
O amor entre irm�os pode n�o ser incondicional, mas certamente tem la�o indestrut�vel. A verdade � que, apesar das brigas, conflitos, competitividade, disputas, diferen�as, rivalidade e ci�mes entre eles, esta rela��o dever� ser uma das mais duradouras na vida das pessoas, tem papel essencial na fam�lia e especialistas asseguram que h� impacto no desenvolvimento de cada um.
Qualquer filho quer ser o mais amado, admirado, valorizado e reconhecido. O que pode significar que, quanto menos afeto perceberem por parte dos pais, um caminho ser� aberto para o nascedouro de diverg�ncias e disputas. O que � natural at� n�o se tornar excessivo ou mesmo patol�gico. Os cen�rios de conviv�ncia s�o in�meros. H� irm�os que sempre se deram bem, vivem em harmonia, aqueles que n�o combinam mesmo, quem s� brigava quando crian�a e s�o parceiros na vida adulta e por a� vai. At� quem n�o se reconhece nesta rela��o e � mais pr�ximo de um amigo do que de um irm�o.
A hist�ria das g�meas Keyla e K�nia, de 35 anos, � de puro amor e cumplicidade. Al�m de parceiras da vida, acreditem, se casaram com dois irm�os, Jalfer e Jacyr Filaretti, respectivamente. E assim continuaram com o nome praticamente iguais: Keyla e K�nia Maria Gon�alves Filaretti. Ambas s�o m�es de dois filhos. Em 2016, K�nia teve um casal de g�meos (Lara e Mateus). Em 2017, nasceu �sis, filha de Keyla, que em agosto de 2018 perdeu o beb� Davi com 24 horas de vida por um problema card�aco, mas em fevereiro de 2020 nasceu, como se declara a mam�e: “Meu arco-�ris Caio”.
As duas t�m a mesma profiss�o e trabalham juntas, s�o enfermeiras e propriet�rias da Casa de Repouso Vivarte, em Contagem. Para Keyla, K�nia � sua irm� g�mea e alma g�mea: “Nossa rela��o sempre foi de uni�o e cumplicidade, nos completamos. Temos os mesmos gostos em quase tudo. Desde pequenas vest�amos iguais, onde uma ia a outra ia, nunca fizemos nada de forma individual. E a vida foi t�o generosa conosco que sempre estudamos juntas na mesma sala, tivemos os mesmos amigos, as mesmas dificuldades, formamos juntas para enfermagem na mesma faculdade, em Lavras, nos casamos no mesmo dia com irm�os e temos filhos lindos que s�o t�o unidos quanto n�s. Para completar, somos s�cias h� 10 anos na Casa de Repouso Vivarte. Um lar para idosos que abrimos em 2011. Um sonho da nossa m�e (j� falecida) que conseguimos realizar juntas.”
"Apesar de gostos parecidos, temos opini�es diferentes,
mas a necessidade de estarmos juntas sempre
fala mais alto. Brigamos
de manh� e � tarde j� estamos puxando assunto uma com a outra”
Keyla Maria Gon�alves Filaretti, enfermeira
Mas Keyla reconhece que, mesmo com tanto amor, h� desentendimentos: “Apesar de gostos parecidos, temos opini�es diferentes, mas a necessidade de estarmos juntas sempre fala mais alto. Brigamos de manh� e � tarde j� estamos puxando assunto uma com a outra. Durante a adolesc�ncia, sempre brigamos por conta de namorados. Um fato que nos marcou na inf�ncia foi um desfile de crian�a para rainha do bairro. Eu era mais pra frente, mais sorridente e ganhei. A minha m�e nunca aceitou que uma podia perder ou ganhar, tudo tinha que ser igual, e ent�o ela colocou a faixa nas duas”.
Keyla refor�a que n�o se v� sem K�nia. “Somos iguais e ao mesmo tempo diferentes. Somos g�meas id�nticas (univitelinas). Nascemos em Belo Horizonte, mas sempre moramos em Contagem. Hoje, trabalhamos em Contagem, mas moramos em Betim (eu e K�nia). Somos cinco irm�s e dois irm�os. Nossa m�e faleceu em 2009 e nosso pai � o nosso protetor. Ele nos acompanha em tudo e vive rodeado dos filhos e netos. Fam�lia grande, onde a gente se re�ne vira festa. Somos todos muito pr�ximos. As irm�s, principalmente, se falam todos os dias e nos encontramos com frequ�ncia. Somos o suporte umas das outras. Brigas e desentendimentos temos, mas nunca foram suficientes para afetar o amor que sentimos.”
ENCONTROS
Keyla conta a hist�ria de amor com os irm�os Filaretti. “O meu cunhado tem um dep�sito de material de constru��o e nossa m�e era cliente. Um determinado dia, ela foi com a K�nia comprar um produto e disse para ele que ainda o teria como genro. Ela deu um cheque, ele pediu que colocasse o telefone atr�s e mais tarde ligou convidando a K�nia para sair. Eles come�aram a sair e, na �poca, eu estava terminando um relacionamento, e o Jacyr (cunhado) disse: ‘Vou te apresentar meu irm�o mais novo’. Ele morava no Espirito Santo. A� veio para BH, nos conhecemos, sa�mos e nos apaixonamos. Isso foi no come�o de 2009. Foi um ano dif�cil porque perdemos nossa m�e, que era tudo para n�s, mas eles tiveram sabedoria e paci�ncia. Foram companheiros de verdade. Casamos, vieram os filhos e todos os acontecimentos sempre foram intensamente vividos por n�s.”
J� para K�nia, a rela��o com Keyla � surreal, entre tapas e beijos, mas � a melhor do mundo. “Sempre fomos amigas e companheiras. Poucas vezes na vida nos separamos. Eu a enxergo como uma continuidade minha. Dividimos a mesma barriga,, temos o mesmo dom de cuidar de pessoas, tivemos filhos pr�ximas uma da outra e eles vivem e crescem juntos como n�s, cercados de amor e cumplicidade.”
Apesar de parecidas, K�nia destaca as personalidades diferentes. Elas dividem ideias e opini�es para tudo, discordam muitas vezes uma da outra, mas uma precisa ceder. “Geralmente ela vence, mas � porque ela � mais autorit�ria e eu sou mais passiva. Para eu ganhar, preciso convenc�-la muito bem de que estou certa e ela tem que dar o bra�o a torcer. Nos darmos muit�ssimo bem, mas brigamos demais tamb�m, por motivos �s vezes t�o bobos, que nem a gente acredita”, conta.
Mas ela acredita que isso ocorre por conta dessa proximidade intensa. K�nia revela que at� nos desejos do cora��o o universo conspirou a favor, j� que o maior medo era uma casar e deixar a outra para tr�s. “Sofr�amos com isso. Mas Deus � t�o perfeito e nossa sintonia t�o maravilhosa que tudo se encaixou, coisa de novela.”
Muito se fala que a rela��o entre irm�os g�meos � diferente, existe uma cumplicidade fina, de sensibilidade, de um sentir o que o outro sente. Para K�nia, � tudo isso e mais um pouco. � uma rela��o �nica. Um la�o que s� quem tem um irm�o g�meo pode dizer. “Vivemos em sintonia, sabemos o que a outra est� pensando e, muitas das vezes, falamos as mesmas coisas. Quando vamos sair temos que tomar cuidado para n�o nos vestirmos iguais, mesmo ela da casa dela e eu na minha acontece. � muito engra�ado. Se uma sofre a outra n�o fica bem, se uma passa mal daqui uns dias a outra vai passar tamb�m. � impressionante”, relata.