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Estado de Minas Comportamento

Constru��o de la�os entre irm�os

Intera��es entre irm�os s�o rela��es emocionalmente carregadas tanto positivas quanto negativas e tamb�m ambivalentes. Rivalidade n�o deve ser encarada pelos pais como fracasso na forma de educar


29/11/2020 04:00 - atualizado 27/11/2020 17:22

(foto: Victoria_Borodinova/Pixabay)
(foto: Victoria_Borodinova/Pixabay)

A din�mica afetiva entre irm�os � extremamente marcante e uma pe�a fundamental na constru��o ps�quica e hist�ria pessoal. H� aqueles muitos pr�ximos, confidentes pela vida, e outros que, realmente, n�o se d�o bem, s�o incompat�veis e as diferen�as perduram ao longo dos anos, mesmo a dist�ncia. Seja como for, sempre em primeiro lugar, as intera��es entre irm�os s�o rela��es emocionalmente carregadas tanto positivas quanto negativas e tamb�m ambivalentes.

Fernanda Teles, psic�loga, especialista em parentalidade positiva e educadora parental, explica que, para entender a rivalidade entre irm�os, � preciso saber que a constru��o dos la�os entre eles passa pela busca de espa�o dentro da fam�lia. A fam�lia � a matriz de socializa��o, e a rela��o fraternal � a primeira rela��o horizontal que existe. Segundo ela, brigar � encontrar seu lugar e se afirmar como membro do cl� e aprender a se socializar. A partir dessa rela��o se constroem as primeiras no��es de rivalidade, de amizade, de apoio, de cuidado e de prote��o.

“� not�vel como brigam, mas tamb�m se defendem muito, n�o � mesmo? Ent�o, precisamos acalmar o cora��o de pai e m�e para entendermos que essa rivalidade � praticamente inevit�vel. Muito mais importante do que os filhos aprenderem a lidar com as brigas e ci�mes, � mais s�bio ainda que os pais se aprofundem em quest�es da parentalidade positiva e consciente para se prepararem melhor para essa situa��o e n�o piorarem tudo”, afirma Fernanda Teles.

A psic�loga diz que nem sempre a rivalidade iniciada na inf�ncia acaba na vida adulta. Ela ressalta que a briga de irm�os pode estar muito mais relacionada aos pais do que aos filhos. “As crian�as est�o buscando seu espa�o e querendo se sentir amadas, aceitas e importantes. A forma com que os pais se posicionam no conflito pode perpetuar, refor�ar ou suavizar uma rela��o de rivalidade entre os irm�os.”

Fernanda Teles n�o percebe uma rivalidade maior entre um casal ou irm�s e irm�os. Ela enxerga de forma universal. “Eles podem ser do mesmo sexo ou oposto, terem idades semelhantes ou n�o, e personalidades diferentes ou parecidas. Na minha pr�tica como educadora parental e coach familiar n�o vejo diferen�as. J� vi filhos de 23 anos com muito ci�me de um rec�m-nascido e g�meos de 5 anos que lidavam relativamente bem com esse sentimento. Irm�s que n�o conversavam e irm�s melhores amigas.”

A psic�loga conta que a rivalidade entre irm�os se apresenta desde desentendimentos simples sobre qual desenho ver, quem vai apertar o bot�o do elevador ou qual peda�o de bolo, que pode vir com choros, gritos, empurr�es, socos e chutes, at� trag�dias maiores na fase adulta envolvendo mortes ou cortes radicais dos la�os afetivos.

Fernanda Teles ensina que � necess�rio saber lidar com as diferen�as nas rela��es entre irm�os. “Vejo que, na maioria das vezes, as pessoas mais nervosas com o ci�me e a briga de irm�os s�o os pais, que perdem a paci�ncia, se estressam e tomam partido: 'Voc� � o mais velho, n�o pode fazer isso, ele � mais novo, coitadinho'. Toda vez que uma figura de autoridade (em sala de aula tamb�m ocorre muito) tomar partido em um conflito, mesmo que para ser justo, � prov�vel que para uma das pessoas envolvidas essa 'justi�a' ser� entendida como: minha m�e/pai ama mais meu irm�o. Ou: 'Eu sou impotente e fr�gil'.”
 
