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Estado de Minas COMPORTAMENTO

� poss�vel decifrar as mensagens dos sonhos?

Os sonhos trazem um significado que requer interpreta��o e Freud provou que h� um m�todo cient�fico para compreend�-los


15/11/2020 04:00 - atualizado 13/11/2020 10:50

(foto: Willgard Krause/Pixabay)
(foto: Willgard Krause/Pixabay)


Para a psican�lise, o sonho � uma das formas de acessar o inconsciente, parte da mente � qual n�o temos acesso de forma f�cil. No livro A interpreta��o dos sonhos, publicado em 1900, Sigmund Freud, m�dico neurologista e criador da psican�lise, provou que h� um m�todo cient�fico para compreend�-los e a obra mudou a maneira como a humanidade veria os sonhos at� hoje, passados 120 anos. Jos� M�l, m�dico do sono, psiquiatra e s�cio-fundador da Associa��o Brasileira de Neuropsiquiatria (ABNP), destaca que Freud dizia que o sono � o guardi�o do sonho.
 
Segundo Jos� M�l, sonhamos para evitar que est�mulos menores do meio ambiente nos acordem � toa. “O c�rebro � capaz de manter uma sintonia auditiva com o ambiente enquanto estamos dormindo e ru�dos externos se incorporam a elementos do sonho, para que continuemos a dormir. Freud dizia que, al�m disso, os sonhos s�o um meio de realizarmos desejos recalcados na mente, ou seja, realizamos desejos de coisas que n�o temos consci�ncia de forma simb�lica, disfar�ada, na maioria das vezes inacess�vel ao entendimento racional. Os sonhos ocorrem em uma linguagem cifrada, regida por uma censura que nossa pr�pria mente nos impede de enxergar, para evitar que nos angustiemos.”
 
Médico do sono e psiquiatra, José Mól diz que sonhamos para evitar que estímulos menores do meio ambiente nos acordem à toa(foto: Arquivo pessoal)
M�dico do sono e psiquiatra, Jos� M�l diz que sonhamos para evitar que est�mulos menores do meio ambiente nos acordem � toa (foto: Arquivo pessoal)
 Jos� M�l conta que, recentemente, descobriu-se que o sono se divide em sono REM (do ingl�s: rapid eye movement/movimento r�pido dos olhos) e sono N�O REM. Neste �ltimo, as ondas cerebrais ficam lentas, os m�sculos relaxados, e as pessoas descansam a mente e o corpo e v�rios horm�nios s�o fabricados pelo organismo (ocupa 75% do tempo do sono). “No sono REM, o c�rebro entra num processo de trabalho intenso, as ondas cerebrais ficam mais r�pidas do que quando estamos acordados e ocorre uma atonia muscular (mais do que um relaxamento, para que n�o consigamos nos mexer durante os sonhos), na qual uma parte da mente fica no playground, brincando, sonhando, garantindo que a outra parte possa fazer um intenso trabalho organizando todo o conhecimento e selecionando as coisas mais importantes para ser guardadas na mem�ria e deletando as menos importantes.”
 
O m�dico do sono e psiquiatra confirma que os sonhos, na maioria das vezes, formam hist�rias relacionadas aos acontecimentos do dia. Ele explica que o sonho � essencialmente visual e auditivo. Vemos imagens o tempo todo e, por isso, nossos olhos ficam se movimentando durante os sonhos. E eles s�o desejos inconscientes, inaceit�veis para a mente. “Posso, por exemplo, desejar que meus pais morram para eu receber a heran�a. Mas como � muito doloroso pensar nisso, minha mente arruma um sonho em que ocorre a morte deles em um acidente, me isentando completamente do fato, e no sonho, em vez de me sentir culpado recebendo a heran�a, vou sentir tristeza por eles terem morrido no acidente.”
 
