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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Todo mundo merece uma segunda chance?

Em meio � era do cancelamento e, tamb�m, do julgamento, perdoar e ser perdoado trazem benef�cios m�tuos para as rela��es


28/03/2021 04:00 - atualizado 25/03/2021 15:18

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Errar � humano. Afinal, a vida n�o vem com um manual de instru��es ou uma “receita de bolo” sobre o que deve ou n�o fazer, nem sobre o que � certo ou errado. No entanto, em um mundo de exposi��o da imagem, em que redes sociais e programas de TV cada vez mais exp�em vidas e atitudes, a cultura do pr�-julgamento e do cancelamento contrap�e a premissa de que � aceit�vel cometer equ�vocos.

“Todos n�s estamos sujeitos ao erro. Por mais que fa�amos de tudo para n�o errar, em algum momento vai acontecer. Somos falhos”, lembra a te�loga Suelen Souza. O psic�logo comportamental Leonardo Morelli frisa que, a princ�pio, � importante entender, antes de julgar uma pessoa, o teor do ato cometido. Segundo ele, o “equ�voco” pode ser, de fato, um erro, um engano ou um acidente. “Em um exemplo simples, errar � quando sei que atravessar um sinal vermelho � errado e mesmo assim eu atravesso. Isso � um erro. Agora, quando eu tenho que atravessar a rua, o sinal est� ficando amarelo e eu atravesso, estou, de certa forma, cometendo um engano por achar que podia passar e n�o d�.”
 
(foto: Eliamara Sena Braga/Divulgação)
(foto: Eliamara Sena Braga/Divulga��o)
 
"Perdoar � entender e compreender a outra pessoa. � o lugar no qual se pratica a empatia e se coloca no lugar do outro e compreende o que aconteceu”
Leonardo Morelli, psic�logo comportamental 
 
E quando esse erro, engano ou acidente atinge diretamente outra pessoa? Ou, mesmo que n�o atinja, ele toca em um ponto de empatia para com outrem? Nesses casos, de acordo com Leonardo Morelli, perdoar poder ser libertador, e isso de forma m�tua, para ambos os lados. “Perdoar � entender e compreender a outra pessoa. � o lugar no qual se pratica a empatia e se coloca no lugar do outro e compreende o que aconteceu, pensando que talvez faria a mesma coisa. Quando isso ocorre, n�s temos uma possibilidade muito grande de perdoar o outro. E esse perd�o n�o faz bem s� para quem cometeu o erro, mas para os dois lados, por trazer al�vio. Na verdade, o perdoar � muito mais para quem perdoa do que para a outra pessoa, pois temos sentimentos e temos de lidar com eles: raiva, frustra��es e ang�stias”, afirma.

O perd�o liberta esses sentimentos. � uma esp�cie de cura para a alma. Mas, e quando esse errar transcende enganos e a��es pessoais e passa a ofender ou at� mesmo prejudicar o outro de prop�sito, de forma a “alimentar” desejos e anseios tidos como impuros? “Temos, ent�o, que jogar esse ato em um crivo e entender quando ele tem como objetivo prejudicar o outro ou querer aquilo que o outro tem.”

A psic�loga S�nia Eust�quia elucida que, quando se tem consci�ncia de um erro e ele se torna quase que uma esp�cie de v�cio ao ser replicado continuamente, transcende a normalidade do errar. “Quando n�o h� arrependimento verdadeiro e eu sei que estou ferindo o outro, sei que estou agindo de forma agressiva e ofensiva, mas continuo agindo do mesmo jeito, ent�o esse erro deixou de ser ‘humano’ e se tornou consciente. O indiv�duo, ent�o, escolhe errar e ainda procura justificativas para os atos. Pode ser que ele at� sinta um remorso, mas, em pouco tempo, esse sentimento passa e nada muda.”

SEGUNDA CHANCE 


Come�ar de novo, mudar e consertar erros ou simplesmente ter a chance de magoar mais uma vez? Ao pensar em dar uma segunda chance a algu�m, talvez esses sejam os primeiros questionamentos para com a atitude do outro a serem feitos. Por�m, segundo Suelen Souza, sempre se � poss�vel dar uma segunda chance. “Penso que n�o � por merecimento. Isso se chama gra�a, um favor que n�o se merece. Jesus nos perdoa e nos ama mesmo sem merecermos e nos convida a fazer o mesmo ao pr�ximo. Mas ele tamb�m espera uma resposta coerente ao perd�o que nos foi oferecido. Assim, tamb�m n�s, quando damos uma segunda chance a algu�m, esperamos uma posi��o diferente.”

