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Estado de Minas

Produtores mineiros criam alternativas para driblar a seca

Diante da estiagem, produtores rurais do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha buscam op��es, como a palma forrageira, para ajudar na alimenta��o dos rebanhos


postado em 25/07/2016 06:00 / atualizado em 29/07/2016 09:33

Gilmar Caetano aposta na cobertura morta para reduzir o gasto de água e manter a atividade. Alimentar os animais no cocho, com silagem ou com palma, pode manter ganho de peso(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Gilmar Caetano aposta na cobertura morta para reduzir o gasto de �gua e manter a atividade. Alimentar os animais no cocho, com silagem ou com palma, pode manter ganho de peso (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Montes Claros – As estiagens prolongadas castigam o Norte de Minas seguidamente. Diante desse quadro, os produtores rurais precisam criar meios para conviver com a seca, buscando alternativas para racionalizar o consumo de �gua, para manter a produ��o de alimentos, seja por meio da agricultura ou pela pecu�ria. Uma das op��es encontradas � o cultivo da palma forrageira para complementar a alimenta��o do rebanho leiteiro no per�odo cr�tico da seca, cujos efeitos tamb�m s�o sentidos no com�rcio na cidade, afetando duramente a economia regional.

A palma forrageira serve para alimentar bovinos, cabras e ovelhas, al�m de ajudar na hidrata��o dos animais, pois � constitu�da de 90% de �gua. A esp�cie j� � muito usada no Nordeste e est� sendo difundida no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha por interm�dio de projeto da Empresa de Pesquisa Agropecu�ria do Estado de Minas Gerais (Epamig), implementado em parceria com a Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), que visa ao fornecimento de mudas da planta para os pequenos agricultores, que tamb�m s�o capacitados para o cultivo.

O uso da planta come�ou a ser disseminado no semi�rido mineiro h� quatro anos. J� foram distribu�das cerca de 200 mil mudas (raquetes) para pequenos produtores de 27 munic�pios. “Quem recebia a palma firmava o compromisso conosco de, no primeiro ano de colheita, disponibilizar pelo menos 10% das mudas para outros produtores. Assim, fomos multiplicando a cultura na regi�o, pois ela consegue aguentar os longos per�odos de estiagem que estamos passando aqui”, afirma o coordenador t�cnico da Emater-MG em Jana�ba, Andr� Caxito.

Em nova etapa do projeto, financiada pela Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), est� prevista a instala��o, at� setembro, de sete unidades demonstrativas da palma forrageira no Vale do Jequitinhonha, nos munic�pios de Leme do Prado, Minas Novas, Chapada do Norte, Berilo, Jos� Gon�alves de Minas, Jenipapo de Minas e Francisco Badar�.

“Vamos capacitar os extensionistas da Emater para repassarem o conhecimento t�cnico em todas as unidades demonstrativas que plantarem a palma”, anuncia a pesquisadora Polyanna Oliveira, chefe da unidade experimental da Epamig em Nova Porteirinha (Norte de Minas). L� est�o sendo pesquisadas duas variedades da palma forrageira, a chamada palma gigante e a mi�da ou doce. “Elas s�o totalmente diferentes, tanto em desenvolvimento quanto em tamanho da raquete e nutrientes. Queremos descobrir qual a melhor op��o para a regi�o, mas hoje trabalhamos mais com a palma gigante”, ressalta Polyanna.

PRODUTIVIDADE
A palma deve ser plantada 30 dias antes do in�cio do per�odo chuvoso e � colhida um ano ap�s o plantio. “Depois disso, o produtor tem palma o ano inteiro, e n�o precisa esperar o per�odo da seca para utiliz�-la”, explica Andr� Caxito. Muito resistente ao clima �rido, com custo baixo e necessidade de pouca �gua, a esp�cie pode alcan�ar uma produ��o de at� 120 toneladas por hectare. Essa quantidade � suficiente para alimentar 10 vacas leiteiras em produ��o durante oito meses, segundo a Emater-MG. “Muitas vezes, o produtor planta milho ou sorgo, mas a estiagem entre uma chuva e outra o faz perder a lavoura e ter preju�zos. A palma aguenta essas condi��es”, afirma Jair Mendes,  t�cnico da Epamig no Campo Experimental de Acau� (Vale do Jequitinhonha).

Apesar de oferecer muita �gua e ser fonte de energia para o animal – podendo substituir em at� 70% a energia fornecida pelo milho –, a palma tem baixo teor de fibra, prote�na e mat�ria seca. Dessa forma,  ela n�o deve ser usada como �nica fonte de alimento para os bovinos, e sim como complementa��o da dieta. “� necess�rio compensar a baixa quantidade de prote�na. A palma pode participar em at� 50% da mat�ria seca da alimenta��o dos animais, combinada com outro volumoso, como, por exemplo, silagem de sorgo, milho, milheto ou cana”, recomenda Jair Mendes.

A cultura foi adotada como alternativa para a conviv�ncia com a seca pelo produtor Uelton Moreira Cangussu, no munic�pio de Jana�ba. Ele iniciou o cultivo h� cinco anos em uma �rea pequena (pouco mais de meio hectare), onde plantou 4 mil raquetes. “A palma � uma cultura muito resistente � seca e tem um custo baixo”, afirma Uelton, que, satisfeito com o resultado, pretende dobrar a �rea plantada no pr�ximo ano.