 
(foto: Mariana Rezende/Divulgação])
(foto: Mariana Rezende/Divulga��o])


"As crian�as est�o buscando seu espa�o e querendo se sentir amadas, aceitas e importantes. A forma com que os pais se posicionam no conflito pode perpetuar, refor�ar ou suavizar uma rela��o de rivalidade entre 
os irm�os”

Fernanda Teles, 
psic�loga, especialista em parentalidade positiva e 
educadora parental

 
Essa cren�a, segundo Fernanda Teles, come�a a ser internalizada e pode ser lida como desamor pelo filho. Assim, ele pode come�ar a querer brigar mais e ter mais ci�me para buscar novamente o amor dos pais e se sentir aceito. “Dentro dos princ�pios da parentalidade e disciplina positiva aconselho sempre a m�es, pais, cuidadores das crian�as que precisam ser mediadores de conflitos e ter um olhar de observadores. � preciso sair de cena sempre que poss�vel para desenvolvermos nos filhos a capacidade de resolverem os conflitos por si s�. A n�o ser que haja viol�ncia f�sica. Se for para intervir, seja sempre imparcial: o que est� acontecendo aqui? Como voc�s podem resolver isso?”

RODA DE ESCOLHAS 


Fernanda Teles destaca que � fundamental ensinar aos filhos habilidades para lidarem com frustra��es, conflitos, a serem resilientes e focarem em uma solu��o para seus problemas. “Para isso, a Roda de Escolhas da disciplina positiva � fant�stica e tem o passo a passo nos destaque do meu instagram @fernandateles.”

Por outro lado, h� irm�os que sempre se deram bem. A harmonia na rela��o impera, ainda que Fernanda Teles duvide quando se fala em paz total na conviv�ncia. “N�o sei se na mais pura paz. Mas com certeza h� rela��es nas quais esses conflitos s�o fortemente suavizados. � importante ressaltar que quando os conflitos fazem parte de um contexto que envolve tamb�m momentos de carinho, parceria e cumplicidade entre irm�os, n�o devem ser motivo de preocupa��o excessiva, apenas de monitoramento e orienta��o. Agora, se notar atitudes de desafeto cont�nuas, que podem ferir – f�sica ou psicologicamente – ou difamar um irm�o, � sinal de alerta. Se esses problemas estiverem atrapalhando o funcionamento escolar ou social da crian�a, procure um m�dico especialista em comportamento infantil para uma avalia��o.”


Habilidades sociais de conviv�ncia



Fl�via Alc�ntara, professora do curso de pedagogia da Est�cio Belo Horizonte, psicopedagoga, doutora em educa��o e m�e de Clara e Pedro, afirma que atos de rivalidade entre irm�os se fazem presentes na vida e no imagin�rio humano “desde que o mundo � mundo”. Tais pr�ticas costumam ser consideradas normais ou at� inevit�veis, tendo em vista serem comuns os epis�dios de brigas, discuss�es e competi��es no cotidiano de fam�lias com dois ou mais filhos.

“Para a psican�lise, tal rivalidade pode estar associada ao ci�me e inseguran�a gerados a partir do nascimento de um novo irm�o, que surge como um intruso, algu�m que ir� disputar a aten��o e o amor da fam�lia, em especial, da m�e. Em geral, a rivalidade fraterna inclui tanto manifesta��es de ci�me, crises de raiva e agressividade, quanto de competi��o e disputa, nos mais variados setores, motivada por um sentimento reprimido de perda e abandono.”
 
