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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Mais Plat�o, menos prozac: Voc� conhece a filosofia cl�nica?

O modelo de tratamento para cuidar da sa�de mental � instrumento que ajuda a lidar com quest�es existenciais e problemas interiores


01/08/2021 04:00 - atualizado 01/08/2021 07:53

A filosofia clínica aborda os pensamento com fins terapêuticos(foto: Gordon Johnson/Pixabay )
A filosofia cl�nica aborda os pensamento com fins terap�uticos (foto: Gordon Johnson/Pixabay )

Mais Plat�o, menos prozac. Muitos ainda n�o conhecem a filosofia cl�nica como modelo de tratamento para a sa�de mental com foco na organiza��o e/ou estrutura��o do pensamento como instrumento para lidar com os problemas interiores e quest�es existenciais.

O fil�sofo alem�o Gerd. B. Achenbach, fundador da pr�tica filos�fica (philosophische pr�xis), em 1981, afirmava que a filosofia s� pode ser realmente compreendida por meio de sua pr�tica e de uma experi�ncia emp�tica: “terapia da alma”.

Com abordagem distinta da pr�tica desenvolvida por psic�logos, psicanalistas ou psiquiatras (com discord�ncias por parte de alguns profissionais), a filosofia cl�nica � o uso do pensamento com fins terap�uticos e, no Brasil, foi inaugurada pelo fil�sofo e psic�logo L�cio Packter, em Porto Alegre (RS), na d�cada de 1990.

O fil�sofo Guilherme Caiado, fil�sofo cl�nico, pedagogo e professor na rede municipal de Uberaba, explica que a filosofia cl�nica � uma abordagem terap�utica que se fundamenta na filosofia cl�ssica.
 
Segundo ele, � um m�todo terap�utico livre, reconhecido como uma modalidade terap�utica, assim como tantas outras. “Nos prim�rdios, era recomendado ser fil�sofo de forma��o, hoje avan�amos. Exige-se uma gradua��o e os cursos de forma��o em filosofia cl�nica adequou seu curr�culo para esta nova demanda.”

A filosofia só pode ser compreendida por meio de sua prática e de uma experiência empática: terapia da alma(foto: Sophie Janotta/Pixabay )
A filosofia s� pode ser compreendida por meio de sua pr�tica e de uma experi�ncia emp�tica: terapia da alma (foto: Sophie Janotta/Pixabay )


Guilherme Caiado conta que no Brasil, existe a Associa��o Nacional de Fil�sofos Cl�nicos (Anfic), que vai nortear e orientar os centros de forma��o, c�digo de �tica e orienta��es do funcionamento dos consult�rios.

“O sistematizador da filosofia cl�nica no pa�s cedeu os direitos autorais de suas obras, sobretudo os cadernos cl�nicos, que � muitas vezes a “B�blia” do fil�sofo cl�nico. Em Minas Gerais est�o sobre tutela do Instituto Mineiro de Filosofia Cl�nica (IMFIC), que regulamenta os centos de forma��o. H� v�rios polos, como Uberl�ndia, Lavras, Po�os de Caldas, S�o Jo�o del' Rei e Belo Horizonte. A filosofia cl�nica hoje est� presente em empresas, escolas, hospitais, cl�nicas, igrejas, em suma, onde existir um ser humano. Ela n�o se limita a consult�rios.

Cada pessoa tem um modo singular e subjetivo de se movimentar existencialmente e, na maioria das vezes, os desconfortos emocionais decorrem justamente dos conflitos das v�rias maneiras de ser que, �s vezes, se desencadeiam pela aus�ncia do conhecimento de seu funcionamento existencial

Guilherme Caiado, fil�sofo cl�nico



O engenheiro Elson Greg�rio, de 36 anos, revela que procurou a filosofia cl�nica para se conhecer melhor e “tratar um ‘trama’ do passado”. Ele conta que perdeu o pai aos 8 anos e teve uma adolesc�ncia complicada. N�o de dar trabalho, mas de um jovem bem fechado. “Minha m�e sempre bateu nessa ‘tecla’, de que precisava de ajuda profissional. No fundo, era resistente, mas decidi procurar, j� que estava em uma p�ssima fase, nada dava certo e lidava com v�rias incertezas e d�vidas sobre a vida.”

Elson destaca que a aceita��o veio depois de perceber que precisava de ajuda externa: “Nunca fui uma pessoa que conseguisse se abrir com algu�m, tinha dificuldades em relatar meus pr�prios problemas e sempre queria ajudar a todos, assumindo as dores alheias. Queria algo novo. Cheguei a fazer consultas com psic�logos, mas n�o me ajudaram muito, n�o conseguia me encontrar. Para mim, chegar num consult�rio e j� ter de me abrir era dif�cil. Fui a um psic�logo logo ap�s o falecimento do meu pai, mas era uma crian�a e isso n�o deu certo, n�o quis dar sequ�ncia. A segunda experi�ncia foi na fase adulta e tamb�m n�o foi bom, pelo simples fato de ser uma pessoa fechada e n�o conseguir me abrir e contar meus problemas.”