O pequeno agricultor disse que, agora que chegou o per�odo mais cr�tico da seca, vai iniciar o corte da palma para alimentar suas 18 vacas de leite. Acrescentou que sua inten��o � manter o rebanho com a alimenta��o alternativa at� dezembro. “O paladar da palma � muito bom e o gado tem bom rendimento na produ��o de leite”, acrescenta.

Outro produtor norte-mineiro que recorreu � palma foi Amaral de Castro Oliveira, que cria gado de corte no munic�pio de Mamonas, um dos mais castigados pela estiagem na regi�o. “Ningu�m plantava antes, mas quando a seca pegou, todo mundo come�ou a apostar na palma. Tenho mais ou menos 1.400 raquetes plantadas, que me ajudam muito nas �pocas piores de estiagem”, testemunha Amaral, que recebeu mudas da Epamig e assist�ncia t�cnica da Emater-MG. Depois de tr�s anos de cultivo, ele decidiu comprar uma m�quina para cortar a palma.


Sem �gua, mais custos

A seca reflete diretamente no aumento de custos para o pecuarista Oswaldo Miranda, que tem uma cria��o de animais da ra�a nelore em sua fazenda, Est�ncia OMJ, no munic�pio de Montes Claros. O produtor relata que, ap�s quatro anos seguidos de estiagens prolongadas, se viu obrigado a investir na alimenta��o alternativa para manter o rebanho diante da falta de pasto, destru�do pelo sol forte.

“O meu custo aumentou em cerca de 25% a 30%”, lamenta Miranda, que investiu em capineira e silagem para poder alimentar os animais na maior parte do ano. Ele explica que o custo de produ��o � vari�vel. “No caso de um bezerro, que come menos, � menor. Mas, para manter uma vaca adulta, a despesa praticamente dobra”, ressalta o agricultor, que usa silagem de milho e sorgo.

A fazenda dele fica localizada em uma regi�o de terras f�rteis, na beira do Rio Verde Grande. Mesmo assim, a maior parte da pastagem foi devastada pela escassez de chuvas. Atualmente, ele conta com cerca de 100 bezerros que s�o alimentados com ra��o, presos no curral, como se estivessem no sistema de confinamento, embora a cria��o seja do sistema extensivo (pastagem).

Oswaldo Miranda destaca que “colocar o gado no cocho” foi a �nica maneira que ele encontrou para se manter na atividade e evitar preju�zos ainda maiores com a perda de animais.

O pequeno agricultor Gilmar Leite Caetano, de 44 anos, fez algumas inova��es no plantio de hortali�as no seu s�tio, na comunidade de Ab�boras/Serra Velha, no munic�pio de Montes Claros. O objetivo dele: gastar menos �gua e conviver com a seca. “Temos que nos adaptar � severidade da crise h�drica”, afirma Gilmar. Ele retira �gua do Rio S�o Lamberto, que est� minguado. “No ano passado, o rio cortou e a �gua ficou somente em alguns po�os”, conta.

O pequeno produtor recorre a variedades resistentes � falta de chuvas e adota t�cnicas para economizar �gua. Uma delas � o uso da chamada “cobertura morta”, mat�ria org�nica como capim e folhas secas nos canteiros de alface e alho. “A cobertura morta aduba a terra, cobre o solo e garante maior umidade, diminuindo o consumo de �gua”, explica Gilmar. Outra t�cnica adotada por ele � o plantio consorciado de couve, repolho, r�cula e outras hortali�as com banana. “As bananeiras fazem sombra e impedem que as planta��es fiquem expostas ao sol o dia inteiro. Dessa forma, diminui a evapora��o e d� para economizar �gua”, explica o sitiante.

Respingos no com�rcio

A estiagem prolongada reflete diretamente na queda das vendas no com�rcio das cidades do Norte de Minas. Mesmo os comerciantes que trabalham com produtos e equipamentos que ajudam o agricultor a conviver com a falta de chuvas afirmam que “n�o ganham dinheiro com a seca”. Propriet�rio de uma loja de ra��es, defensivos, vacinas e outros produtos agr�colas em Montes Claros, Jo�o Newton Pereira Lopes explica que n�o tem lucros com a seca porque o fen�meno afeta a economia regional, diminuindo a circula��o de dinheiro. “No geral, ao contr�rio de aumentar, as vendas diminuem e ficam dispersas. As consequ�ncias s�o ruins para todo mundo”, frisa.

Lopes afirma que, na verdade, procura orientar os produtores rurais nas a��es para o conv�vio e supera��o dos efeitos da estiagem. “Ficamos apagando inc�ndio, na tentativa de impedir perdas maiores. Por exemplo, se chega um criador e diz que vai vender uma vaca magra, com preju�zo, a gente orienta que ele alimente o animal para engord�-lo e ganhar algum dinheiro”, explica.

Ailton Santos Souza, tamb�m dono de uma revenda de insumos, afirma que a estiagem prolongada afeta toda cadeia produtiva. “Se n�o tem pasto, toda a cadeia econ�mica do agroneg�cio desmorona”, diz. Etelmiro Mendes Rocha, dono de uma empresa que trabalha com ordenhadeiras mec�nicas e outros equipamentos e materiais para pecu�ria observa que a produ��o de leite na regi�o teve uma queda de 30%, por causa da seca. “Nossas vendas diminu�ram na mesma propor��o”, lamenta.


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