
Conduzido pelo Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo, o estudo j� entrevistou 150 pacientes que foram internados na UTI pelo coronav�rus. P�s-doutor em Neurologia e Neuroci�ncias, Jos� Eduardo Pompeu, coordenador do projeto e professor de fisioterapia no HCFMUSP, explica que ainda � cedo para afirmar se essas sequelas s�o efeitos neurol�gicos causados pelo pr�prio v�rus da Sars-CoV-2 ou se est�o associados � experi�ncia de entrar e sobreviver ao tratamento intensivo em meio � pandemia.
"� uma somat�ria de tudo isso. Fica dif�cil separar o que � afetado diretamente pela COVID, at� mesmo pelas consequ�ncias e efeitos secund�rios de uma interna��o prolongada em UTI", afirma, citando que a "s�ndrome p�s-UTI" tamb�m acomete pacientes de outras doen�as, mas � intensificada pelo longo per�odo em intuba��o ou ventila��o mec�nica em v�timas do coronav�rus.
A s�ndrome de fragilidade, explica Pompeu, � mais comum entre idosos, mas tamb�m tem impactado o quadro de recupera��o para pacientes adultos da COVID. Ela se manifesta por meio da perda de peso n�o intencional, exaust�o, redu��o da velocidade ao caminhar, diminui��o da for�a muscular e tamb�m da atividade f�sica.
Livre da COVID desde setembro do ano passado, Keli Cristina Macedo, de 45 anos, conta que at� hoje tem dificuldades para respirar e vive em constante medo de uma nova infec��o. Ela passou 15 dias internada, sete deles na UTI, teve uma hemorragia e um AVC por causa do coronav�rus e durante todo o per�odo n�o teve contato com nenhum familiar ou amigo.
"Senti o al�vio de ter sa�do, mas cheguei em casa ainda muito ruim. N�o conseguia tomar banho sozinha, com a respira��o muito ruim e um problema nas pernas e no bra�o", conta Keli. Foram dois meses e meio com tr�s sess�es de fisioterapia por semana at� recuperar as fun��es motoras e, mesmo hoje, ela precisa fazer sess�es em casa para melhorar o movimento dos bra�os. "Se eu for estender uma roupa, meu pulm�o j� come�a a doer."
Logo ap�s ela receber alta, Keli diz que j� sentia as sequelas neurol�gicas da COVID. "Minha mem�ria continua uma porcaria, tudo que eu fa�o tenho que contar para a minha filha. Quando sa�, nem a senha do cart�o e meu endere�o de casa eu lembrava."
O pavor de contrair o v�rus novamente tamb�m permanece. "A vida muda muito. Voc� fica com mais receio, com p�nico de sair na rua, n�o quer que ningu�m venha na sua casa, chega a ter medo da pr�pria fam�lia, sabe assim? � muito dif�cil."
Os dados preliminares do HCFMUSP apontaram que, al�m da fragilidade, cerca de 30% dos pacientes entrevistados tamb�m apresentaram sintomas prov�veis de ansiedade e depress�o, a maioria pelo medo de ficarem doentes de novo. Ao mesmo tempo, atividades rotineiras tamb�m s�o afetadas por sequelas como incontin�ncia urin�ria, dificuldade em ir ao banheiro, trocar de roupa, subir escada, tomar banho ou at� se mover da cama para uma cadeira.
"S� de voltar vivo pra casa j� � uma vit�ria. Mas voc� sabe que n�o t� voltando 100% do jeito que era. N�o adianta, sempre tem alguma coisa", conta Antonio Sabino, de 65 anos. Em mar�o deste ano, ele passou uma semana internado na UTI pela COVID e, ao receber alta, conta que continuou com uma sensa��o de cansa�o constante e falta de ar que impediam at� uma simples conversa em casa.
Apesar de estar aposentado, seu Antonio conta que o valor de um sal�rio m�nimo da pens�o n�o � suficiente para sobreviver e, por isso, ele trabalha como vigia de obras no centro de S�o Paulo. Antes de retomar a jornada, entretanto, ele precisou pedir sete dias de folga ap�s sair da UTI, para recuperar o f�lego, os movimentos e tamb�m a mem�ria.
"Tudo que vou fazer, eu esque�o em dois ou tr�s minutos. Se deixo uma coisa num lugar, esque�o onde t�. Se vou pegar algo no carro, esque�o tamb�m o que ia pegar." Para seu Augusto, a volta � rotina ainda � um desafio. "De in�cio eu nem ia no mercado, tinha medo de entrar e pegar o v�rus de novo. Quando voc� pega, fica com um pouco de trauma."