Para a te�loga, todos podem mudar, j� que o ato de se conhecer e identificar erros e h�bitos a serem mudados � uma escolha pessoal. No entanto, isso n�o � t�o f�cil quanto parece e demanda, al�m do perd�o, tempo e esfor�o di�rio. “Cada um vive o seu processo. H� quem ir� conseguir muito r�pido e quem vai morrer lutando. O importante � n�o desistir de ser melhor. Mas, para mudar, � preciso arrependimento, reconhecer que errou e partir rumo �s mudan�as.”

Para a psicóloga Sônia Eustáquia, quando não há arrependimento verdadeiro o erro deixou de ser 'humano' e se tornou consciente(foto: Árvore Comunicação/Divulgação)
Para a psic�loga S�nia Eust�quia, quando n�o h� arrependimento verdadeiro o erro deixou de ser 'humano' e se tornou consciente (foto: �rvore Comunica��o/Divulga��o)
 
Suelen Souza lembra, ainda, que perdoar e dar uma segunda chance a algu�m n�o quer dizer que todos os erros daquelas pessoas foram esquecidos. Perdoar, segundo ela, � entender que o outro erra e, ao pensar no passado em que o ato foi cometido, qualquer que seja ele, as lembran�as venham sem dor.

NA FAMA 


E quando errar envolve ser julgado e at� magoar milh�es de pessoas? Um exemplo s�o os realitys shows, no qual a vida e o car�ter das pessoas s�o julgados pelos erros cometidos em confinamento. Seja para com o p�blico, um nicho espec�fico ou at� mesmo outro participante, atos equ�vocos ou compulsivos podem valer uma carreira ou o pr�mio final do programa de televis�o. Foi assim com tantos ex-participantes do “Big brother Brasil”, da Rede Globo, por exemplo, e mais recentemente com a cantora e rapper Karol Conk�.

“Ter sempre a consci�ncia de que milhares de pessoas est�o vigiando cada um dos seus passos tem um peso. Querendo ou n�o, a pessoa atua como refer�ncia para um determinado grupo e, como refer�ncia, a responsabilidade sobre suas escolhas e atitudes � muito grande. Se a pessoa tiver essa consci�ncia, ela se ver� diante de dilemas �ticos ao longo da fama, muitas vezes precisando agir sobre como escolheria se n�o fosse uma pessoa famosa”, avalia a psiquiatra Jaqueline Bifano.

De acordo com ela, para essas pessoas, determinadas situa��es implicam obriga��o em mudar. “Como � um processo dif�cil e que n�o ocorre de uma hora pra outra, a ‘obriga��o’ pode acabar gerando uma simula��o p�blica da mudan�a. Publicamente, a pessoa pode agir como se tivesse mudado, escolher suas atitudes com mais cuidado e vigil�ncia sem, no entanto, ter mudado de fato. Claro que n�o � uma regra. A pessoa pode sim mudar, como qualquer outra pessoa. Mas para mudar mesmo, s� se for uma escolha pessoal, independentemente da press�o. Ser� no seu tempo, no seu processo, e isso � muito individual.”

Nesse cen�rio, o ‘cancelamento virtual’ surge como press�o por mudan�a, o que, para a psiquiatra, pode atrapalhar, e muito, o processo. “Isso, no m�nimo, vai fazer a pessoa olhar para aquele comportamento. Ela pode se ressentir, se retrair, questionar seu pr�prio valor ou agir de in�meras outras maneiras. Pode tamb�m come�ar a questionar o que foi que ela fez que gerou aquela rea��o p�blica. E pode, a partir disso, decidir que quer mudar. Mas uma coisa n�o necessariamente levar� � outra. O mais prov�vel � que o cancelamento atrapalhe a mudan�a, pois vai afetar a autoestima, a imagem de valor pr�prio, e pode desestimular e contribuir para que a pessoa entre num ciclo emocionalmente adoecido.”

*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram


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