
Nem vegetariano e nem vegano: o movimento reducetarianista envolve a redu��o gradual no consumo de carnes, peixes, frutos do mar, ovos e latic�nios, mas n�o os corta 100% da dieta.
Lan�ado pelo norte-americano Brian Kateman, em 2014, criador da Reducetarian Foundation, a ideia se prop�e a contribuir para a sustentabilidade e a preserva��o do meio ambiente. Como? Reduzindo o consumo de produtos que envolvem o manejo e o abate animal em larga escala. Para o indiv�duo, o movimento prop�e uma alimenta��o mais equilibrada.
No Brasil, o reducetarianismo encontra adeptos e respaldo entre m�dicos e nutricionistas. Mas � preciso come�ar o programa com o devido acompanhamento, j� que a carne e os derivados animais representam a maior fonte de prote�na na dieta humana. “A carne � uma das principais fontes de prote�nas da nossa alimenta��o, de import�ncia fundamental para o funcionamento adequado do organismo, exercendo diversas fun��es no corpo”, informa Fl�vio Moreira Greco Cosso, m�dico endocrinologista do corpo cl�nico do Hospital Madre Teresa.
O endocrinologista cita, ainda, que a prote�na animal � fonte de v�rias vitaminas e minerais, como as vitaminas do complexo B, principalmente B6 e B12, amino�cidos e minerais como ferro, zinco, sel�nio e f�sforo.
No entanto, � sim poss�vel e, muitas vezes, ben�fico reduzir o consumo de carne e derivados animais, explica o endocrinologista. “Embora a carne e outros alimentos de origem animal sejam a principal fonte de v�rias vitaminas e minerais, � poss�vel encontrar esses nutrientes em outros alimentos de origem vegetal. Em algumas situa��es, h� a possibilidade de se fazer a suplementa��o com vitaminas para evitar a sua defici�ncia em pessoas que desejam reduzir ou mesmo abolir os alimentos de origem animal de sua alimenta��o.”
MEIO AMBIENTE
O endocrinologista lembra que o reducetarianismo � um movimento recente, que tem se consolidado principalmente nos EUA nos �ltimos 4 anos. “Um dos principais focos do movimento � a preocupa��o ambiental. Ele prega uma alimenta��o balanceada e, no lugar de eliminar a carne e alimentos de origem animal, como o vegetarianismo e o veganismo, as pessoas reduzem drasticamente o seu consumo.”
Cosso garante que tal redu��o dos alimentos de origem animal pode ser bem-vinda, principalmente em pessoas cujo consumo de carne vermelha rica em gordura � muito elevado, o que pode contribuir para a gera��o de radicais livres e o aumento do risco de doen�as cardiovasculares, degenerativas e mesmo de c�ncer. A redu��o do consumo de derivados animais, principalmente quando s�o alimentos muito gordurosos, poderia ainda contribuir para facilitar a digest�o e a perda de peso, promovendo uma vida mais saud�vel.
“Ao contr�rio, em excesso, o consumo de carne vermelha – principalmente quando se ultrapassam 500 gramas por semana –, pode aumentar o risco de doen�as cardiovasculares, como o infarto e o derrame, al�m do aumento do risco de c�ncer de intestino, pr�stata e de p�ncreas. Deve-se priorizar o consumo de carne branca, mas tamb�m sem excessos. O ideal � ter sempre uma dieta balanceada”, indica o endocrinologista.
No consult�rio, o m�dico j� tem percebido interesse pelo reducetarianismo. “H�, sim, uma preocupa��o crescente por parte dos pacientes por uma mudan�a de h�bitos de vida, em sintonia a ideais de sustentabilidade e de defesa dos animais. Sabemos que a atividade pecu�ria contribui para cerca de 15% da emiss�o dos gases de efeito estufa, portanto, a preocupa��o com o menor consumo de alimentos de origem animal, de fato, deveria fazer parte da rotina das pessoas, n�o s� visando � conquista de h�bitos mais saud�veis como tamb�m contribuindo para a prote��o do meio ambiente.”

SUBSTITUI��O
A nutricionista Cristina Marques, que trabalha com reeduca��o alimentar, com elabora��o de card�pios, controle de defici�ncias e objetivos espec�ficos, acredita nos benef�cios do movimento. “O alto consumo de prote�na animal pode gerar colesterol alto, press�o arterial e �cido �rico elevados, sobrecarga renal e outras patologias.” Mas lembra sobre a import�ncia do acompanhamento especializado. “Com a suspens�o abrupta do consumo de prote�na animal, pode haver comprometimento de ferro e da vitamina B12 no organismo”, alerta.
Na dieta, Cristina lembra que a fonte de prote�na animal pode ser substitu�da por diversos alimentos. “Uma combina��o de gr�os e cereais, por exemplo, como arroz, feij�o, lentilha, quinoa, gr�o-de-bico, sementes. De forma geral, a ingest�o di�ria recomendada � de 0,8 grama por quilograma de peso corporal. Isso quer dizer que uma pessoa que pesa 60 quilos deve consumir 48 gramas de prote�nas, o equivalente a cerca de 10% das calorias di�rias. Mas esse c�lculo pode variar e ajustes individuais podem ser feitos por um nutricionista”, descreve.
