Alimentos t�xicos: artificial e irresist�vel para muitos
De forma criteriosa e cient�fica, m�dico lan�a livro que aborda aspectos pol�ticos relacionados � produ��o e comercializa��o de alimentos
Biscoitos recheados: para muitos, imposs�vel comer um s� (foto: Steve Buissinne/Pixabay)
Antes de mais nada, caso tenha, elimine a convic��o/repeti��o de que alimenta��o saud�vel e de verdade pressup�e comida sem gosto, sem gra�a, sem sabor, sem aroma, sem tempero. N�o � nada disso. Por isso, o Brasil e o mundo lutam contra a chamada alimenta��o t�xica, que s� causa doen�as e mortes.
Dirceu de Lav�r Sales, m�dico cl�nico especializado em acupuntura, homeopatia e tratamento da dor, al�m de presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Sa�de (IEPS), explica que um exemplo cl�ssico de alimenta��o nociva � a alimenta��o atual, rica em produtos industrializados, repleta de aditivos qu�micos, gorduras (trans e saturadas), a��cares de v�rias naturezas, sal, �lcool, carnes e embutidos.
Os estudos das �ltimas d�cadas t�m revelado que essa perniciosa combina��o � respons�vel pelo desencadeamento de um consider�vel n�mero de doen�as cr�nico-degenerativas: hipertens�o, diabetes mellitus, obesidade, disfun��es imunol�gicas, neurodegenerativas e c�ncer. Dados de institui��es internacionais e do Instituto Nacional do C�ncer (Inca) atestam que 35% de todos os c�nceres existentes no planeta s�o gerados pela alimenta��o.
Foi convencido? O importante � que h� sa�das para n�o se intoxicar com a alimenta��o. A escolha est� em suas m�os. Dirceu de Lav�r Sales acredita que as pessoas de diversos grupos sociais t�m boa percep��o do que sejam alimentos nocivos e saud�veis. No entanto, falta-lhes capacidade de controlar o desejo de consumir aqueles sabidamente nocivos.
“Isso n�o ocorre por acaso, e se deve, sim, � conduta da esperta ind�stria dos alimentos, que sabe perfeitamente a combina��o exata para influenciar o desejo de consumidor: s�o cores, odores, consist�ncias e sabores, adicionados artificialmente aos alimentos, o que os torna irresist�veis para muitos. Entre esses muitos incluem-se pessoas de diversos n�veis de escolaridade, inclusive profissionais de sa�de."
A despeito dessa conduta, repetidas pesquisas n�o se cansam de mostrar os efeitos ben�ficos – anti-inflamat�rio, antioxidante, anticancer�geno – dos alimentos saud�veis: frutas, verduras, cereais integrais e leguminosas, entre outros.
PRAZERES IMEDIATOS
M�dico cl�nico Dirceu de Lav�r Sales alerta que existe um calculado processo para enganar as pessoas, a come�ar pelas embalagens em que as poss�veis vantagens s�o alardeadas em letras garrafais e os ingredientes aparecem em min�sculas. de forma que a leitura seja dificultada (foto: Claudio Carvalho/Divulga��o
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Dirceu de Lav�r Sales lembra vivemos em uma sociedade de verdades encomendadas, de pessoas tensas, ansiosas, insatisfeitas, �vidas de prazeres imediatos, e, portanto, bem mais suscept�veis �s mensagens da ind�stria dos alimentos, direcionadas ao prazer, ao imediatismo e ao modismo.
“Quem n�o sabe, por exemplo, os malef�cios relacionados ao consumo do �lcool, mas quantos tentam evit�-lo? O jovem de hoje, por exemplo, � formatado para ir na onda, surfar na superf�cie do nada, ostentar a sua liberdade por meio da bebida ou da droga. Os que se op�em ou n�o se enquadram nessa realidade s�o muitas vezes rejeitados, n�o s�o aceitos pela galera. E o pior, essa � a mesma realidade de muitos adultos, que buscam abrigo para suas ang�stias e anseios na bebida e na comida.”
Os desafios para comer alimentos saud�veis s� aumentam quando muitos deles, na verdade, s� parecem, mas n�o s�o saud�veis. “Na realidade, existe todo um calculado processo criado para enganar as pessoas, a come�ar pelas embalagens da maioria dos produtos, em que as poss�veis vantagens s�o alardeadas espalhafatosamente em letras garrafais, e os ingredientes aparecem em min�sculas letras estrategicamente localizadas, de forma que a leitura seja dificultada. Mesmo que consiga decifrar o que est� escrito, a maioria das pessoas ter� dificuldade de entender o que significa cada uma daquelas subst�ncias.”
A �nica sa�da para a tr�gica situa��o que vivemos � o esclarecimento e a conscientiza��o. Mas, se levarmos em considera��o que um m�dico, em seis anos de curso e mais dois de resid�ncia m�dica, n�o tem uma aula sequer sobre o tema alimenta��o e doen�as, percebemos o quanto estamos longe dessa meta
Dirceu de Lav�r Sales, m�dico cl�nico
Infelizmente, essa realidade � extensiva a muitos dos ditos produtos naturais, como leites, cereais, doces e tantos outros. Por outro lado, nossos �rg�os de fiscaliza��o e controle n�o t�m a estrutura necess�ria para garantir o acompanhamento ideal no que diz respeito � comercializa��o-fiscaliza��o dos alimentos.
O que significa que estamos � merc� da honestidade dos fabricantes. A �nica sa�da a m�dio prazo, afirma o m�dico, seria uma cont�nua companha de conscientiza��o dos profissionais de sa�de e da popula��o.
