
semin�rio virtual, “A corrida �s vacinas: imunizar a popula��o para controlar a pandemia”, realizado pela universidade.
“Se cada Estado come�ar a olhar s� para si e para os seus interesses, n�o h� possibilidade de combater um problema global, como � a pandemia de COVID-19”, disse, durante o Dawisson Lopes � professor associado de pol�tica social e comparada e diretor-adjunto de rela��es internacionais da UFMG e tratou sobre a geopol�tica na quest�o das vacinas. “A gente tem visto na imprensa refer�ncias a China, �ndia e a rela��o que o Brasil construiu ou deixou de construir, com esses pa�ses e as implica��es, agora, para o suprimento das vacinas e dos insumos.”
Segundo ele, quando pensamos nas rela��es internacionais, temos que considerar que n�o h� regula��o vertical das rela��es ou intera��es entre os atores. “Dentro dos pa�ses, conseguimos identificar as inst�ncias oficiais, autoridades. Tem um presidente, um Congresso, um Poder Judici�rio, um aparato judicial. E essas inst�ncias conseguem impor a ordem, at� por meio da for�a de pol�cia, se for necess�rio. Mas, nas rela��es internacionais, n�o existe este tipo de inst�ncia garantidora da ordem. � tudo horizontal, ou pelo menos, em tese”, explica.
Competi��o por recursos escassos
Lopes ressalta que nas rela��es internacionais existem, mais ou menos, 200 pa�ses que estabelecem, entre si, regras de conviv�ncia. Em tempos normais, essas regras funcionam. “O problema � que em tempos como os atuais, de turbul�ncia, em que h� uma competi��o enorme por recursos escassos, o que vemos � a face mais feia da humanidade.”
Para o professor, desde que a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) decretou a pandemia, em mar�o de 2020, ocorreu uma disputa por recursos. Primeiro foram os equipamentos de prote��o individual, respiradores e agora, s�o as vacinas e insumos para fabrica��o dos imunizantes. “H� uma disputa feroz por esses recursos, pelos Estados. J� tivemos at� contrabando e confisco de m�scaras e respiradores. Todo tipo de a��o para garantir, para as popula��es locais, maior acesso a esses bens. Inclusive por pa�ses desenvolvidos economicamente.”
Lopes acredita que � imposs�vel manter rela��es internacionais, em um m�nimo de sustentabilidade, com comportamentos totalmente ego�stas. “Se cada Estado come�ar a olhar s� para si e para os seus interesses, n�o h� possibilidade de combater um problema global, como � a pandemia de COVID-19”.
Para ele, esse comportamento ego�sta deve ser contrabalan�ado com algum senso de coletividade internacional. “Um surto epid�mico que come�a em uma cidade chinesa, que at� ent�o pouca gente conhecia, chega literalmente a todos os lugares do mundo.”
Na corrida pelas vacinas, as cadeias de suprimento s�o globais. “A China hoje � respons�vel por 30% de toda produ��o industrial do mundo. Invariavelmente, a opera��o log�stica de vacina��o de qualquer pa�s do mundo, vai envolver o tr�nsito de mercadorias, compartilhamento de saberes de cientistas de diferentes nacionalidades. Ent�o, algum grau de internacionalismo � necess�rio para sairmos dessa situa��o”.
Produ��o de insumos farmac�uticos
Lopes explica que h� 30 anos, a grande ind�stria farmac�utica estava sediada em lugares como Estados Unidos, Europa e Jap�o. Por�m, o cen�rio mudou radicalmente e as grandes pot�ncias hoje s�o China e �ndia, que produzem aproximadamente 70% de todos os insumos farmac�uticos do mundo. “A boa diplomacia, em tempos de pandemia, sugeriria cultivar rela��es de boa vizinhan�a, cooperativas e inspirar simpatia nesses paises”.
Segundo ele, as quest�es log�sticas nessa opera��o de vacina��o global s�o complexas. “O ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, reclamou do fuso hor�rio da �ndia. Se fosse isso estava muito f�cil, a quest�o � de uma monta diferente. Como h� um problema de escassez relativa, os pa�ses t�m comprado de diferentes fontes. Como � tudo aposta, n�o sabemos que vacina fica pronta primeiro, qual vai ser mais eficaz para imunizar as popula��es, os pa�ses compram de fornecedores distintos”.
Para o professor, como n�o houve tempo para uma padroniza��o, teremos que conviver com diferentes regimes, em rela��o a tudo. “Por exemplo, em Nova York, est�o tendo que descartar muitas vacinas porque a seringa e os frascos que cont�m as doses n�o s�o compat�veis. N�o houve tempo de olhar para esse tipo de pr�tica que tem um efeito enorme. A expectativa � que 150 mil doses n�o tenham sido ministradas, por conta dessa incompatibilidade. S�o enormes os desafios de ordem pr�tica”.
Mais dificuldades para o Brasil
Neste cen�rio j� dif�cil, Lopes acredita que o Brasil talvez tenha dificultado ainda mais as coisas. “A pol�tica externa brasileira nesta gest�o se notabiliza por uma certa hostilidade � China, que decorre de um alinhamento acr�tico, em v�rios momentos, aos Estados Unidos. Muito dessa ret�rica antivacista, sobretudo alvejando a CoronaVac, tem por inspira��o uma tentativa de bloquear a China no plano global”.
Segundo ele, esse � um problema que o Brasil j� est� tendo que enfrentar, com o atraso dos insumos para a fabrica��o de mais doses da vacina produzida pelo Instituto Butantan. “E revert�-lo n�o � t�o simples, pois o Brasil avan�ou muito nessa rela��o com os Estados Unidos e com o ex-presidente Donald Trump”.
J� com a �ndia, o entrave, para ele, � um pouco diferente. “A �ndia tem uma proposta muito clara de pol�tica externa, que � a de favorecer sua vizinhan�a. O Brasil deveria ter algum grau de autonomia neste processo e fazer o mesmo com seus vizinhos da Am�rica do Sul”.
O professor destaca que entre as vacinas que est�o sendo aplicadas h� imunizantes de China, �ndia e R�ssia. “Seria natural que o Brasil ocupasse esse lugar, mas por diferentes maneiras, ele renunciou a esse papel de protagonismo. N�s temos cientistas, mas foi uma op��o, por a��o e omiss�o. Deixamos de participar deste pelot�o de frente da produ��o das vacinas”.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz