PASSADO E FUTURO

“Tenho muito medo de enfrentar a vida. Sou bastante insegura. Sinto-me covarde e sem criatividade para tentar sair dos problemas. Tudo que come�o a fazer quase sempre n�o termino. Quanto mais sofro mais desorientada fico e menos coragem tenho de reagir. J� estou desesperada pois temo muito meu futuro. Gostaria de algumas palavras suas de ajuda.”

n Gisele, de Belo Horizonte

A import�ncia dessa carta � que me enseja a possibilidade de falar de dois inimigos cruciais para a felicidade humana: o passado e o futuro. A raiz de todos os nossos sofrimentos � o pensamento. Ele � que nos leva para as dores do passado e as preocupa��es com o amanh�. A capacidade de lembrar e de prever � um grande dom dos homens desde que n�o nos leve ao sofrimento e desespero.
Qual o papel do passado em nossa vida? A �nica e exclusiva fun��o do passado � o aprendizado. Aprender com nossos erros, nossos fracassos, nossas quedas. O passado � um mestre e n�o um algoz. Quando olhamos para tr�s e sentimos culpa ou m�goa ou saudade ou vergonha estamos nos envolvendo numa teia de sofrimento sem sa�da de vez que o que passou, passou e � imposs�vel voltar atr�s.
H� uma linda hist�ria no Antigo testamento que ilustra magistralmente o perigo de resistir �s mudan�as atrav�s do apego ao passado. Havia duas cidades: Sodoma e Gomorra, e Deus resolveu destru�-las. Chamou L� e sua mulher, comunicou a eles o seu prop�sito e concedeu a eles o direito de fugirem quando ele estivesse aniquilando as duas cidades. E imp�s uma �nica condi��o: “Quando voc�s fugirem da cat�strofe, N�o olhem para tr�s”. A mulher de L�, ao transgredir a ordem, foi castigada virando uma est�tua de sal. O simbolismo � claro. A est�tua � im�vel e o sal conserva. Viramos est�tua de sal quando vivemos a vida pelo retrovisor lamentando o que ocorreu e perdendo a oportunidade de aprender com a experi�ncia. Isso ocorre com frequ�ncia nas rela��es familiares, sociais ou afetivo-sexuais, quando deixamos o passado dominar nossos relacionamentos, nos esquecendo da beleza de viver daqui para a frente.
Se olharmos para tr�s sem o desejo de crescer e de mudar e, portanto, sem esperan�a n�s nos sentiremos desanimados, impotentes e tristes. Grande parte do nosso sofrimento � pensarmos no futuro por meio do medo, sobretudo o medo de perder o que conseguimos ou o medo de n�o alcan�ar aquilo que desejamos.
Aqui tamb�m duas posturas s�o poss�veis ao olhar para o amanh�. Podemos ver o futuro como incentivo � constru��o da nossa vida, como refer�ncia para o nosso desenvolvimento ou podemos v�-lo, como infelizmente nos foi ensinado, como algo catastr�fico, perigoso, atemorizador. A ansiedade, o medo, a preocupa��o s�o formas de nos escravizarmos ao futuro.
O futuro n�o � para ser temido, mas constru�do. A fixa��o de objetivos claros para a nossa vida, sejam eles materiais, espirituais, sociais ou afetivos nos tira de uma postura passiva diante do amanh� e nos institui donos da nossa pr�pria vida. Em vez de tentar adivinhar o futuro, por meio de nossas supersti��es e pressentimentos, � saber que ele ser� em grande parte, aquilo que dele fizermos.
Gisele, perdoe-se pelo seu passado e veja no amanh� uma tela em branco onde voc� vai pintar um quadro, que pode, �s vezes, n�o ser o melhor do mundo, mas que ser� seu, fruto da sua coragem de dar algo de si e que a levar� � felicidade.ofrer ou lutar. Eis a quest�o.