Oscar 2023: 5 filmes que d�o aula sobre constela��o familiar

Que o cinema vai muito al�m da fic��o, todo mundo j� sabe. E a premia��o do Oscar diz muito sobre isso. Entre as grandes indica��es premiadas na noite de ontem, em Los Angeles, EUA, alguns nomes abrangem um tema importante, e muito atual, que entra indiretamente no enredo da hist�ria: a constela��o familiar.

A psicanalista e consteladora sist�mica familiar, Joseana Sousa, indica cinco sucessos do Oscar 2023 que explicam bem esse assunto e fazem o espectador expandir a consci�ncia e abrir o cora��o. Entre as an�lises da especialista est�o os indicados ‘Tudo em todo lugar ao mesmo tempo’, ‘A Baleia’, ‘Os Fabelmans’, ‘Aftersun’ e ‘Top Gun: Maverick’. 

Vencedor de melhor filme de 2023, o longa traz a hist�ria de Evelyn Wang, interpretada pela atriz Michelle Yeoh (vencedora do Oscar de melhor atriz), uma imigrante chinesa que passa por grandes dificuldades � beira da fal�ncia. Como se n�o bastasse, ela ainda est� em crise matrimonial e com a filha, que deseja apresentar a namorada para o av�, que � super “casca grossa”. Evelyn se v� � frente da exist�ncia do multiverso e na miss�o de derrotar um inimigo que pretende destruir todas as realidades.

Segundo Joseana, no filme, a personagem central busca entender o que aconteceu com seu pai, que desapareceu misteriosamente, e acaba descobrindo segredos e traumas da fam�lia que afetaram todos os membros de forma inconsciente. “Da mesma forma, na constela��o familiar, o objetivo � trazer � tona quest�es ocultas ou mal resolvidas nas rela��es familiares para que possam ser compreendidas e solucionadas, trazendo al�vio e cura para o indiv�duo e para o sistema familiar como um todo. � importante olhar para as quest�es familiares de maneira consciente, a fim de superar ciclos repetitivos e vivenciar rela��es mais saud�veis e equilibradas”, explica.

O filme 'A Baleia' tem Brandan Fraser, ganhador do Oscar de melhor ator 2023, como Charlie, um professor de ingl�s que vive recluso e alcan�ou a obesidade severa ap�s a morte do seu namorado. A trama ainda gira em torno da tentativa de Charlie em se reconectar com a filha adolescente, que se afastou por conta do seu relacionamento.

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A especialista ressalta que a abordagem sist�mica da constela��o familiar considera que o indiv�duo � parte de um sistema maior, que inclui sua ancestralidade, sua cultura e seu ambiente. Assim, as din�micas e problemas que s�o apresentados na vida do indiv�duo podem ter suas ra�zes nesse sistema mais amplo. “No caso do filme, as quest�es do personagem Charlie podem estar relacionadas com a din�mica familiar e o hist�rico das rela��es e experi�ncias desses membros”, completa a psicanalista.

A constela��o familiar pode ajudar a trazer � tona essas quest�es n�o resolvidas e/ou ocultas, permitindo que elas sejam compreendidas e trabalhadas de forma consciente.

Em Fabelmans, a hist�ria se passa ap�s a Segunda Guerra Mundial, na qual, o pequeno Sammy (Gabriel LaBelle) vive com sua irm�, a m�e Mitzi (Michelle Williams) e o pai Burt (Paul Dano), no Arizona, Estados Unidos. Aos 7 anos, Sammy j� havia mostrado um incr�vel fasc�nio pelos filmes. O tempo passa, ele cresce, aprende sobre sua fam�lia e, incentivado pela veia art�stica da m�e, desenvolve seu talento a ponto de contar hist�rias atrav�s das c�meras.

Ao trazer uma abordagem sist�mica para o filme "Os Fabelmans", segundo Joseana, pode-se perceber que os conflitos e desafios enfrentados apresentam ra�zes profundas na din�mica familiar e em sua conex�o com o sistema. O filme mostra como tradi��es, cren�as, expectativas culturais e hist�rico de traumas podem influenciar a maneira como os membros da fam�lia se relacionam e enfrentam seus desafios. Essa abordagem pode ser uma ferramenta �til para trazer clareza e equil�brio para a din�mica familiar, permitindo que os membros compreendam melhor a si mesmos e uns aos outros, ressignificando suas rela��es e curando feridas emocionais profundas.

