As plantas influenciam as pessoas e os espa�os em que vivem. Cultiv�-las � encontrar um ref�gio de calmaria em meio � rotina, para muitos, ca�tica, acelerada e estressante. Praticar a jardinagem � manter a natureza por perto, seja qual for o ambiente e espa�o dispon�vel, e criar um o�sis de leveza, simplicidade e naturalidade em um mundo, neste momento de pandemia, dist�pico, que tem roubado a utopia de milhares. Cuidar de plantas no dia a dia � se movimentar, focar, concentrar, limpar a mente e encontrar o equil�brio ao controlar a ansiedade.

Essa descoberta mudou a vida de Soraya Belusi, jornalista, jardineira e florista. Ela conta que, at� janeiro de 2019, nunca teve nenhuma conex�o especial com as plantas, mesmo gostando. Mas a rela��o era apenas de admira��o, observa��o, j� que morava com a m�e e o cuidado ficava por conta dela. Mesmo desconfiando que, como dizem, teria a m�o boa.

A reviravolta ocorreu em uma fase desafiadora para Soraya: “Casei-me e fui morar em uma casa com uma �rea privativa de bom tamanho. Calhou que, por eu passar por um per�odo de sa�de complicado, crise de ansiedade, estresse, irrita��es intestinais por conta disso, acabei procurando uma terapia, uma atividade terap�utica que pudesse me trazer prazer e tranquilidade. Foi assim que encontrei a jardinagem”.

 

 

 

Soraya Belusi, jardineira e florista

 

 

 

Soraya conta que o Centro Cultural Sesiminas oferece um curso profissionalizante de jardinagem, e ela come�ou a faz�-lo no segundo semestre de 2019 e a praticar. “Quando vi, minha casa j� estava cheia de vasos, plantas, com um jardim lindo, que eu mesma fui construindo aos poucos, escolhendo qual planta combinava com qual, onde ia ter flor e s� folhagem, aplicando todo o aprendizado adquirido no curso.”

De repente, Soraya foi capturada pela natureza: “Fiquei apaixonada por planta e isso me fez um extremo bem terap�utico. A jardinagem foi a atividade de que eu precisava para me tirar um pouco da onda do estresse e da ansiedade, que s�o t�o comuns na atividade de um jornalista. Era editora do caderno de cultura de um jornal, comandava uma equipe de 11 pessoas com bastante demanda. Foram 15 anos nessa atividade sem nenhum intervalo, e eu encontrei na jardinagem um respiro”.

Para Soraya, as plantas n�o s� lhe proporcionaram um bem terap�utico, mas energ�tico e, simplesmente, mudou o clima da sua casa. Por isso, hoje, � a receita que recomenda a todos que buscam qualidade de vida: “N�o importa o tamanho, pode morar em uma quitinete, castelo ou mans�o, � poss�vel ter plantas que v�o lhe trazer um bem-estar imediato”, afirma.

N�o s� porque v�o proporcionar essa capacidade de se concentrar, mas, segundo Soraya, quando se est� cuidando de uma planta o foco est� todo ali, voc� se desliga de tudo que est� ao redor para poder molhar, adubar ou podar. “Al�m da alegria de cuidar de um ser e ver esse ser retribuir. A flor ou a planta s�o muito generosas e qualquer agrado que voc� lhe faz ela retribui com muita beleza.”

 

Para receber a generosidade e d�diva das plantas, � preciso tamb�m se doar: “Tem de pensar qual � a planta ideal para o ambiente onde mora. N�o d�, por exemplo, para colocar um cacto, que gosta de muito sol, � seca, nasce no deserto, no �rido, em uma sala que n�o tem janela, escura e onde n�o entra luz. Esse cacto vai sofrer, ele n�o foi feito para esse espa�o. Portanto, � preciso entender o lugar onde mora. Se tiver uma janelinha em que bata o sol � poss�vel colocar um vaso no parapeito, ter uma hortinha, uma flor bonita na sala que ainda recebe uma fonte de luz. N�o � dif�cil”.

Na internet ou nas redes sociais h� v�rios perfis para seguir. No “Eu vou cuidar do seu jardim”, Soraya d� uma s�rie de dicas para escolher uma planta que seja ideal para o ambiente e tamb�m para sua personalidade e para o tempo de cuidado dedicado a ela.

 

Com o que recebeu, Soraya quis dividir. Assim nasceu o projeto “Eu vou cuidar do seu jardim”. Ela revela que, em janeiro de 2020, depois de muita luta interna, decidiu pedir demiss�o e se permitiu um per�odo sab�tico de imers�o nas plantas. “Uma imers�o curativa mesmo e, no meio desse processo, veio a pandemia e senti que podia proporcionar �s pessoas esta cura que as plantas trouxeram para mim. Tanta gente sozinha durante a quarentena, querendo ter um verde em casa, ter mais ar, a COVID-19 tira o ar de todos, e acho que as plantas renovam um pouco o ar do espa�o onde estamos. Pensei numa forma de cuidar das pessoas mesmo que a dist�ncia, fazendo um bem para elas, cuidando de algo que vai ser delas”, explica.

A� veio a ideia do projeto, no qual ela doa mudas. Soraya disponibilizou uma p�gina no Instagram (@euvoucuidardoseujardim), com alguns posts e stories, e coloca algumas mudas que tem dispon�veis, do pr�prio jardim. “Ent�o, � como se eu pudesse espalhar o meu jardim por a�, pela cidade, na casa das pessoas.”

Soraya ressalta que a doa��o � porque as pessoas tiveram muitas perdas neste momento, inclusive financeiras. E � t�o dif�cil algu�m dar alguma coisa, e planta custa caro, inclusive. E n�o � f�cil achar mudinha nas floriculturas e distribuidoras, elas vendem plantas mais robustas, j� com um tempo, crescidas, pensando em uma utilidade paisag�stica. “Minha ideia n�o � que a pessoa leve uma planta com 2m de altura para casa, mas que venha pegar uma mudinha, pequeninha, que eu cuidei dela durante cinco meses e voc� vai ver o tempo dela, o crescimento, enfim, todo o ciclo que uma planta tem”, explica.

Para Soraya, � dif�cil escolher a flor preferida, porque n�o tem nenhuma que n�o ame. Mas revela ter um fasc�nio por tulipas. “N�o tenho nenhuma em casa, � superdif�cil de cultiv�-la no Brasil, � uma flor europeia, holandesa. Meu fasc�nio � porque acho que ela guarda um mist�rio, � mais bonita fechada do que aberta, elegante. Tenho um encantamento por tulipa. Mas pensando em uma planta caseira, que todos podem ter e que amo, me traz cheiro de inf�ncia, � barata, simples e d� um efeito lindo, � a samambaia. E o nome � lindo.”

E nesta jornada de reviravolta na vida de Soraya, ela parece ter encontrado novo caminho. Acabou que o “Eu vou cuidar do seu jardim” e todo o envolvimento com as plantas despertou o interesse de muitas pessoas. Ent�o, amigos, colegas de profiss�o e tantos outros come�aram a virar clientes. “Acabei transformando o meu conhecimento em neg�cio, uma nova profiss�o e of�cio. Hoje, j� fa�o arranjos para vender, buqu�s, arranjos para festas, eventos, vendo plantas, tudo isso paralelamente ao trabalho de doa��o de mudas, que continua firme e forte.”