(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

Elaborar o luto � fundamental para seguir a 'nova' vida

A pandemia do novo coronav�rus impediu a reuni�o de familiares e amigos na �ltima despedida a um ente querido que se foi


28/03/2021 04:00 - atualizado 25/03/2021 14:19

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)


� preciso haver despedida. � o que afirma Carolina Oliva, psic�loga cl�nica especialista em luto materno e de fam�lias. E, em meio � pandemia de COVID-19, at� o mesmo o �ltimo “adeus” foi negligenciado. “Nesse cen�rio, a oportunidade de algumas fam�lias de fazerem um vel�rio ou um enterro, que s�o importantes para a elabora��o do luto, deixou de existir. E quando n�o temos possibilidade de nos despedir, tudo se torna mais dif�cil de ser elaborado. A possibilidade de viver um luto patol�gico � muito maior, porque precisa existir o tempo da despedida, precisa existir esse momento de dizer as �ltimas palavras para aquela pessoa que se foi.”

Al�m disso, estrat�gias de recupera��o acabam por ser impossibilitadas neste contexto, uma vez que o toque e o abra�o se tornam riscos � sa�de e � vida. “Todos n�s, enquanto sociedade, temos rituais que fazem parte da cultura e que contribuem para a assimila��o da perda em si, para a assimila��o dos acontecimentos. Ent�o, para al�m de as restri��es dos vel�rios influenciarem na forma como se processa a emo��o, a impossibilidade de socializa��o no momento, sem sombra de d�vidas, faz com que as pessoas enlutadas sofram mais, sem um abra�o ou afago amigo”, afirma Kelly Pereira Robis.

DOAR AMOR 


Dividir sentimentos no per�odo de luto � como receber um afago e um acalento em um momento de dor. Independentemente de a sensa��o ser a de que o mundo est� desabando, ter algu�m com quem compartilhar pode ser reconfortante. Segundo Kelly Robis, � justamente por isso que os grupos de ajuda podem cooperar, e muito, para que a pessoa enlutada encontre abrigo e escuta, a fim de se recuperar emocionalmente. Deparar-se com pessoas que passam ou j� passaram pelo mesmo sentimento e pela mesma dor tamb�m reconforta, segundo a psic�loga.

� quase um grito de liberta��o. Um “eu n�o estou sozinho”. Isso porque, conforme explicado por Kelly, a pessoa que se encontra em situa��o de luto tende a se isolar por julgar-se ‘chata’ ou monotem�tica por falar muito da perda. “Assim, ela perde v�nculos sociais. E os grupos de apoio podem ser uma forma de identifica��o com um novo ideal e com o querer ajudar o outro. Essa � uma forma de ser ouvido e ouvir, de falar sobre o seu sofrimento, mas tamb�m uma forma de ouvir sobre a experi�ncia do outro e entender como ele superou aquela perda.”
 
(foto: Able Comunicação/Divulgação )
(foto: Able Comunica��o/Divulga��o )
 
"O luto �, em geral, um momento no qual podemos nos voltar para n�s mesmos, recalibrar as nossas emo��es e os nossos pensamentos para que se possam criar estrat�gias e formas de viver de outra forma, de reassumir a rotina e recriar a nossa vida”
 
Kelly Robis, psiquiatra
 
 
(foto: Rafael Miranda/Divulgação)
(foto: Rafael Miranda/Divulga��o)
 
 
"A possibilidade de viver um luto patol�gico � muito maior, porque precisa existir o tempo da despedida, precisa existir esse momento de dizer as �ltimas palavras para aquela pessoa que se foi”
 
Carolina Oliva, psic�loga cl�nica

A assistente social T�nia Regina Villanoeva Fernandes, de 59 anos, concorda que essa uni�o e compartilhamento entre fam�lias enlutadas � uma esp�cie de aconchego. Ela, que j� havia experienciado essa rede de apoio ao participar de um grupo de ajuda denominado Apoio a Perdas Irrepar�veis (API), atualmente busca ajudar outras pessoas que passam pelo que ela passou h� alguns anos com a perda de um de seus filhos. “O Doando Amor nasceu, na verdade, ainda na missa de s�timo dia do meu Daniel.”

“Naquele momento, eu chamei at� o altar da igreja todas as m�es que haviam passado pela perda de um filho. O altar da igreja lotou. Pedi a elas que me ajudassem, pois sozinha eu n�o daria conta de enfrentar tamanha dor. Entre idas e vindas em busca de ajuda emocional, psicol�gica, religiosa e terapia, um dos meus filhos, em sofrimento absurdo, foi morar comigo e n�s dois, juntos, come�amos a nossa busca por m�es que passavam pela mesma situa��o e as convidamos para o API. E em uma das conversas que tive com outras m�es, resolvemos criar um grupo no WhatsApp”, conta.
 
Aos poucos, m�es de todo o Brasil se juntaram naquele pequeno espa�o de aconchego e mensagens. “Somos v�rias pessoas juntas com a dor de um amor perdido, mas doando amor � menos dolorido. Juntos, � um pouco menos dif�cil de continuar. No grupo, falamos a mesma l�ngua, todos os sentimentos s�o iguais. O nosso cantinho � um lugar de aconchego. Nele, podemos falar sem cobran�as das nossas dores. A dor que � f�sica e faz doer os ossos. Dor essa que � latente e chega a ser cruel. E no grupo podemos falar tudo isso, sem sentir medo e obriga��o de se sentir bem o tempo todo.”
 

JORNADA MATERNA


A psic�loga Carolina Oliva, sobrevivente do luto do Jo�o, em busca de levar mais conforto e informa��o para m�es enlutadas criou, inicialmente, a p�gina Jornada do Luto Materno no Facebook, Instagram e YouTube. Por�m, atualmente, ela passou a se identificar como Carol Oliva (@carololiva__) para se aproximar de seus seguidores e para que eles a reconhe�am como algu�m que enfrenta todos os dias a perda.

“Criei um curso on-line, que se chama jornada de luto, porque o que vivemos faz parte de uma grande jornada, porque o luto n�o acaba e faz parte da nossa vida, da nossa jornada. Criei o curso com base no que estudei sobre luto, finitude e cuidados paliativos, baseado em evid�ncias cient�ficas e da medicina. Ele ocorre em m�dulos, como uma sequ�ncia de v�deos, para ajudar as mulheres a elaborar melhor a sua hist�ria e faz�-las entender o que est�o vivendo. � como se eu pegasse na m�o daquela mulher virtualmente e com as minhas palavras levasse um pouco de paz para ela e sua fam�lia”, conta.

Al�m disso, Carolina Oliva criou uma comunidade on-line. “A turma troca informa��es, conversa entre si e exp�e sentimentos, emo��es e desafios durante a jornada. Eu presenteio as participantes com um di�rio, o di�rio do luto materno, no qual elas podem escrever a jornada de luto para entender essa jornada, como a est�o trilhando, desabafar e ter esses registros como uma recorda��o desse momento, porque, l� na frente, a pessoa poder� reler sem que isso a fa�a mal. Ela apenas ver� a pessoa que se tornou quando aceitou a viver o luto”, diz.

*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)