Sobre o movimento, a nutricionista destaca que estudos cient�ficos j� comprovam que a redu��o do consumo de prote�na animal, em geral, melhora a sa�de humana. “Tanto pela melhora na capacidade digestiva e absortiva do corpo quanto na redu��o de subst�ncias qu�micas e at� metais pesados. Dessa forma, o metabolismo melhora como um todo”, aponta.
O segredo, ent�o, est� no equil�brio? A nutricionista aposta que sim. “Certamente, temos que repensar nosso modo de consumo em todos os n�veis. Na alimenta��o, oriento e incentivo pacientes a buscarem produtos locais e org�nicos, frequentar feiras livres, pequenos produtores, armaz�ns. Porque reduzir nosso pr�prio consumo e lixo produzido � zelar pelo planeta.”
Palavra de especialista
Haryni Costa
nutricionista comportamental
Contra o exagero
“No contexto do exagerado consumo de carne, o reducetarianismo de Brian Kateman, autor do livro The reducetarian, � medida pertinente e necess�ria. A redu��o do consumo de carne vai ao encontro da linha nutricional da alimenta��o consciente e intuitiva, que prop�e o resgate da sabedoria alimentar natural de cada indiv�duo desde o nascimento, e que � perdida ao longo da vida. S�o importantes, principalmente, os sinais f�sicos de fome e saciedade, juntamente com escolhas saud�veis, pensadas individual e coletivamente. � essencial que venhamos a desenvolver formas mais conscientes de consumir, com escolhas alimentares mais saud�veis e sustent�veis.”
» Conhe�a as fun��es da prote�na animal na sa�de
1) Estrutural, fazendo parte da estrutura das c�lulas e contribuindo para sua integridade, como o col�geno e a queratina;
2) Transporte, sendo respons�veis pelo transporte de subst�ncias pelo corpo, como a albumina;
3)Reguladora, fazendo parte da estrutura de v�rios horm�nios, como a insulina;
4)Metab�lica, sendo respons�veis pelo controle de todas as rea��es qu�micas do organismo, como as enzimas digestivas;
5)Defesa, fazendo parte do sistema imunol�gico na forma de anticorpos.
Fonte: Fl�vio Moreira Greco Cosso, m�dico endocrinologista
Personagem da not�cia
Lila Alves
adepta da dieta com redu��o
de prote�na animal

O processo na pr�tica
H� 24 anos sem comer carne vermelha e h� quatro tamb�m sem consumir aves, Lila Alves, jornalista e fot�grafa, � adepta do reducetarianismo antes mesmo de o movimento ganhar nome e se espalhar pelo mundo. “Atualmente, como peixes de duas a tr�s vezes por semana e, esporadicamente, frutos do mar. Consigo suprir a necessidade da prote�na animal com ovos, leite e derivados. Tamb�m me alimento de legumes, frutas e vegetais ricos em ferro, como a soja e o feij�o.”
A decis�o de abolir carne bovina e de aves � baseada em um estilo de vida mais consciente. “N�o me alimentar de carne � uma quest�o de �tica, sa�de e preocupa��o com o meio ambiente. Sinto arrepios de pensar no cruel destino dos animais nascidos, criados, confinados e abatidos com requintes de crueldade.”
A sa�de, conta, vai bem, com respaldo no resultado de exames. “Considero a minha dieta 'pisciovolactovegetariana' e, em constantes checapes cl�nicos, nunca houve car�ncias de ferro e de B12. Minha pele � hidratada e vi�osa e, mesmo sem cuidados est�ticos, ela n�o entrega meus 46 outonos. Acredito nos estudos que indicam que as dietas com baixo consumo de carne promovem uma vida mais longa e saud�vel.”
A quest�o ambiental tamb�m � um ideal caro para a jornalista. “Sabemos que a cria��o de animais em escala industrial pressup�e o desmatamento, consome �gua em volumes estratosf�ricos e polui o ar, o que contribui para o aquecimento global, para a devasta��o, problemas muitos s�rios.”
Vale a pena? Para ela, o desejo � abolir 100% o consumo de prote�na animal, uma conquista que pretende alcan�ar aos poucos. “A partir da minha escolha, me sinto saud�vel, feliz e de consci�ncia quase limpa. Quase, porque, embora saiba tudo o que envolve a escolha de comer ovos, peixes ou outros alimentos de origem animal, ainda n�o consigo abdicar totalmente desses prazeres. Meu estilo de vida colabora com a minha sa�de, com a vida animal, com a preserva��o dos recursos naturais do planeta, mas ainda n�o � o suficiente. De acordo com minhas convic��es ideol�gicas, sei que s�o necess�rios mais alguns passos no meu processo de evolu��o espiritual para que eu realmente durma com a consci�ncia tranquila.”