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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Casais homoafetivos: o desafio de assumir a homossexualidade

No m�s em que � celebrado o orgulho LGBTQIA+, especialistas falam das dificuldades no processo entre pais e filhos sobre a sexualidade


20/06/2021 04:00 - atualizado 19/06/2021 23:02

Pais criam expectativas sobre os filhos. Muitos não estão prontos para aceitar o contrário, é aí que as relações podem se complicar(foto: Pixabay)
Pais criam expectativas sobre os filhos. Muitos n�o est�o prontos para aceitar o contr�rio, � a� que as rela��es podem se complicar (foto: Pixabay)


Desde que o mundo � mundo, pais criam expectativas sobre os filhos. Basta observar os preparativos para o nascimento de um beb�. No enxoval, vestidinhos e bonecas se for menina; carros e bon�s se for menino.

A quest�o � que a vida e a individualidade dos filhos s�o muito mais amplas e complexas do que roupinhas rosa ou azul. A maioria dos pais, por�m, n�o se sente pronta para ter essa conversa. � a� que as rela��es podem se complicar.

Quando um filho ou filha demonstra n�o ter uma orienta��o heterossexual, em algumas fam�lias, conflitos come�am a surgir. Muitos pais e m�es querem ajudar, mas, na maioria das vezes, n�o sabem como. Outros, por ter suas expectativas frustradas, n�o aceitam e podem desencadear sucessivos problemas de autoestima e inseguran�a nos filhos.

“A melhor forma de agir � sempre escutar e acolher. � muito importante que o adolescente se sinta ouvido e respeitado em suas quest�es e descobertas”, recomenda a psic�loga Stephanie Gutierres.

“Na nossa sociedade, existe o que chamamos de sistema heteronormativo, ou seja, o padr�o considerado ‘normal’ ou ‘esperado’ � o de orienta��o sexual h�tero. � interessante pontuar que esse padr�o � imposto e refor�ado ao longo dos anos, por meio de falas e condutas que colocam o que est� fora do padr�o como algo marginalizado ou malvisto. E isso � heran�a de um longo hist�rico de preconceito e homofobia”, explica a profissional.

Para a aposentada Roberta**, receber da filha a not�cia de que ela era homossexual n�o causou espanto, mas o processo at� a revela��o foi longo e complicado. Ela conta que j� desconfiava da orienta��o sexual de Gabriela**, por�m, n�o tomava a iniciativa de perguntar, e a jovem n�o se abria.

“Desde a adolesc�ncia, percebia alguns comportamentos que demonstravam que ela era homoafetiva, mas como era uma menina muito rebelde, muito geniosa, achava que aquilo era para me atacar. Pensava que era rebeldia de adolescente ou que, talvez, fossem as companhias”, lembra a m�e.

“� engra�ado como s�o as coisas. Fui criada desde que nasci na igreja evang�lica, tenho meus princ�pios evang�licos, mas, naquele momento, o que me machucava n�o era o fato de ela ser homoafetiva, e sim a forma agressiva como ela trouxe isso para mim”, conta. Gabriela diz que suas impress�es sobre o que os outros achariam sobre sua orienta��o sexual, no final das contas, estavam erradas: “Achava que as pessoas me tratariam diferente, mas isso n�o aconteceu”.

Com o tempo, � medida que Gabriela crescia e amadurecia, Roberta tamb�m mudava a atitude em rela��o � filha, que n�o demonstrava mais comportamentos defensivos. Os atritos diminu�ram e, quando a jovem se assumiu, foi acolhida com naturalidade. A tens�o inicial causada pelo conflito de opini�es deu lugar a um novo sentimento: o medo de a filha sofrer algum tipo de preconceito.

“Tinha muito receio de ela ser discriminada, atacada, ficar sozinha e deprimida por conta disso. Mas, hoje, vejo que o meio dela a aceitou muito bem, porque a gera��o atual tem outra cabe�a. Ela foi muito bem acolhida nos ciclos de amizade e, no emprego, � bem-sucedida”, alegra-se a m�e.

