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Estado de Minas PANDEMIA

Vacinas contra covid-19: 'Distribui��o desigual de imunizantes vai permitir cont�gios e muta��es do coronav�rus pelo mundo'

Pesquisadora Andrea Taylor, da Universidade Duke, acredita que, se o atual sistema de distribui��o da vacina continuar, o v�rus pode continuar a desenvolver variantes mais perigosas, tornando a imuniza��o menos eficaz e produzindo consequ�ncias devastadoras.


06/02/2021 06:48 - atualizado 06/02/2021 08:38

Andrea Taylor lidera um projeto de pesquisa sobre distribuição global de vacinas.(foto: Andrea Taylor)
Andrea Taylor lidera um projeto de pesquisa sobre distribui��o global de vacinas. (foto: Andrea Taylor)

A corrida global por uma vacina contra a covid-19 foi provavelmente uma das mais decisivas e fren�ticas de nosso tempo. Em menos de um ano, companhias farmac�uticas, governos, centros de pesquisa e empresas afins de todo o mundo se uniram e materializaram imunizantes capazes de conter as infec��es e mortes e tirar o mundo do isolamento.

Mas agora que as autoridades sanit�rias de muitos pa�ses est�o se esfor�ando para administrar o maior n�mero poss�vel de doses, surgem alertas de que a forma com que as vacinas est�o sendo distribu�das representa outro grave perigo para a sa�de p�blica mundial, como apontou um estudo da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que se tornou refer�ncia no assunto.

Isso porque os pa�ses mais ricos j� compraram a maior quantidade de vacinas que ser�o produzidas neste ano, enquanto os mais pobres n�o ter�o doses para aplicar nem em suas popula��es mais vulner�veis. Estima-se que cerca de 90% das pessoas em quase 70 pa�ses de baixa renda ter�o poucas chances de serem vacinadas em 2021.

Os países mais ricos compraram mais doses do que todos os outros somados. .  .

Especialistas temem que, se tudo continuar como est�, o v�rus pode continuar a sofrer muta��es, tornar as vacinas atuais menos eficazes e produzir consequ�ncias econ�micas, pol�ticas e morais devastadoras, como alerta Andrea Taylor, diretora de pesquisas no Centro de Inova��o em Sa�de Global da Duke, que monitora a distribui��o de vacinas em todo o mundo.

O projeto, denominado Launch and Scale Speedometer, analisa dados globais sobre vacinas e terapias para combater a pandemia e seus resultados servem de alerta para pol�ticos, acad�micos e especialistas em sa�de p�blica.


BBC News Mundo - Quais foram as principais descobertas do projeto?

Andrea Taylor - Descobrimos que os pa�ses ricos compraram a maior parte das vacinas contra a covid-19, enquanto os mais pobres lutam para obter vacinas suficientes para cobrir at� mesmo suas popula��es mais vulner�veis. Identificamos essas lacunas pela primeira vez em outubro de 2020 e ela ainda permanece, o que � muito preocupante.

Os pa�ses ricos alavancaram seu poder de compra e investimentos no desenvolvimento de vacinas para conseguir um assento na primeira fila, e depois compraram a maioria das vacinas antes dos outros pa�ses. Os pa�ses de alta renda t�m 16% da popula��o mundial, mas atualmente respondem por 60% das doses de vacina que foram vendidas.

Como a capacidade de manufatura global � limitada, isso deixa menos doses dispon�veis para todos os outros, pelo menos no curto prazo. Os pa�ses de renda baixa e m�dia n�o conseguiam fazer compras em grande quantidade ou comprar vacinas quando o risco de fracasso em seu desenvolvimento ainda era muito alto, ent�o, eles n�o tiveram acesso priorit�rio.

Esses pa�ses est�o claramente em perigo agora. A principal preocupa��o � que os pa�ses de renda baixa e m�dia simplesmente n�o tenham vacinas suficientes e que as pessoas que vivem nos pa�ses ricos sejam protegidas enquanto o v�rus se espalha nos pa�ses mais pobres.


Obter uma vacina com eficácia comprovada não será suficiente para deter a pandemia, porque será necessário garantir sua distribuição(foto: Getty Images)
Obter uma vacina com efic�cia comprovada n�o ser� suficiente para deter a pandemia, porque ser� necess�rio garantir sua distribui��o (foto: Getty Images)

BBC News Mundo - Quais s�o os principais riscos disso?

