

Os dados recentes das exporta��es mineiras de algod�o demonstram o cen�rio favor�vel para a cultura. Em fevereiro, de acordo com levantamentos do Minist�rio da Ind�stria, Com�rcio Exterior e Servi�os (Mdic) analisados pela Secretaria de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento – Seapa, Minas Gerais registrou crescimento tanto no volume embarcado quanto no valor das exporta��es, acompanhando a tend�ncia nacional.
O valor das exporta��es mineiras alcan�ou US$ 7,6 milh�es, com crescimento de 40,99% em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado, e o volume atingiu 3,5 mil toneladas (+78,8%). A produ��o mineira de algod�o � exportada para 34 pa�ses. Vietn�, China, Bangladesh, Cingapura e Argentina respondem pela compra de 67% do total do algod�o exportado pelo estado.

Na avalia��o do subsecret�rio de Pol�tica e Economia Agr�cola da Seapa, Jo�o Ricardo Albanez, o cultivo do algod�o no estado vem registrando aumentos significativos nos �ltimos anos. “Isso se deve aos bons pre�os alcan�ados nos mercados externo e interno. O cen�rio mundial aponta para uma estabiliza��o ou mesmo redu��o na safra dos principais pa�ses produtores (China, Paquist�o, �ndia e EUA), com a diminui��o do n�vel dos estoques. Isso favorece a remunera��o do produtor na safra que ser� colhida e foi o fator determinante para o aumento de �rea plantada e volume registrados, tanto em Minas como em todas as regi�es produtoras no pa�s”, explica.
Na outra ponta da cadeia, as ind�strias t�xteis t�m assegurada a desonera��o fiscal junto � Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), por meio da isen��o de 41,66% do cr�dito presumido de ICMS, ao adquirir o algod�o certificado dos produtores mineiros, o que viabiliza a competitividade da tradicional ind�stria t�xtil mineira.

Esse resultado contribui para o fortalecimento do Programa Mineiro de Incentivo � Cultura do Algod�o (Proalminas), na medida em que amplia a disponibilidade da pluma para as ind�strias t�xteis instaladas no estado. Por meio do Proalminas, o produtor tem garantida a compra de sua produ��o pelo pre�o de mercado, mais um adicional de 7,85% no valor. As ind�strias que participam do programa t�m o compromisso de comprar uma cota do algod�o produzido e beneficiado no territ�rio mineiro.
MOBILIZA��O O Proalminas nasceu em 2003, momento em que as ind�strias t�xteis come�aram a fechar as portas e houve uma mobiliza��o do setor no sentido de pressionar o estado para que se posicionasse. “Foi ent�o que surgiu a proposta de um programa que abarcasse toda a cadeia: da produ��o, processamento e a ind�stria, mediado pelo estado”, conta Carlos Eduardo Oliveira Bovo – superintendente de desenvolvimento agropecu�rio da Seapa.

Al�m da contrapartida da ind�stria para isen��o do cr�dito presumido de ICMS, ela destina 1,5% desse cr�dito para o Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura (Algominas), cujo princ�pio � fomentar a cadeia com tecnologias, inova��es e apoio � produ��o, explica Bovo. A gest�o do fundo � compartilhada entre representantes do estado, da ind�stria e do produtor. Esses gestores definem a cada ano como aplicar os recursos de forma a fortalecer essa cadeia.
“O que podemos observar � que nos �ltimos anos houve um ganho em inova��o tecnol�gica. Nosso algod�o tem qualidade reconhecida mundialmente e a produtividade aumentou muito por hectare. Ampliou-se a exporta��o devido � qualidade. A regi�o do Norte de Minas, por exemplo, que era muito forte na produ��o de algod�o, principalmente atrav�s da agricultura familiar, e teve as planta��es devastadas ap�s ataque da praga do bicudo, est� retomando essa cultura por meio de associa��o de produtores, selando parceria com o estado atrav�s desse fundo, que fomenta a irriga��o de salvamento”, constata o superintendente.
De acordo com o t�cnico agropecu�rio da Cooperativa de Produtores de Caputi, no Norte de Minas, Jos� Tib�rcio de Carvalho Filho, o projeto vem sendo aplicado h� 12 anos, “mas com o veranico de 2011 – uma das maiores crises h�dricas da regi�o –, tivemos que reinventar nossos m�todos de plantio”. Com o apoio do fundo de incentivo, os algodoeiros da regi�o adotaram a “irriga��o de salvamento”. O sistema � operado atrav�s do gotejo, utilizando-se a �gua da chuva coletada em tanques constru�dos para armazenamento e bombeadas em grande parte por meio tubular de baixa vaz�o. As gotas v�o diretamente ao p� da planta, evitando desperd�cio do l�quido, inclusive com evapora��o. “A princ�pio, era usado em 10 hectares, e j� alcan�amos 260”.
"Houve ano em que aumentei a ro�a e colhi bem menos, num alto e baixo de produtividade''
Z� Brasil, produtor
A irriga��o � cara, admite Tib�rcio, mas a produtividade � alta. “O algod�o no sistema sequeiro (que depende apenas da precipita��o pluvial), al�m de ser de qualidade inferior produzia em m�dia 30 arrobas por hectare. Com a irriga��o chegamos a at� 350 arrobas por hectare. Os tanques e barramentos da �gua da chuva podem usar a energia solar para movimentar as bombas. Segundo o t�cnico da cooperativa de Caputi, com 40 minutos de chuva, com volume de 67mm, � poss�vel armazenar um milh�o de litros, o que daria para irrigar por 20 dias uma �rea de dois hectares.
A irriga��o de gotejo n�o � usada durante todo o ciclo produtivo e � acionada em momentos cr�ticos de seca. “Como a regi�o tem um per�odo curto e concentrado de chuvas, o objetivo da irriga��o de salvamento � garantir a oferta de �gua nos per�odos cr�ticos de seca, evitando o estresse da planta que compromete a sua produtividade”, explica Carlos Eduardo Bovo. T�cnicos da Emater-MG na regi�o v�m recebendo treinamentos para certifica��o da produ��o pelo programa Certifica Minas.
O algod�o � uma das culturas mais resistentes � seca, por isso � ideal para o semi�rido. Ao se associar a tecnologias, passa a ter valor agregado significativo. Os produtores t�m apoio do Fundo com o fornecimento de kits para a irriga��o por gotejamento e ferramentas para controle biol�gico de pragas. “Com o uso de drones podemos realizar esse controle biol�gico em qualquer tipo de propriedade, das menores �s grandes planta��es. Outro ponto positivo � que o produtor que vendia o algod�o in natura conseguiu, formando parcerias, montar miniusinas de processamento, alcan�ando valor agregado muito maior”, observa Carlos Bovo.
O produtor Jos� Alves de Souza, conhecido pelo apelido de Z� Brasil, conhece a cultura do algod�o desde os 7 anos, quando acompanhava o pai no plantio de sequeiro e os tratos culturais da lavoura, em Catuti. Houve um tempo, quando chovia bem, que a colheita rendia at� 230 arrobas por hectare. Com as intemp�ries clim�ticas e a irregularidade das chuvas que caracterizam o semi�rido mineiro, a produ��o da fam�lia foi caindo, chegando a praticamente zero. “Houve ano em que aumentei a ro�a e colhi bem menos, num alto e baixo de produtividade, que dependia da vontade de Deus em mandar chuva”, relembra Z� Brasil.