Volume de exames de rotina despenca em laborat�rios de BH na pandemia de coronav�rus (foto: Felipe Abras/Divulga��o)
Laborat�rios de Belo Horizonte registram dr�stica redu��o da demanda por exames rotineiros como hemograma, colesterol e triglic�rides desde o fim de mar�o - in�cio da vig�ncia do decreto de quarentena, que visa conter o surto do novo coronav�rus. A queda no volume das an�lises - necess�rias sobretudo ao acompanhamento de doen�as cr�nicas como diabetes e hipertens�o - ultrapassa 40% em pelo menos quatro redes que atuam na capital. Uma delas relata diminui��o de 80% na procura por esses servi�os.
Especialistas atribuem o cen�rio ao receio da popula��o de contrair o v�rus ao buscar atendimento, bem como �s mudan�as impostas pelo distanciamento social � rela��o m�dico-paciente. E alertam: a neglig�ncia ao controle cl�nico pode vulnerabilizar ainda mais os doentes cr�nicos aos efeitos da COVID-19, al�m de aumentar a mortalidade desse grupo ap�s a pandemia.
Fuga de pacientes
No laborat�rio Lustosa, com 20 unidades em BH, o gerente t�cnico Adriano Basques conta que a solicita��o de exames de dosagem e concentra��o da glicohemoglobina, recomendados de 2 a 3 vezes por ano principalmente aos diab�ticos - caiu 80%. A mesma varia��o negativa foi observada nos pedidos de testes hormonais (periodicamente prescritos a pessoas com doen�as tireoidianas, por exemplo), anticoagulantes, entre outros que aferem fun��es renais e hep�ticas.
M�dicos alertam para o risco da neglig�ncia ao acompanhamento cl�nico, sobretudo para pacientes cr�nicos (foto: Carlos Reis/Divulga��o)
“S�o procedimentos muito utilizados n�o s� para diagn�sticos, como tamb�m para o ajuste da dose de medicamentos. Acreditamos que os pacientes veem os laborat�rios como um lugar com alto risco de contamina��o pelo coronav�rus, mas isso n�o procede. Todo o setor adaptou seus fluxos para evitar a propaga��o da COVID-19. A seguran�a oferecida nos ambientes, portanto, � alta”, afirma Adriano.
CEO do grupo S�o Marcos, que mant�m 57 pontos de coleta na cidade, Ricardo Dupin relata que, na primeira semana ap�s decreto do prefeito Alexandre Kalil, houve desaparecimento de 70% da clientela. O movimento voltou a crescer, mas o d�ficit nas an�lises cl�nicas ainda � de 45%. “Antes da pandemia, atend�amos cerca de 3.500 pessoas por dia na regi�o metropolitana de BH. Hoje, o volume di�rio tem sido de 1.900”, calcula o m�dico. Para evitar descolamento dos pacientes, ele diz que o laborat�rio refor�ou os as equipes de assist�ncia em domic�lio e disponibilizou o agendamento pela internet, medidas avaliadas como de "efeito discreto".
Estrat�gia semelhante foi adotada na rede Hermes Pardini, onde o agravamento da epidema tamb�m � citado como motivo de redu��o do atendimento em todas os 75 postos da empresa na capital. No laborat�rio S�o Paulo, com 15 unidades instaladas na cidade, at� as gr�vidas v�m interrompendo o monitoramento pr�-natal, segundo o hematologista e s�cio-diretor do estabelecimento, Daniel Ribeiro. “� um quadro que preocupa, porque as consequ�ncias do descontrole s�o s�rias. As complica��es a m�dio prazo, principalmente para o portador de doen�a cr�nica, que depende de um cuidado rotineiro, podem ser graves. Sem acompanhamento, esses pacientes t�m qualidade e at� a expectativa de vida reduzidas”, pondera o profissional de sa�de.
(foto: Redes laboratoriais relatam adapta��es para atendimento na pandemia: dist�ncia de uma cadeira entre assentos na sala de esperea)
Fen�meno global
Na avalia��o do presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia, Henrique Patrus, o movimento registrado pelos laborat�rios reflete o impacto da pandemia na rela��o entre m�dicos e pacientes. Ele acredita que o distanciamento social, medida que classifica como eficaz e necess�ria no combate ao surto, provocou uma esp�cie de enfraquecimento do v�nculo entre profissionais e clientes, uma vez que alterou a rotina de ambos.
O dirigente esclarece que o momento � de repactuar esse relacionamento sob as condi��es impostas pela epidemia . “A vantagem � que h� recursos para isso. O Conselho Federal de Medicina regulamentou, recentemente, a teleconsulta, uma boa alternativa para acompanhamento, prescri��o de exames e v�rios procedimentos - desde que m�dico e paciente j� tenham uma rela��o presencial pr�via estabelecida. O plano de cuidados a dist�ncia tamb�m pode contar com o aux�lio do WhatsApp, do telefone. O importante � que o profissional e seus clientes se comuniquem, se procurem”, argumenta.
"A pandemia de COVID-19 vai seguir seu curso e n�s temos uma vida longa pela frente. N�o podemos retroceder e deixar que complica��es da diabetes, hipertens�o ou cardiopatias matem a popula��o precocemente", completa.
Patrus explica que doentes cr�nicos descompensados constituem um grupo especialmente vulner�vel ao coronav�rus. “� um paciente que j� faz parte do grupo de risco. Agora, imagine esse mesmo paciente - um diab�tico, por exemplo - com complica��es decorrentes do descontrole da glicose, como m� circula��o e insufici�ncia renal. Se ele for infectado, fica mais dif�cil para o organismo vencer a batalha contra a virose”, pondera.
O cardiologista adverte ainda que o agravamento de doen�as cr�nicas � um fen�meno t�pico das crises globais que, por si s�, configuram fatores de risco. “Foi assim na Crise de 1929, � comum depois de guerras. S�o epis�dios que geram depress�o, descontrole da obesidade, aumento do tabagismo, do alcoolismo, ru�na financeira. Tudo isso contribui para o agravamento do quadro de doen�as cr�nicas. Portanto, temos que tentar ao m�ximo persistir nos cuidados”, analisa.