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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Natal sem brigas: mensagem � de respeito e paz

Psiquiatra explica que discuss�es mais acaloradas, seja envolvendo pol�tica, religi�o ou futebol, n�o combinam com as festividades natalinas


18/12/2022 04:00 - atualizado 18/12/2022 08:31
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casal
Mesmo que haja diverg�ncias entre o casal, os filhos ou entre os familiares mais distantes, essas reuni�es precisam ser afetivas para que n�o se transformem em pesadelo (foto: Pixabay)


Como celebra��o do nascimento de Jesus, o Natal significa a entrada de Deus na ess�ncia humana. Est� na “B�blia”. Para os crist�os, Deus veio habitar entre os homens, tornando-se igual a eles e, assim, fazendo tamb�m todos iguais na f� e no amor. Mas n�o � s� para o cristianismo. Seja qual for a religi�o ou a aus�ncia dela, a mensagem � de alegria e confraterniza��o. S�o momentos para enaltecer a gratid�o pela vida. E, por isso mesmo, quando as brigas acontecem, esse sentido � deturpado.
 
Na fam�lia do taxista Jos� Roberto Pinto, de 67 anos, o exemplo � de uni�o. Natural de Erv�lia, na Zona da Mata mineira, ao todo s�o nove irm�os, todos casados, com filhos e netos, que j� est�o na quarta gera��o. Sempre, no fim de ano, uma parte se re�ne para as festas em Cana�, na mesma regi�o de Minas, na casa de uma das irm�s de Jos�.
 
Ana Paula Brasil, psiquiatra
(foto: Andr� Usagi/Divulga��o )
 
 

"Em festividades como o Natal, temos a oportunidade de celebrar o fato de estar vivos e junto daqueles que amamos. Diante de tantas dificuldades que estamos passando, ganhou uma import�ncia ainda maior"

Ana Paula Brasil, psiquiatra

 
 
Eles ainda est�o decidindo se o encontro de Natal vai acontecer este ano, depois do intervalo dos dois �ltimos anos devido � pandemia. O taxis-ta lembra a m�xima que � seguida � risca entre os parentes: pol�tica, futebol e religi�o n�o se discutem. "Alguns s�o Bolsonaro, outros Lula. Mas ningu�m fica cutucando um ao outro. N�o falamos de pol�tica, e isso aconteceu naturalmente, sem nenhuma influ�ncia externa. O que considero necess�- rio. E o Natal � uma �poca para lembrar o respeito, para manter a paz", diz.
 
 
"Somos seres sociais e, assim, temos uma tend�ncia em estabelecer rela- ��es sociais e afetivas. Com a quest�o pol�tica e pand�mica, algumas rela��es estiveram estremecidas, mas tamb�m sabemos que h� quase uma conven��o social nas festividades de fim de ano. A polariza��o que observamos por moti- vos pol�ticos, n�o d� certo em nenhuma rela��o humana", pondera a psi- quiatra Ana Paula Brasil.
 
 
“� necess�rio recuperar a capacidade de falar o que se pensa, e tamb�m ouvir o que o outro pensa. Para isso, o di�logo � primordial. Com as quest�es pol�ticas, muitas pessoas passaram a viver uma esp�cie de luto, uma vez que as diverg�ncias culminaram em rupturas de rela- ��es que antes eram fonte de apoio e amor. Isso n�o � f�cil de elaborar. Todos esses aspectos podem causar sofrimento ps�quico”, chama a aten- ��o Ana Paula.
 
O Natal �, por si s�, momento em que as pessoas est�o mais sens�veis. A pandemia e a pol�tica, tamb�m temas pol�micos, ajudam a potencializar emo��es, seja para o bem ou para o mal. "Quest�es que nos fazem consi- derar a nossa fragilidade, ou ainda determinar um ponto de vista por vezes de forma mais en�rgica s�o suficientes para mobilizar o nosso emocional. 
 
A �poca natalina pode ser vista como uma oportunidade de reencontro ou, ainda, serve para reacender a chama de discuss�es saud�veis, mesmo que com opini�es opostas", acrescenta Ana Paula.

TOLER�NCIA


“Diante de acontecimentos recentes”, continua a psiquiatra, “t�m ocorrido brigas, sentimentos de �dio mais presentes, que se espa- lham devido a vis�es diferentes de mundo, n�o s� pela pol�tica, mas por quest�es religiosas, sociais e raciais, por exemplo. � um caminho delicado. � preciso entender e mudar. Por mais que compreendamos diferentes formas de se ver a vida, o mais importante � perceber que n�o se acaba com conflitos com mais �dio e rancor. Somente com a toler�ncia e com a paz seremos capazes de retomar o equil�brio”, diz. 
 
E essa � justamente a mensagem do Natal. "De paz, toler�ncia e compreens�o. Jesus Cristo foi o maior pol�tico conciliador que j� existiu, pois sempre esteve atento ao outro e  �s suas dificuldades", refor�a.
 
A supera��o de diverg�ncias representa um desafio individual, e � importante ter abertura para ouvir o outro, afirma a especialista. "Em festividades como o Natal, temos a oportunidade de celebrar o fato de estar vivos e junto daqueles que amamos. Diante de tantas dificuldades que estamos passando, ga- nhou uma import�ncia ainda maior", aponta.
 