No entanto, alimenta��o correta tamb�m � uma forma de cura e tratamento. No livro lan�ado pelo m�dico cl�nico em 2020, “Alimenta��o na gera��o e cura das doen�as”, da editora Orion, � estarrecedor saber que a maior parte da alimenta��o leva a doen�as degenerativas, inflamat�rias, infecciosas, metab�licas, vasculares e oncol�gicas.
O livro esclarece que um bom n�mero de doen�as pode ser desencadeado pelo consumo de alimentos inadequados: ultraprocessados, carnes, gorduras, frituras, a��car, �lcool, mas, da mesma forma, ilustra com clareza o poder ben�fico de alimentos como frutas, verduras e alimentos integrais no processo de preven��o e at� cura de doen�as j� instaladas.
PARA LER
Livro: Alimenta��o na gera��o e cura das doen�as
Autor: Dirceu de Lav�r Sales
Editora: Orion
N�mero de p�ginas: 840
Pre�o sugerido: R$ 380
TR�S PERGUNTAS PARA ...
Raphaella Cordeiro, nutricionista, especialista em nutri��o cl�nica e esportiva (foto: Arquivo Pessoal)
1 - Principalmente na �rea fitness, esportiva, do grupo que tem cuidado e aten��o com alimenta��o, muitas vezes alimentos ditos saud�veis na verdade n�o o s�o. Quais os riscos?
De fato, existem alimentos vendidos como saud�veis, mas quando partimos para uma an�lise da verdadeira composi��o ele se mostram, muitas vezes, contr�rios � propaganda que os enaltece. Alguns t�m a��cares demais que, muitas vezes, est�o “escondidos” em outros nomes, muitas gorduras, s�dio, aditivos qu�micos etc., e quando n�o � tudo num produto s�. � necess�rio sempre ler o r�tulo dos alimentos para entender o que estamos consumindo. Dependendo do consumo, da quantidade e da frequ�ncia e, claro, de cada indiv�duo, podem ocorrer impactos na sa�de em patologias como diabetes, hipertens�o arterial, alergias alimentares e intoler�ncias, entre outros. Quanto � quantidade, tudo vai depender do que se est� consumindo e se � mesmo necess�rio, pois muitas vezes existem substitutos na “alimenta��o de verdade”, basta informa��o e orienta��o.
2 - Tem tamb�m o risco de alimentos, mesmo saud�veis, mas que consumidos em excesso podem ser nocivos � sa�de. Por favor, avalie alguns grupos:
A - Espinafre, acelga, beterraba, quiabo, kiwi, frutas vermelhas, cacau, cereais integrais e ch� preto: alimentos que t�m oxalatos, compostos que ao se juntar ao c�lcio podem levar � forma��o de pedras nos rins. H� alimentos que, apesar de ser realmente muito saud�veis, em excesso podem ser t�xicos. Existem mesmo compostos que s�o chamados de antinutrientes, mas h� formas de tentar diminuir o impacto deles no organismo. � poss�vel colocar alguns de molho de um dia para o outro, como as leguminosas, sementes e at� mesmo os folhosos. Escolher as op��es cozidas ou refogadas para abrandar esses compostos, podendo dispensar a primeira �gua de cozimento ou de fervura, por exemplo. Beber bastante l�quido ao longo do dia para manter a diurese e o funcionamento org�nico em dia. Os antinutrientes n�o s�o uma grande preocupa��o para a maioria das pessoas, mas podem se tornar um problema quando se trata de desnutri��o, por exemplo. Portanto, entender que esses alimentos t�m in�meras outras propriedades nutricionais que justificam, sim, o consumo deles na dieta de forma balanceada e variada. Outro ponto importante � usar panelas e utens�lios de materiais de qualidade que n�o transmitam metais pesados e/ou outros compostos para os alimentos.
B - Peixe-espada, atum, o l�cio (peixe predador de �gua doce), tubar�es ou ca��es: o consumo exagerado nos exp�e � contamina��o por metais pesados, principalmente merc�rio.
Saber a proced�ncia desses peixes � uma forma de tentar se assegurar de que os mesmos n�o venham de locais que tenham poss�vel contamina��o por metais pesados. Acredito ser essa a maior forma de preven��o, pois, no geral, o consumo de peixes � saud�vel, especialmente assados, cozidos ou grelhados. � fundamental, para qualquer alimento, saber e ter o controle da proced�ncia.
C - Frutas secas (nozes, castanhas…): s�o realmente supersaud�veis, cont�m gorduras preciosas que combatem o colesterol ruim, antioxidantes, fibras e minerais, mas o problema delas s�o as calorias. Mais de 15g por dia � demais, ou seja, 3 ou 4 nozes ou castanhas ou amendoins.
As sementes oleaginosas s�o riqu�ssimas em nutrientes important�ssimos para as fun��es org�nicas. Mesmo assim, � importante dosar a quantidade de consumo para que o excesso n�o seja um problema. O fundamental � a variedade e a modera��o, que deve sempre ser o ideal para se manter o equil�brio do organismo.
3 - H� alimentos apontados como altamente t�xicos e perigosos. O mais popular � a carambola, que, apesar de ser fonte de antioxidantes, vitaminas e de fortalecer o sistema imunol�gico, � contraindicada para quem tem problemas renais. Ou o caf�, que, se tem propriedades medicinais comprovadas como a redu��o de doen�as neurodegenerativas, em excesso pode causar arritmia, ansiedade, gastrite, ins�nia ou at� irrita��o. H� outros?
Isso vai depender muito de situa��es individuais como patologias, intoler�ncias ou alergias. Cada ser individualizado tem que ser analisado e, a partir da�, ver a real necessidade de excluir alimentos ou n�o.