A psicopedagoga Flávia Alcântara, mãe de Clara e Pedro, diz que rivalidade entre irmãos é normal e até inevitável(foto: Arquivo Pessoal)
A psicopedagoga Fl�via Alc�ntara, m�e de Clara e Pedro, diz que rivalidade entre irm�os � normal e at� inevit�vel (foto: Arquivo Pessoal)
 
Considerando que disputas entre irm�os s�o comuns � maior parte das fam�lias, independentemente de seus valores ou filosofia de vida, Fl�via Alc�ntara enfatiza que n�o seria poss�vel afirmar que a conviv�ncia entre irm�os na mesma escola, ou mais especificamente, na mesma sala, possa ser fator determinante para intensificar conflitos e competi��es preexistentes. “Muito do comportamento assumido pelos filhos � reflexo da condu��o dada pela fam�lia no processo de media��o das disputas, as quais podem assumir contornos mais saud�veis e equilibrados ou mais agressivos e hostis.”

MITIGAR CONFLITOS


Fl�via Alc�ntara explica que, a depender da din�mica familiar na condu��o dos epis�dios de rivalidade entre irm�os, atos de ci�me e de inveja podem ceder espa�o a atitudes de apoio rec�proco e de solidariedade. “Tal condu��o, se somada a uma interven��o consciente e positiva por parte da escola e dos demais meios educativos onde os irm�os interagem, pode ajudar no desenvolvimento de uma fun��o fraterna colaborativa, a qual, al�m de mitigar as disputas e os conflitos, possa gerar parceria e cumplicidade entre os irm�os.”

A doutora em educa��o conta que n�o h� d�vidas de que comportamentos de rivalidade fraterna, quando bem conduzidos, podem reverberar em crescimento e aprendizado, n�o apenas para os irm�os, mas para a fam�lia com um todo. “Quando um novo beb� chega � fam�lia, o irm�o mais velho precisar� se adaptar � nova condi��o de perda da 'exclusividade', tendo que lidar com a aten��o dispensada ao menor; ao passo que o ca�ula pode ter ci�me da rela��o parental com o mais velho, estabelecida antes de seu nascimento. Percebemos dessa forma que os irm�os aprendem, desde muito cedo, a negociar, cooperar, competir e expor pontos de vista que s�o, muitas vezes, conflitantes. Tanto na fam�lia, como na sociedade em geral, desacordos e conflitos sempre existir�o e a rivalidade fraterna surge como uma boa oportunidade de desenvolver habilidades sociais de conviv�ncia.”

Fl�via Alc�ntara destaca que a educa��o explora a no��o de que aprendizagens e comportamentos s�o fatores social e culturalmente constru�dos. “Embora n�o possamos escolher nossos irm�os, como fazemos com amigos, � importante nos atentarmos para o fato de que ser� com eles, nossos irm�os, que compartilharemos boa parte de nossa hist�ria de vida, de nossas experi�ncias e lembran�as, provavelmente por mais tempo do que o far�amos com quaisquer outras pessoas. Um irm�o n�o vem para dividir o amor e aten��o outrora dispensado exclusivamente ao primog�nito, em verdade, irm�os representam a possibilidade da multiplica��o do amor ao integrarem, com suas particularidades, o nicho familiar.”

A psicopedagoga lembra que o afeto e o respeito podem ser constru�dos: “Somos seres sociais totalmente pass�veis de apreender novos conhecimentos e ressignificar experi�ncias, basta nos abrirmos para a possibilidade de acolher e perdoar, criando a possibilidade de ter algu�m com quem contar para o resto da vida, que pode estar sempre junto e se tornar, al�m de irm�o, um verdadeiro amigo”.

Para ler...

Rela��o descrita em palavras

1 – Dois irm�os, de Milton Hatoum, Editora Companhia de Bolso
2 – Os irm�os Karam�zov, de Fi�dor Dostoi�vski, Editora 34
3 – Entre irm�os, de Elizabeth Strout, Companhia Editora Nacional
4 – Irm�os sem rivalidade: o que fazer quando os filhos brigam, de Adele Faber, Summus Editorial
5 – Irm�os, de Yu Hua, Companhia das Letras


Para ver...

Irm�os na telona

1 – A vida invis�vel
2 – Rain man
3 – Irm�s
4 – A �rvore da vida
5 – Orgulho e preconceito
6 – Raz�o e sensibilidade
7 – O poderoso chefinho
8 – Extraordin�rio
9 – Irm�os g�meos 
10 – Um sonho poss�vel
11 – Ador�veis mulheres


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