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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Fam�lias rompidas pelas elei��es: 'Voc� n�o � mais bem-vindo', diz m�e

Rela��es familiares foram abaladas por conta das elei��es, que terminaram em discuss�es, brigas e at� afastamentos


04/11/2022 09:35 - atualizado 04/11/2022 09:35

Lula e Bolsonaro
BBC News Brasil conversou com pessoas que disseram ter as rela��es familiares abaladas por conta das elei��es (foto: EPA)
Um dia ap�s a vit�ria de Lula nas elei��es presidenciais de 2022, *Gustavo (nome fict�cio), de 32 anos, conta ter sido ignorado pelos irm�os, desprezado pelo pai e xingado pela pr�pria m�e por ter votado no petista. Em entrevista � BBC News Brasil, o paranaense conta, sob a condi��o de anonimato, que se sente humilhado e planeja pedir demiss�o da empresa da fam�lia, na qual trabalha h� quatro anos.

"Comemorei a vit�ria com todas as minhas for�as. Eu trabalho com meus pais, mas moro sozinho. No dia seguinte, quando cheguei na empresa para trabalhar, meu pai - bolsonarista - me cumprimentou normalmente e fez zero coment�rios sobre o pleito. Por mim, tudo bem. Minha m�e, por outro lado, t�o logo sentou em sua mesa, passou a me atacar. Disse que, se eu voto em ladr�o e corrupto, n�o sou mais bem-vindo na empresa da fam�lia", conta ele � reportagem.

Gustavo disse ter ficado muito abalado pelas frases ditas pela m�e dele, mas a que mais incomodou foi a m�e dizer que "eu preciso dela mais do que ela precisa de mim, ent�o devo calar a boca". A maneira como ela reagiu e olhou para o pr�prio filho foi o que mais o abalou.

"Foi um choque ver que minha m�e n�o estava me vendo como filho, mas como inimigo pol�tico. Ela foi cruel nas palavras. Ela pegou em pontos pesados. Ela falou com raiva. Ela falou com c�lera no olhar", lembra ele.

Leia tamb�m:  Como se proteger de tristeza, raiva e medo ap�s elei��o.

A elei��o mais acirrada e polarizada da hist�ria da democracia brasileira dividiu o pa�s, distanciou amigos e rompeu la�os afetivos. A BBC News Brasil conversou com pessoas que disseram ter brigado com familiares por conta das elei��es deste ano. Todos os depoimentos foram enviados por meio de um formul�rio, que recebeu mais de 50 relatos.

Gustavo n�o est� apenas com vontade de deixar a empresa da fam�lia, mas tamb�m process�-los por ass�dio moral. "Mas seria injusto com meu pai e meu primo, que de forma nenhuma me destrataram por conta da minha op��o pol�tica. Eu s� quero sumir daqui. Todo esse �dio, essa c�lera desmedida, est� me fazendo muito mal. Estou segurando meu choro h� duas horas j�. N�o darei esse gostinho para minha m�e e seus devaneios fascist�ides", diz Gustavo � reportagem.

Ele conta que sempre houve diverg�ncias pol�ticas na fam�lia dele. No entanto, desde o in�cio da campanha, as discuss�es se tornaram mais r�spidas por conta principalmente do volume de mensagens que eles passaram a receber por meio do WhatsApp. Ele relata que pesquisava na internet e, juntos, eles identificavam as not�cias falsas.

"Ela recebia mensagens dizendo que o filho do Lula tem uma Ferrari de ouro. Ela acredita que o Brasil vai virar comunista. Que a gente vai comer cachorro, que vamos fechar as igrejas e v�o atear fogo nos padres. Mas, a partir da metade da campanha, eu acho que come�aram a intensificar os disparos de maneira perversa. E chegou o momento em que meus pais n�o me perguntavam mais se aquilo era verdade ou n�o. Eles aceitavam aquilo como verdade", relata.

Leia tamb�m: Sa�de mental e pol�tica: a representa��o do �dio na psique humana.

Com o passar do tempo, Gustavo relata que as discuss�es sobre pol�tica no trabalho se intensificaram e ficaram cada vez mais acaloradas.


Lula e Bolsonaro durante debate
Pa�s dividido � reflexo dentro do n�cleo familiar (foto: Reuters)

"Ficava um crime horr�vel para trabalhar o resto do dia. Chegou ao ponto de eu pegar e mudar o meu computador para a parte de cima do escrit�rio, para ficar distante da minha m�e. Mas n�o tinha tomada no escrit�rio em cima e tive de voltar a sentar na frente dela", conta ele.

