estar apaixonado n�o carecia de qualquer a��o, mas que amar era exigente e dependia de a��es rotineiras, a��es estas que eles n�o deixaram de fazer ao longo dos anos. Eles n�o tiveram medo de deixar para tr�s o amor sonhado e aprenderam a construir no dia a dia o amor realizado. 

Amigos que se tornaram, provavelmente partilham lembran�as dos longos anos de conviv�ncia juntos, dividem projetos, sonhos, esperan�as, viagens e futuro. A conviv�ncia entre eles se tornou um espa�o para a verdade, para a vida dividida, para a exalta��o rec�proca, enfim, para a felicidade - a felicidade poss�vel fora dos ciclos intermin�veis e tormentosos da paix�o.

A maturidade mostrou para esse casal que a carne pode ser muito triste quando s� se ama a ela. Portanto, o sexo entre eles, apesar de menos intenso que nos tempos de paix�o, conduz hoje a uma esp�cie de ascend�ncia que une prazer e amor em um s� instante. Pelos anos de conviv�ncia, conhecem como ningu�m como funciona a sexualidade do outro e usam isso para se instigarem mutuamente, fazendo com que o desejo nunca deixe de existir.

Souberam deixar de lado o amor-falta que a paix�o conduz e aprenderam a partilhar uma esp�cie de amor-alegria, alicer�ada pela certeza da reciprocidade do amor e, consequentemente, da for�a da uni�o que t�m. N�o permitem que as dores do passado comandem a vida presente. Regozijam-se um com a exist�ncia do outro e aprenderam a se n�o cobrarem demais pelas imperfei��es - comum em qualquer um da esp�cie humana. Aprenderam a se divertir juntos, a sofrer juntos e sabem ser o porto-seguro um do outro, sem cobran�as ou demasiadas insatisfa��es.

Aprenderam a ser gratos pelos bons e maus momentos que viveram e t�m a certeza de que a fortaleza da uni�o � fruto de ambos. Eles souberam deixar o pr�ncipe encantado e a princesa sonhados irem embora para ceder lugar aos seres reais da rela��o. Souberam trocar as ansiedades da paix�o pela do�ura do amor-amizade, que, se n�o d� frio na barriga, oferece uma sa�da para a paix�o que, de outro modo, terminaria de qualquer modo.

O diferencial de tais casais longevos em rela��o aos demais � que eles sabem que foi pelo amor-paix�o que a hist�ria deles come�ou, mas n�o deixaram de trabalhar nem um dia sequer na constru��o de algo que pudesse transcend�-lo. Para isso, constru�ram uma esp�cie de amor c�mplice, amigo e capaz de fazer sonhar at� o mais c�tico dos mortais.

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