Para Ana Paula, discuss�es acaloradas n�o costumam combinar com o esp�rito natalino. E, ainda que se acredite que futebol, religi�o e pol�tica n�o se discutem, � saud�- vel que o homem, como ser pensante e social, discuta e dialogue sobre o que experimenta. Mas ambientes de confraterniza��o n�o s�o os melhores para debates t�o acirrados, ela pondera.
 
"Estrat�gias e acordos que a pr�pria fam�lia estabelece, antes das comemora��es, como evitar assuntos pol�micos, podem ser �teis. Evitar rotular as pessoas ou generalizar ideias ou pontos de vista tamb�m � preciso. Al�m disso, se considerarmos que ainda estamos nos refazendo de tantas perdas que tivemos com a pandemia, as chances de estar bem e unidos s�o �nicas, e devem ser apro- veitadas com amor e respeito.” 
 
diz que é importante entender que a verdadeira felicidade nã
A psic�loga Adriane Pedrosa diz que � importante entender que a verdadeira felicidade n�o � algo tang�vel, que se compra ou vem de fora (foto: Arquivo pessoal)
 
 

Fuja da depress�o de fim de ano

 
Estamos a uma semana do Natal. Nesta �poca, a felicidade parece estar no ar. Ela aparece nas luzes coloridas dos shoppings, nas pra�as enfeitadas e nas propagandas de TV, que vendem, a todo instante, a ideia de que se deve ficar feliz neste per�odo, no melhor estilo ‘gratiluz’ e good vibes. H� ainda a press�o da fam�lia, dos colegas e dos amigos, o que acaba provocando um desgaste paradoxal: pessoas ficam infelizes porque se sentem na obriga��o de estar “bem”, “para cima”. Prova disso � que o Centro de Valoriza��o da Vida (CVV) divulgou que, no m�s de dezembro, principalmente durante o per�odo de datas comemorativas, as liga��es de pessoas pedindo ajuda costumam aumentar 15%.
 
Segundo a psic�loga Adriane Pedrosa, essa depress�o de fim de ano pode acontecer devido ao simbolismo que o per�odo carrega. “Nesta �poca, as pessoas costumam refletir sobre tudo o que fizeram. Geralmente, quando o saldo n�o � muito positivo, elas tendem a se frustrar, ficar mais tristes. Muitas, inclusive, acabam sucumbindo, pois n�o conseguem se deparar com essa fragilidade e o sentimento de impot�ncia ou fracasso”.
 
A especialista, que faz parte da equipe interdisciplinar da Cetus Oncologia, acrescenta ainda que o mundo de apar�ncias das redes sociais tamb�m pode despertar um sentimento de exclus�o em v�rias pessoas que n�o se sentem envolvidas pelo midi�tico ‘esp�rito natalino’. “Elas [as redes sociais] vendem muitos clich�s. O com�rcio, de modo geral, se apropria disso e cria a necessidade do consumo exagerado. Com isso, a sensa��o que se tem � de que a felicidade s� est� naquilo que aparece e � vis�vel aos olhos dos outros: no closet cheio de roupas novas, nos posts mostrando as fotos do r�veillon na praia. Logo, quem se sente � margem desse sistema opressor, infelizmente, fica mais vulner�vel”, ressalta. H� ainda, segundo ela, os casos em que as pessoas acabam comprando em excesso, nessas datas, apenas para camuflar as tristezas, decep��es e inseguran�as diante da vida.

Como lidar com essa �poca? Para Adriane, a melhor forma para quem deseja minimizar a sensa��o de depress�o e tristeza que pode surgir nesta �poca de festas ou n�o ser tomado pela onda exacerbada de consumo s� para se sentir inserido socialmente � entender que a verdadeira felicidade n�o � algo tang�vel, que se compra ou vem de fora. “Quem est� se sentindo vazio por achar que ela [felicidade] � medida por aquilo que temos e n�o somos, deve come�ar aos poucos, ter pequenas atitudes de gentileza no dia a dia, inclusive com pessoas desconhecidas, e n�o focar apenas em si”.
 
O trabalho volunt�rio em institui��es filantr�picas, segundo a psic�loga, pode ser uma alternativa nesse caminho. “Quando ajudamos os outros de forma genu�na, come�amos a nos sentir mais �teis e a buscar os pequenos prazeres em algo que est� dentro de n�s e n�o nas circunst�ncias ou nos outros”, pontua.
 
Ainda de acordo com a psic�loga, a partir do momento em que desenvolvemos essa postura humana, vamos nos nutrindo com sentimentos mais positivos, capazes de preencher a alma, como o amor, a bondade e a resili�ncia. “O final do ano e a forma midi�tica como ele � vendido s�o algo que sempre vai existir. O mais importante � tentarmos entender que esse momento � s� uma conven��o estabelecida em calend�rio. O que deve mudar � a nossa postura, ou seja, como encaramos essa passagem e de quais for�as iremos precisar para superar insucessos, traumas e at� perdas, que v�o al�m de Natal e r�veillon. 


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