“Al�m disso, o filme tamb�m destaca a import�ncia do di�logo e da comunica��o para superar os conflitos e alcan�ar a harmonia. Por meio de conversas honestas e abertas, os membros da fam�lia podem encontrar solu��es para seus problemas e fortalecer seus la�os”, completa.

Em uma hist�ria repleta de mem�rias afetivas, Sophie, de 11 anos, aproveita o raro tempo com seu pai amoroso e idealista, Calum. Vinte anos depois, as lembran�as de Sophie de suas �ltimas f�rias se tornam um retrato poderoso e doloroso do relacionamento deles, com mem�rias reais e imagin�rias.

Joseana Sousa analisa que a hist�ria apresenta uma din�mica complexa, com conflitos e ressentimentos ocultos que afetam a rela��o entre os membros da fam�lia. “A constela��o familiar pode ser uma ferramenta �til para trazer luz e consci�ncia para essas quest�es n�o resolvidas e permitir que os membros compreendam melhor uns aos outros e aceitem a vida como lhe foi apresentada, sem cobran�as ou pesares”, destaca.

Ao representar a din�mica familiar em uma constela��o, � poss�vel visualizar as rela��es e conex�es entre cada indiv�duo, incluindo aqueles que est�o ausentes ou falecidos. Isso pode levar a novas perspectivas e compreens�o dos problemas que afetam a din�mica familiar e a vida dessa pessoa, ajudando a esclarecer as raz�es por tr�s do afastamento entre o pai e a filha, e tamb�m a superar as emo��es negativas associadas a traumas passados. Al�m disso, a abordagem pode ajudar a ressignificar as rela��es familiares, permitindo que cada um encontrem novas formas de se relacionar.

Na sequ�ncia de Top Gun: Ases Indom�veis, em Top Gun: Maverick, vencedor do Oscar de melhor som, vemos novamente a hist�ria de Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise), um piloto � moda antiga da Marinha que coleciona muitas conquistas, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de avi�es inimigos j� abatidos nos �ltimos 30 anos. Por�m, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capit�o e tornou-se um instrutor. A explica��o para esse decl�nio � simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, desafiando a morte. Nesta nova aventura, Maverick precisa provar que o fator humano ainda � fundamental no mundo contempor�neo das guerras tecnol�gicas.

Como psicanalista e tamb�m, pilota, Joseana comenta que uma das din�micas mais evidentes no filme � o deslocamento de pap�is, a rela��o entre os personagens Maverick e Rooster. A morte do pai de Rooster � um evento traum�tico que afeta profundamente sua vida e seu comportamento. Na constela��o familiar � poss�vel observar como esse trauma afeta a forma como ele se relaciona com outras figuras paternas em sua vida, assim como o peso da responsabilidade assumida por Maverick. “Dentro das din�micas familiares, quanto mais n�s tentamos impedir os eventos para que eles n�o se repitam, mais empurramos o destino para que aconte�a novamente. Dentro dessa abordagem n�o cabe julgamentos, n�o cabe certo e errado, nem o que teria sido se... Aqui cabe aceitar as experi�ncias como chegaram at� voc� e fazer o melhor que podemos agora, honrando e respeitando o passado como foi”, explica.

Outra din�mica que pode ser explorada � a rela��o entre Maverick e Charlotte (interpretada por Kelly McGillis). Durante a constela��o familiar � poss�vel perceber como as expectativas culturais e sociais em rela��o ao papel das mulheres afetam a din�mica entre os personagens femininos e masculinos. Esse movimento pode ser entendido a partir das rela��es familiares que moldaram essas expectativas.

A abordagem de Bert Hellinger tamb�m pode ser utilizada para analisar a din�mica entre os personagens masculinos e sua rela��o com a figura paterna. “Por exemplo, a rela��o entre Maverick e Tom Skerritt pode ser compreendida como uma din�mica de lealdade inconsciente que tem suas ra�zes na rela��o de Maverick com seu pai”, completa a profissional.

Por fim, a constela��o familiar pode ser utilizada para entender a din�mica entre os personagens coletivamente. Assim, � poss�vel identificar padr�es emocionais e comportamentais que se repetem por meio das gera��es e que afetam a din�mica familiar como um todo. Assim como as dificuldades provenientes da quebra hier�rquica.