Taylor - A distribui��o desigual de vacinas � perigosa para todos. Os resultados podem ser catastr�ficos tanto para a sa�de quanto na economia. Isso causar� muito mais mortes em todo o mundo, especialmente entre nossos vizinhos mais vulner�veis.

Mas tamb�m significa que o v�rus continuar� a se espalhar e sofrer muta��es, aumentando o risco de que nossas vacinas n�o combatam efetivamente as novas cepas. Se os pa�ses ricos vacinarem suas popula��es, enquanto permitem que o v�rus se espalhe para outros lugares, eles podem descobrir que n�o est�o protegidos das cepas que surgirem.

Tamb�m devastar� nossas economias. Modelos recentes mostram que se os pa�ses ricos vacinarem suas popula��es antes de garantir o acesso aos pa�ses mais pobres, a devasta��o econ�mica custar� entre US$ 1,5 trilh�o e US$ 9,2 trilh�es e pelo menos metade do preju�zo ser� dos pa�ses ricos.


A OMS alertou que apenas um esforço global coordenado será capaz de eliminar a ameaça do Sars-CoV-2(foto: Reuters)
A OMS alertou que apenas um esfor�o global coordenado ser� capaz de eliminar a amea�a do Sars-CoV-2 (foto: Reuters)

BBC News Mundo - Alguns dos pa�ses que teriam de esperar anos para vacinar toda a sua popula��o s�o agora alguns dos lugares onde muitas vacinas est�o passando por estudos cl�nicos para aferir a efic�cia e a seguran�a desses imunizantes. Como entender essa aparente contradi��o?

Taylor - Ficou claro desde o in�cio que os pa�ses de renda baixa e m�dia teriam dificuldade em comprar vacinas. Vimos v�rios destes pa�ses aproveitando tanto a capacidade de fabrica��o quanto a infraestrutura dos testes cl�nicos para tentar garantir as ofertas de vacinas.

L�deres de v�rios destes pa�ses nos disseram que estavam trabalhando para atrair testes cl�nicos na esperan�a de que isso os ajudasse a negociar um acordo de fornecimento com o desenvolvedor da vacina. Em alguns lugares, essa estrat�gia foi bem-sucedida, mas em outros, n�o.

BBC News Mundo - � o caso da Am�rica Latina, onde tamb�m vimos muitos governos que tomaram a decis�o de comprar algumas vacinas (como a russa Sputnik), mesmo quando os processos de ensaios cl�nicos e os resultados estavam sendo questionados por especialistas em sa�de p�blica. A falta de acesso a outras vacinas aprovadas e mais seguras poderia levar os pa�ses menos desenvolvidos a administrar doses que n�o foram exaustivamente testadas?

Taylor - Os l�deres desses pa�ses est�o tomando decis�es de sa�de p�blica muito dif�ceis, e a estimativa muda a cada semana, conforme o fardo da doen�a muda e novas variantes s�o descobertas.

H� alguns meses, ouvimos l�deres em muitos pa�ses menos desenvolvidos dizerem que n�o aceitariam uma vacina sem dados s�lidos de efic�cia.

Mais recentemente, estamos vendo esses mesmos pa�ses comprando vacinas que n�o divulgaram dados robustos, mas que podem estar em um avi�o 24 horas ap�s o fechamento do neg�cio.

Claro, isso � um risco e n�o � uma op��o t�o boa quanto usar uma vacina que foi rigorosamente revisada e aprovada por uma autoridade regulat�ria estrita.

Mas se sua escolha como l�der � entre algo e nada, provavelmente algo � melhor.


Muitas nações pobres terão que esperar até 2024 para vacinar toda a sua população contra o coronavírus.(foto: Reuters)
Muitas na��es pobres ter�o que esperar at� 2024 para vacinar toda a sua popula��o contra o coronav�rus. (foto: Reuters)

Por outro lado, h� relatos de pa�ses como Canad� ou EUA, que compraram doses suficientes para vacinar toda a sua popula��o v�rias vezes. Qual � a l�gica por tr�s desse "entesouramento"?

Muitos pa�ses ricos compraram vacinas suficientes para cobrir suas popula��es muitas vezes. Isso fazia sentido no mundo em que viv�amos seis meses atr�s, porque ainda n�o sab�amos qual das vacinas candidatas, se alguma, chegaria ao mercado.