ESCUTAR E ENTENDER 


Uma das quest�es que podem ser vivenciadas no ambiente familiar, envolvendo pais e filhos homossexuais, � quando o pai e a m�e divergem em rela��o � aceita��o do(a) filho(a). A psic�loga Tha�s Christinne dos Santos Ventura, especialista em psicoterapia para popula��o LGBTQIA+, explica que o fato de ter uma das figuras compreendendo e acolhendo j� ajuda muito.

Segundo ela, estudos apontam que quando um jovem LGBTQIA � acolhido por um adulto, o risco de suic�dio cai em 40%. Ou seja, ter algu�m que o ame e o aceite contribui muito para a sensa��o de bem-estar dessa pessoa.

“A psicoterapia pode tamb�m ser um caminho para os pais entenderem seus filhos, e os filhos conseguirem lidar melhor com esse momento”, sugere a profissional. “Buscar o processo psicoterap�utico � um caminho important�ssimo, por ser um ambiente de escuta, autoconhecimento e reflex�o. � poss�vel entender os sentimentos que emergem diante da orienta��o ou identidade do filho, e melhor trabalh�-los.”

A psic�loga tamb�m alerta para um erro comum de alguns pais, de acreditarem que h� algum tipo de “revers�o” para a homossexualidade, ou que tratam os filhos de forma ofensiva, na tentativa de “corrigi-los”.

“Muitos estudos j� foram feitos, e sabemos que n�o h� ‘revers�o’ ou ‘cura’ para a homossexualidade, pois n�o se trata de escolha ou op��o. A agressividade denota a ideia de puni��o. E por qual motivo uma pessoa homossexual merece ser punida? Acredito que o conhecimento pode tirar as pessoas dessa zona obscura e agressiva.”
 

 
LIBERDADE 


A estudante Rhanna Lima, de 21 anos, assumiu-se para os pais aos 15, apesar de j� ter certeza sobre a pr�pria orienta��o sexual desde os 13. Ela conta que, no in�cio, tudo foi muito dif�cil e conturbado. Com a m�e, ela teve mais liberdade para conversar, mas diz que ficou t�o nervosa que n�o conseguiu se expressar direito. J� o pai a viu de m�os dadas com a namorada da �poca e fez uma reuni�o de fam�lia para perguntar para a filha sobre sua sexualidade. “Falei que era isso mesmo, mas eu estava muito nervosa e s� conseguia chorar.”

A jovem desabafa que, no in�cio, os pais erraram bastante na forma como a trataram e lidaram com a situa��o, mas que, aos poucos, eles foram entendendo, e a rela��o familiar melhorou muito.

“Eu estava muito feliz individualmente, porque nunca tive problemas em me aceitar. Foi um processo de al�vio e liberta��o, porque poder amar quem eu queria amar, sem precisar esconder isso dos meus pais, era uma coisa maravilhosa. Foi uma sensa��o muito boa poder ser quem realmente eu era, mas, ao mesmo tempo, percebia que eles estavam em muito conflito”, afirma Rhanna.

A estudante recorda que sentia que precisava trazer a seguran�a que eles n�o podiam lhe dar, e respondeu a isso sendo segura de quem � – o que deu aos pais um pouco mais de calma. “Eles s� precisavam de tempo. Hoje, a gente tem uma rela��o muito boa”, diz.

A jovem ressalta ainda a import�ncia do di�logo e do acolhimento das fam�lias com pessoas LGBTQIA : “A gente precisa se sentir seguro nos lugares e nada melhor do que se sentir seguro dentro de casa. Eu acho que � isso que falta, os pais perceberem que, na verdade, voc� n�o tem que mudar seu filho para o mundo n�o machuc�-lo, e sim dar seguran�a suficiente para ele poder enfrentar as coisas no mundo”.


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