
Ao se formar em Agronomia, em 2010, Lucas Castro Alves de Sousa assumiu a frente dos neg�cios da fam�lia nas Fazendas Vista Alegre, em Capim Branco, momento em que a propriedade n�o se sustentava economicamente. Decidiu criar um projeto, aproveitando a experi�ncia de produtores rurais da cidade, que h� 20 anos haviam migrado para o sistema org�nico de produ��o. Uniu-se ao produtor Marconi Gon�alves Xavier, um dos primeiros certificados no estado. “Foram seis anos para converter � nova proposta, j� que, desde o in�cio, sabia que n�o teria vez no mercado convencional. Uni a proposta da satisfa��o pessoal com a possibilidade de estar em contato direto com o consumidor.”

Trabalhar na mesma �rea a produ��o de frutas e hortali�as com esp�cies florestais e com madeira, atrai insetos ben�ficos, inimigos naturais das pragas, al�m de fornecer biomassa e forra��o cobrindo 100% da terra, mantendo a umidade e a prolifera��o de insetos e micro-organismos que a mant�m rica em nutrientes.
“Na agricultura convencional, o solo � apenas o meio f�sico em que a planta vai se instalar. Tudo � trazido de fora: a �gua e o adubo. Na org�nica, o solo quanto mais vivo melhor. Essa biodiversidade ofertar� os nutrientes que a planta precisa para se criar forte e resistente. Trabalhamos com a preven��o. Num solo sadio, em ambiente que favore�a o desenvolvimento, a planta estar� preparada para combater naturalmente a praga”, explica.
S�o nove hectares em cons�rcio de 30 variedades de horta, 10 de frutas, gr�os e madeira. Num mesmo canteiro h� br�colis, alface e r�cula, entre outras, intercalados com frutas, como bananeira, lim�o, laranja, mexerica e madeira (eucalipto ou mogno). Uma l�gica da floresta, em que uma �rvore que precisa de mais luz estar� num extrato mais alto, sem atrapalhar as demais. “A sucess�o natural. Uma �rea de queimada, um dia virar� floresta, mas, at� chegar l�, vir� primeiro o capim, que dura pouco tempo, depois surgem os arbustos e, por fim, as �rvores maiores.”
EM DOMIC�LIO A fazenda � respons�vel pela entrega de 200 cestas semanais com produtos org�nicos em domic�lio e uma tonelada de alimentos em supermercados. O comprador interessado entra na p�gina da fazenda, faz um cadastro e seleciona os produtos a serem entregues em sua resid�ncia. O engenheiro emprega dois sistemas de trabalho: um com 20 funcion�rios, que plantam, colhem, embalam, despacham e entregam os produtos e ou outro no sistema de partilha. Entrega as sementes e capacita o parceiro interessado. Os lucros e preju�zos s�o divididos em partes iguais.
Cidades vizinhas a Belo Horizonte, conhecidas h� alguns anos como cintur�o verde por fornecer hortali�as � capital, v�m observando a migra��o da agricultura formal para a produ��o de org�nicos, como Sarzedo, Contagem, M�rio Campos e Brumadinho, entre outras. Os munic�pios de Capim Branco e Matozinhos foram os primeiros do estado a obter a Declara��o de Cadastramento de Produtores Org�nicos, emitido pelo Mapa, por meio do processo da Organiza��o do Controle Social (OCS), em abril de 2011. Capim Branco tem na agricultura sua principal fonte de renda.
De acordo com Marcelino Teixeira da Silva, extensionista agropecu�rio da Emater no munic�pio, hoje, Capim Branco conta com tr�s empresas produzindo alimentos org�nicos, sendo que s�o empregadas diretamente mais de 100 pessoas. Tamb�m desenvolvem essa atividade mais de 30 fam�lias da regi�o, algumas j� certificadas como produtoras org�nicas, outras em processo de certifica��o.
Troca lucrativa
CSA � um modelo de um trabalho conjunto entre produtores de alimentos org�nicos e consumidores: um grupo fixo de consumidores se compromete por um ano (em geral) a cobrir o or�amento anual da produ��o agr�cola. Em contrapartida, os consumidores recebem os alimentos produzidos pelo s�tio ou fazenda, sem outros custos adicionais. Dessa forma, o produtor, sem a press�o do mercado e do pre�o, pode se dedicar de forma livre � sua produ��o. E os consumidores recebem produtos de qualidade, sabendo quem os produz e onde s�o produzidos.
Certifica��o importante
S� � considerado alimento org�nico aquele que recebe o certificado “Produto Org�nico Brasil”. A certifica��o fornece ao consumidor a garantia de levar para casa um produto isento de contamina��o qu�mica. O selo assegura tamb�m que o produto � resultado de uma agricultura capaz de preservar a qualidade do ambiente natural, qualidade nutricional e biol�gica de alimentos e qualidade de vida para quem vive no campo e nas cidades. A certifica��o � o procedimento pelo qual uma certificadora, devidamente credenciada pelo Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa), assegura por escrito que determinado produto, processo ou servi�o obedece �s normas e pr�ticas da produ��o org�nica.

Produ��o financiada
A op��o por compor o card�pio di�rio com alimentos mais saud�veis vem impulsionando a produ��o de org�nicos no pa�s. Um sistema de coopera��o entre pequenos produtores de org�nicos e consumidores (denominados coprodutores) tem garantido o fortalecimento do setor na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte e a presen�a de alimentos saud�veis na mesa de pelo menos 120 fam�lias associadas. A cesta � composta por produtos de �poca, seguindo um padr�o que inclui certa quantidade de folhosas, frutas, legumes, gr�os e temperos n�o convencionais, entre outros. Os alimentos s�o origin�rios de tr�s propriedades que se revezam a cada semana. Cada fam�lia paga um valor de R$ 160 mensais e recebe uma cesta por semana.
O modelo � uma proposta da “Comunidade que Sustenta a Agricultura” (CSA), criada em 1970, no Jap�o, e que se espalhou pelo mundo. CSA � uma organiza��o sem fins lucrativos, que constr�i, como modelos, projetos agr�colas baseados na comunidade, nos quais os agricultores podem se orientar para garantir um futuro a pequenos empreendimentos agr�colas. A entidade tamb�m acompanha e supervisiona esses projetos em forma de rede, que j� se espalhou por todo o Brasil.
O objetivo �, ao contr�rio da monocultura, desenvolver diversidade na agricultura, na qual as fazendas e seus trabalhadores t�m garantida renda equilibrada e s�o apoiados no processo de transi��o para agricultura ecol�gica.
Cac� Cabral, coprodutora e respons�vel pela log�stica da CSA Nossa Horta, considera ser essa uma forma de estimular o consumo desses produtos. “As pessoas podem optar por receber em casa ou buscar em pontos predeterminados”, geralmente, aos s�bados. “Essa mensalidade financia esses pequenos produtores”, explica.
Os pre�os mais altos que os do mercado convencional s�o motivados pela falta de estrutura log�stica e incentivos oficiais para a produ��o, segundo o engenheiro agr�nomo Lucas Castro Alves de Sousa. O org�nico � mais artesanal, envolve maior n�mero de m�o de obra que em um meio mecanizado ou onde se usa herbicida e inseticida. N�o h� cadeia estruturada e s�o escassos os incentivos para facilitar as atividades do setor. “Com a evolu��o da tecnologia de 2012 para c�, muita coisa j� melhorou. Mas ainda falta muito apoio para comercializa��o”, reconhece Lucas Castro.