
Embora mais comum entre idosos, o c�ncer de est�mago, tipo de tumor que acomete o prefeito de S�o Paulo, Bruno Covas (PSDB), tem sido observado com cada vez mais frequ�ncia em pacientes jovens.
Uma das hip�teses � de que a piora na alimenta��o e em outros h�bitos de vida colabore para o crescimento, mesmo entre jovens, dos tumores que acometem a regi�o de transi��o entre es�fago e est�mago. No caso do prefeito, o c�ncer foi detectado na c�rdia, esp�cie de v�lvula entre os dois �rg�os. Embora n�o seja considerado um c�ncer raro, ele historicamente costuma ser diagnosticado em maiores de 55 anos e n�o na faixa et�ria do prefeito, que tem 39 anos.
Cirurgi�o oncol�gico e diretor do centro de refer�ncia de tumores gastrointestinais do A.C. Camargo Cancer Center, Felipe Coimbra diz que casos de pessoas mais jovens t�m aparecido com mais frequ�ncia no dia a dia de profissionais da oncologia. "A gente observa um aumento. Tem a ver com os maus h�bitos adotados em grandes cidades. Os fatores mais relacionados s�o tabagismo, refluxo gastroesof�gico, consumo exagerado de bebidas alco�licas e obesidade. Tamb�m tem fatores heredit�rios, mas � poss�vel ocorrer sem nenhum fator de risco, de forma aleat�ria", explica o especialista.
Coordenadora dos tumores gastrointestinais e neuroend�crinos do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alem�o Oswaldo Cruz, Renata D'Alpino tamb�m relata aumento no n�mero de pacientes jovens com esse tipo de c�ncer. "Estamos vendo um aumento de tumores de est�mago na c�rdia provavelmente por causa das quest�es de comportamento, enquanto outros tumores de est�mago, os mais localizados na parte inferior do �rg�o, est�o menos frequentes", diz.
Renata destaca como principal fator de risco o refluxo cr�nico. "Quando o alimento n�o fica no est�mago e fica retornando para o es�fago, vai causando uma inflama��o que pode gerar muta��es e o aparecimento do c�ncer", diz ela. O excesso de gordura corporal tamb�m aumenta os processos inflamat�rios no sistema digestivo.
Segundo Coimbra, o refluxo pode causar uma condi��o espec�fica que favorece o aparecimento de c�lulas cancer�genas. "O es�fago de Barrett, que � uma consequ�ncia da doen�a do refluxo cr�nica e causa modifica��es de c�lulas, aumenta em mais de 20 vezes a chance de c�ncer", destaca o especialista.
O c�ncer de est�mago afeta mais os homens do que as mulheres. A estimativa do Instituto Nacional do C�ncer (Inca) � de que 21 mil brasileiros tenham o diagn�stico da doen�a todos os anos, dos quais 14 mil sejam do sexo masculino.
Diagn�stico
O motorista de aplicativo Gustavo D'Angelo Messias Fernandes foi um dos que recebeu o diagn�stico neste ano. Assim como o prefeito Bruno Covas, ele n�o est� na faixa et�ria mais comum para a doen�a: tem 37 anos.
A mulher de Fernandes, a aut�noma Juliana Luz dos Santos, de 34 anos, conta que a descoberta da doen�a foi por acaso. "Ele n�o sentia nada grave: era s� uma azia, �s vezes um inc�modo. S�o sintomas pelos quais quase ningu�m procura um m�dico. Geralmente as pessoas v�o a uma farm�cia e compram um anti�cido s�", conta.
Ela e o marido, por�m, decidiram procurar um especialista depois de tr�s meses desses sintomas e, ap�s uma endoscopia, receberam o diagn�stico do c�ncer de Gustavo, o mesmo tipo que o de Covas: adenocarcinoma na c�rdia.
Agora, o paciente enfrenta outro desafio: o de conseguir tratamento no Sistema �nico de Sa�de (SUS). Desde setembro, quando recebeu o diagn�stico de um m�dico particular, tenta iniciar o tratamento em um hospital p�blico do Rio de Janeiro, onde mora, j� que n�o tem plano de sa�de e n�o teria condi��es de arcar com os custos de todo o tratamento na rede privada. "Provavelmente ele vai ter de fazer cirurgia e quimioterapia. Talvez radioterapia. Ficaria pelo menos R$ 150 mil", conta Juliana.
Segundo ela, o marido s� conseguiu, por enquanto, passar em uma consulta com o m�dico do SUS, mas agora aguarda na fila de espera para refazer exames como tomografia e endoscopia, uma vez que a unidade p�blica n�o aceita os laudos da rede privada. S� depois de vencer a espera pelos exames � que entrar� em outra fila: a do tratamento. "� uma afli��o. Quanto mais o tempo passa, maior a chance de o c�ncer se espalhar", relata a aut�noma.
Op��es
O tratamento do c�ncer de est�mago depende do tanto que a doen�a est� avan�ada. "A cirurgia � um tratamento localizado, que limpa o que est� ao redor (do tumor) com margem de seguran�a, mas ela n�o trata se houver c�lulas circulantes. Quem trata isso � o tratamento sist�mico, como a quimioterapia. Em uma situa��o com met�stase, a op��o � come�ar com quimioterapia", explica Coimbra.
Nos casos mais avan�ados, quando a quimioterapia n�o tem bom resultado, outra op��o que vem ganhando for�a � a imunoterapia, t�cnica em que o organismo � estimulado a ativar o sistema de defesa para combater o tumor.