"Ela falou que eu sou um filhinho de papai que trabalha na empresa dos pais e que eu deveria me mudar para o Nordeste porque l� s� tem vagabundo e petista", relata.

Ao ser questionado sobre uma bandeira branca e um sinal de paz e reconcilia��o com a m�e, Gustavo diz que vai esperar at� o in�cio da pr�xima semana para saber como ser� o futuro da rela��o entre eles.

"Eu sou rancoroso, mas eu consigo ver uma possibilidade de reaproxima��o. Se ela tiver a maturidade de vir pedir desculpas, eu talvez releve o ser perverso que ela revelou ser. Mas a maior probabilidade de acontecer � que eu j� estou procurando outro emprego para sair de l� o quanto antes", afirma.

"Ref�m em casa"

Pedro*, que mora em Bras�lia, disse que � o �nico na casa dele que n�o votou em Bolsonaro nestas elei��es. E que tem pouco espa�o para discutir pol�tica no mesmo ambiente onde mora com os pais e a irm�.

"Quando expliquei que talvez o Bolsonaro tenha perdido apoio por causa da maneira como ele lidou com a pandemia, a minha irm� come�ou a chorar e falar que 'agora n�o importa mais esse tanto de morte j� que o aborto vai ser legalizado'. Desde ent�o, fiquei de boca fechada para tudo o que eles falavam", afirma ao se dizer triste por n�o conseguir impedir que os familiares dele acreditem em not�cias falsas.

Ele acreditava que a rela��o com os familiares melhoraria ap�s o resultado das elei��es. "Com a vit�ria do Lula, agora o papo � outro. De elei��es roubadas a interven��o federal. N�o sinto que adianta eu explicar para eles que isso � inconstitucional porque ou�o como resposta que "� obriga��o das For�as Armadas proteger o pais". N�o aguento mais isso, me sinto um ref�m na minha pr�pria casa", relata.

�dio despejado aos gritos

Moradora de Curitiba, no Paran�, Clarice* disse que assistiu � apura��o do segundo turno das elei��es ao lado da m�e e do filho de 9 anos. Segundo ela, o clima passivo-agressivo tomou conta do ambiente durante boa parte do tempo.

A m�e dela, bolsonarista, fazia constantes cr�ticas ao voto da filha no Lula. Mas quando o pleito foi definido e Lula foi declarado presidente eleito, o clima mudou de maneira dr�stica.


Montagem de fotos de Bolsonaro e Lula
Lula recebeu 60.345.999 votos (50,90% dos votos v�lidos) e Jair Bolsonaro (PL), 58.206.354 votos (49,10% dos votos v�lidos) (foto: BBC)

"O �dio foi despejado aos gritos. Minha m�e me chamou de comunista, me agrediu verbalmente e n�o conseguiu manter o verniz religioso que sustenta a imagem bolsonarista. Ela n�o se importou nem em ser av�, destilando maldade na frente do meu filho. Usou at� meu pai, morto durante a pandemia e enterrado nu em um saco pl�stico, para me entristecer, afirmando que ele n�o me aceitaria", conta ela � BBC News Brasil.

Clarice relata que a m�e dela, com os dentes cerrados, disse que o pa�s se tornar� uma Venezuela, o que a deixou extremamente triste.

"Parece que tudo aquilo que estava compactado ali h� anos veio � tona. Ent�o foi. Foi uma hecatombe. Jamais fui petista e lulista. Apenas me posicionei contra a pol�tica de Bolsonaro. Enfim, venceu a democracia nas urnas, mas perdeu muito a humanidade nos �ltimos quatro anos, destruindo as fam�lias at� o �ltimo voto apurado", diz.

No ponto de vista dela, a mistura entre religi�o e pol�tica prejudicou ainda mais o debate na casa dela, pois a m�e � religiosa e deslegitima todos os argumentos dela por n�o frequentar a igreja.

Para Clarice, o clima ruim entre ela e a m�e deve perdurar "por um bom tempo".

A solu��o para ela, pelo menos por enquanto, ser� o distanciamento. "Infelizmente, estou me afastando da minha m�e, para curar minha sa�de emocional e a do meu filho. Penso em me mudar nas pr�ximas semanas. Espero que em algum momento, no futuro, isso possa ser diferente."

*O nomes usados nesta reportagem s�o fict�cios para preservar a imagem dos entrevistados

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63509500


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