A maioria dos pa�ses ricos comprou doses de v�rios candidatos na esperan�a de que, se um ou dois deles chegassem ao mercado, eles teriam 100% de cobertura de sua popula��o.

Como se viu, as vacinas covid-19 tiveram um sucesso al�m das expectativas. J� temos algumas no mercado e outras sair�o nos pr�ximos meses.

Na realidade, nenhum pa�s rico tem doses adicionais de vacina neste est�gio, mas as vagas de fabrica��o priorit�rias para 2021 foram reservadas para a maioria das vacinas contra covid-19.

Isso significa que os pa�ses que compram agora podem ter que esperar meses ou at� mais um ano.

BBC News Mundo - Uma das alternativas para essa situa��o � a Covax, esfor�o global que envolve pa�ses ricos e menos desenvolvidos pelo acesso equitativo �s vacinas contra o covid-19. Quais seriam os principais desafios desta proposta?

Taylor - O principal desafio que a Covax enfrenta � o tempo.

Embora a iniciativa tenha tido sucesso na compra de vacinas, garantir a entrega em paralelo com o lan�amento da vacina em pa�ses ricos � muito mais dif�cil.

As na��es de baixa e m�dia renda que contam com a Covax como uma parte importante de sua estrat�gia de vacinas precisam das doses agora, mas muitos dos espa�os de fabrica��o priorit�rios j� foram reservados por pa�ses ricos que fizeram acordos bilaterais.

Tamb�m � importante observar que a Covax � necess�rio, mas n�o suficiente.

Com 20% de cobertura populacional, � uma pe�a cr�tica da solu��o, mas os pa�ses pobres continuar�o a enfrentar enormes lacunas no acesso �s vacinas.

Temos que nos preocupar com a cobertura populacional restante de 40-50% necess�ria para alcan�ar nesses pa�ses a imunidade de rebanho (patamar necess�rio para que o v�rus tenha dificuldade de se espalhar em meio a tantas pessoas imunizadas).

BBC News Mundo - Suponha que eu seja o primeiro-ministro de uma na��o muito rica. Que argumento voc� me daria para me convencer de que n�o devo comprar doses suficientes para vacinar toda a minha popula��o, porque assim fazendo, outros pa�ses menos desenvolvidos n�o ter�o acesso a essa vacina? Por que devo me preocupar com eles em vez de vacinar todos os meus concidad�os?

Taylor - � realmente um argumento para autopreserva��o. Ao garantir que outros pa�ses tamb�m tenham acesso � vacina, voc� est� garantindo o sucesso da sua.

Os l�deres dos pa�ses ricos devem garantir que suas popula��es sejam cobertas o mais r�pido poss�vel e seria considerado um grande fracasso se n�o o fizessem.

Eles tamb�m devem garantir que todos os pa�ses tenham acesso �s vacinas ao mesmo tempo para cobrir suas popula��es mais vulner�veis, o que ajudaria a proteger a sa�de e os servi�os de emerg�ncia e reduzir as mortes.


A maioria das nações que começaram a vacinação são países de alta renda.(foto: Reuters)
A maioria das na��es que come�aram a vacina��o s�o pa�ses de alta renda. (foto: Reuters)

Modelos recentes mostram que deixar de fazer isso pode devastar as economias das na��es ricas e criar uma situa��o em que nunca estaremos livres desse v�rus.

Muitos pa�ses, incluindo Canad�, Reino Unido e bloco da Uni�o Europeia, declararam seu compromisso de doar as doses excedentes para outros pa�ses, mas o tempo realmente faz diferen�a.

Os l�deres dos pa�ses ricos devem come�ar a doar doses aos pa�ses mais pobres, continuando a vacinar suas pr�prias popula��es.

A Noruega j� liderou e afirmou que doar� doses paralelamente ao lan�amento de sua pr�pria vacina.

Os l�deres dos pa�ses ricos devem escolher melhores resultados de longo prazo, correndo o risco de perdas pol�ticas de curto prazo e encontrar maneiras de transmitir a import�ncia e os benef�cios disso para suas popula��es.

Isso requer uma lideran�a mais forte do que a que vimos at� agora, mas, sem ela, mesmo os cidad�os dos pa�ses ricos se sair�o muito pior.


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