J� os pesadelos, Jos� M�l conta que t�m a ver com traumas passados. Costumam ser repetitivos e isso pode ser uma maneira de aliviar a lembran�a do trauma. “Frequentemente, temos pesadelos relacionados a alguma condi��o org�nica pela qual estamos passando. Se estou com apneia (sem respira��o durante o sono), para n�o acordar posso sonhar que estou me afogando ou muito cansado, correndo, tentando escapar de um perigo iminente. Existe um transtorno, o chamado transtorno do estresse p�s-traum�tico, que ocorre geralmente ap�s algum evento catastr�fico (guerra, desastre natural, assalto, estupro etc.), em que a pessoa passa a ter pesadelos frequentes. Esses sonhos repetitivos s�o uma maneira que a mente arruma de tentar resolver, aliviar e atenuar essa lembran�a traum�tica at� que ela fique resolvida/esquecida (em grande parte dos casos, isso n�o se resolve sozinho e h� necessidade de terapia e tratamento medicamentoso).”
 
Jos� M�l enfatiza que a qualidade do sono prejudica o sonho: “Sonhos agrad�veis t�m a ver com boa qualidade do sono. Se estamos com calor, dor, dificuldade respirat�ria ou muito barulho ambiente, a mente vai arrumar sonhos relacionados a esses fatores desagrad�veis para podermos continuar a dormir. Nestas situa��es, o sono e os sonhos s�o prejudicados”.

Beb�s e aposentados


� sempre intrigante as pessoas que n�o se lembram dos sonhos, j� que todos sonham todos os dias. Jos� M�l explica que os sonhos com hist�ria ocorrem durante o sono REM (25% do tempo total de sono). A quantidade desse sono tem a ver com a qualidade do sonho e com a idade. Rec�m-nascidos t�m at� 80% de sono REM, porque tudo que est�o vivendo � novidade, est�o aprendendo coisas novas o tempo todo e h� necessidade de sono REM e sonhos em grande quantidade para o c�rebro poder armazenar esse conhecimento novo.
 
No adulto, o sono REM ocupa 20% a 25% do sono total e � tamb�m o momento de organiza��o das mem�rias e conhecimento. No idoso, principalmente no aposentado e que j� n�o est� produzindo, vivendo praticamente no autom�tico, a quantidade de sono REM n�o passa de 10% do sono total (no idoso que ainda trabalha, produz, ou esteja aprendendo coisas novas, � diferente).

Por fim, Jos� M�l avisa que, para sonhar durante o sono, � importante ter sonhos na vida real. Independentemente da idade, pessoas que estejam aprendendo coisas novas, que ainda t�m metas na vida, v�o sonhar mais do que os que n�o t�m. A maior quantidade de sono REM (e sonhos) ocorre mais das 4h �s 7h. Normalmente, nos lembramos dos sonhos, mas se n�o forem anotados, s�o esquecidos em seguida.
 
(foto: Willgard Krause/Pixabay)
(foto: Willgard Krause/Pixabay)
 

Teorias para explicar as fun��es

 
Fernanda Rocha, neurocientista, psic�loga e professora da Faculdade Pit�goras, destaca que os sonhos s�o um tema de interesse antigo, sendo interpretados de formas distintas em cada momento da hist�ria. “Reis e outros governantes recebiam orienta��es das pessoas que tinham nos sonhos um dom de revela��o. Pelas religi�es, eles podem ser considerados um meio de comunica��o entre os homens e os deuses. Infelizmente, o m�todo cient�fico tem suas limita��es no que se refere � sua aplica��o na �rea da metaf�sica.”

A neurocientista explica que v�rias s�o as teorias cient�ficas e n�o cient�ficas que almejam explicar os sonhos e suas fun��es. Essas teorias s�o por vezes divergentes e por outras convergentes e complementares. O m�todo cient�fico permite aos pesquisadores, a partir de um recorte espec�fico de um tema, colher dados, analisar e elaborar interpreta��es a respeito, confirmando ou refutando hip�- teses. A psicologia, por exemplo, apresenta teorias explicativas de diversos assuntos, inclusive a respeito dos sonhos, por�m nem todas prosseguem no caminho da testagem por meio de pesquisas.

Fernanda Rocha, neurocientista e psicóloga, conta que o campo das neurociências há muito tem se debruçado sobre o tema(foto: Arquivo pessoal)
Fernanda Rocha, neurocientista e psic�loga, conta que o campo das neuroci�ncias h� muito tem se debru�ado sobre o tema (foto: Arquivo pessoal)
De maneira mais abrangente, Fernanda Rocha conta que o  campo das neuroci�ncias h� muito tem se debru�ado sobre o tema. “Pesquisas t�m mostrado que os sonhos fazem parte do per�odo de sono de todas as pessoas, ou seja, todo mundo sonha. Por�m, nem todos se lembram dos sonhos ou at� mesmo que sonharam. Descobriu-se que, entre as cinco fases do sono, aquelas pessoas que voltam a acordar a partir da fase do sono chamada REM t�m maior probabilidade de se lembrar dos sonhos”, explica. 

A neurocientista ensina que os sonhos s�o produzidos por altera��es neuroqu�micas, ativa��es e desativa��es de circuitarias cerebrais, estando presentes em todas as fases do sono, diferindo qualitativamente entre elas. Segundo ela, nos est�gios iniciais, mem�rias diversas, sem qualquer liga��o aparente, servem de conte�do para os sonhos, especialmente de fontes visuais como imagens de coisas vividas nos �ltimos dias. Nesse per�odo, regi�es frontais do c�rebro relacionadas ao racioc�nio l�gico est�o praticamente desligadas.

 
INSIGHTS E SEM NEXO

(foto: Stefan Keller/Pixabay )
(foto: Stefan Keller/Pixabay )

Fernanda Rocha esclarece que, conforme entramos em fases mais profundas do sono, os sonhos se tornam mais sofisticados. “�s imagens iniciais s�o acrescidas mem�rias passadas, percep��es emocionais e prospec��es do futuro. Dessa mistura rica, ainda sem um racioc�nio l�gico operante, � poss�vel entender qu�o estranhos e sem nexo alguns de nossos sonhos podem parecer. � ent�o nos per�odos finais de um ciclo do sono, na famosa fase do sono REM, que a atividade cerebral volta em n�veis similares �s de uma pessoa acordada, reativando regi�es adormecidas, possibilitando uma busca de sentido, interpreta��es e conclus�es. N�o � incomum que as pessoas relatem ter tido insights enquanto dormiam.”
 
A neurocientista enfatiza que estudos mais antigos sobre os sonhos apontam que esses t�m papel importante na consolida��o de mem�rias conscientes, de aperfei�oamento no desempenho de tarefas motoras e de limpeza de mem�rias consideradas in�teis. Nos estudos mais recentes, os sonhos t�m tamb�m fun��es de modula��o e formula��o de estrat�gias de a��o, ou seja, funcionam como simuladores de situa��es j� ocorridas, em que um indiv�duo possa ter apresentado dificuldade, e at� situa��es futuras das quais se est� ainda elaborando poss�veis solu��es.
 
Desse ponto de vista, alerta Fernanda Rocha, o caos dos sonhos seguidos de associa��es improv�veis e posterior liga��o de fun��es cognitivas mais sofisticadas estimula a criatividade na resolu��o de problemas, sejam eles novos ou antigos. “Al�m disso, algumas abordagens terap�uticas de orienta��o psicodin�mica, como a psican�lise de Sigmund Freud, trabalham com a interpreta��o dos sonhos, considerando-os como um meio de acesso a conte�dos inconscientes, tais como nossos desejos mais profundos. Muitos pacientes relatam ganhos neste processo de autoconhecimento e mudan�a proporcionados por essas terapias.” 

 
Consciente x inconsciente*


Sonhos sugerem a comunica��o entre o inconsciente com 
o consciente. Para que isso ocorra, Freud percebeu que 
era necess�rio o surgimento de tr�s situa��es:

  1. Est�mulo sensorial: como uma necessidade fisiol�gica, vontade de beber �gua antes de dormir.
  2. Restos diurnos: como presenciar um acidente.
  3. Sentimentos e desejos reprimidos: como uma escolha que fizemos no passado.

*Fonte: Portal Psican�lise Cl�nica

Conhe�a 10 benef�cios de sonhar*


  1. Aprofundar o relacionamento consigo mesmo
  2. Entender melhor os universos externo e interno
  3. Relatar o processo de individua��o
  4. Oferecer recursos riqu�ssimos para uma boa terapia
  5. Compensar e equilibrar a psique
  6. Demonstrar o que fazer
  7. Desgastar acontecimentos traum�ticos
  8. Comunicar-se
  9. Prever acontecimentos
  10. Agu�ar e promover insights criativos

*Fonte: Tha�s Khoury, psic�loga cl�nica do portal Personare 



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