O engenheiro Elson Gregório enfatiza que a filosofia clínica o fez analisar a sua vida de outra maneira, de outro ângulo e conseguir ter mais paz para tomar decisões(foto: Arquivo pessoal )
O engenheiro Elson Greg�rio enfatiza que a filosofia cl�nica o fez analisar a sua vida de outra maneira, de outro �ngulo e conseguir ter mais paz para tomar decis�es (foto: Arquivo pessoal )
A filosofia cl�nica foi a grande sa�da para Elson: “� dif�cil falar do resultado porque foi fant�stico, me ajudou em v�rios fatores. Em pouco tempo, sem perceber, j� tinha contado a minha vida para a fil�sofa e me sentia outra pessoa, conseguia analisar a vida de outra maneira, de outro �ngulo, conseguir ter mais paz, tranquilidade para tomar decis�es. Passei a falar, e esse era um desafio enorme na minha vida”.

MUDAN�A DE VIDA 


Elson conta que fez o tratamento por dois anos e, infelizmente, interrompeu por causa da pandemia: “N�o quis fazer remoto porque gostava do presencial, dos exerc�cios, sempre me relaxava, costumava at� dormir na hora da medita��o (mesmo a terapeuta me dizendo que eu n�o estava dormindo), conseguia sair do consult�rio bem mais leve. Nunca fiz outro tipo de terapia. Sempre que tive oportunidade de conversar com uma pessoa que fazia alguma terapia, percebia que a minha cuidava al�m da mente, mas do corpo tamb�m, o que � fundamental. Depois de fazer a filosofia cl�nica, percebi que todos necessitam dessa experi�ncia, al�m de bom � desenvolvedor para o ser humano. Estou na expectativa de recome�ar logo as consultas presenciais, para retomar o tratamento.”

Gleice Ferreira, de 47 anos, bacharela em direito, explica que a filosofia nas salas de aula na faculdade lhe trouxe vis�o e compreens�o maior em v�rios sentidos e a fez perceber que nas sess�es de filosofia cl�nica encontraria a ajuda necess�ria para as quest�es que enfrentava.

“Ela me trouxe uma abordagem inteligente, l�gica e racional. Percebi que havia como me libertar de tantos conceitos e pr�-conceitos que fui internalizando ao longo da minha exist�ncia e que me trouxeram muita dor. Enfrentava situa��es dif�ceis nos relacionamentos conjugal, familiar, social e comigo mesma. Havia iniciado sess�es com psic�logo, em outros momentos, mas n�o consegui dar sequ�ncia.”
 
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )
 

A filosofia cl�nica me trouxe uma abordagem inteligente, l�gica e racional. Percebi que havia como me libertar de tantos conceitos e pr�-conceitos que fui internalizando ao longo da minha exist�ncia e que me trouxeram dor

Gleice Ferreira, de 47 anos, bacharela em direito


 
Para Gleice, a filosofia cl�nica lhe proporcionou o encontro consigo mesma: “E desse encontro muito de valor percebi em mim, assim como tamb�m o que desejava e o que n�o desejava. Resgatei a confian�a e a seguran�a que precisava sentir comigo mesma e que estavam perdidos. Quando estamos bem agimos a nosso favor. Muito me foi acrescentado. Fiz por 12 a 18 meses, n�o me lembro exatamente, mas foram os melhores momentos da minha vida. Sou imensamente grata � filosofia cl�nica pela abordagem e o processo em cada sess�o. Ao final de cada uma me sentia inteira e segura desejando assim que viessem outras sess�es.”

J� Nara, que quer se identificar apenas assim, de 40 anos, administradora de empresa e servidora p�blica, conta que o que mais a impressionou na terapia em filosofia cl�nica foi a terapeuta ser amiga do partilhante (pessoa que busca a filosofia cl�nica).

“Em outras terapias que fiz, a profissional conhecia minha vida e nem me permitia conhecer a sua. A terapia em filosofia cl�nica me ajudou e continua ajudando a superar traumas, transtornos obsessivos compulsivos (TOC’s) e a transmutar experi�ncias na minha vida, no trabalho e na fam�lia. Continuo com as sess�es porque a minha evolu��o positiva � muito estimulada”.

Para quem ficou curioso, instigado a procurar esta terap�utica, a fil�sofa cl�nica Marta Batalini, professora universit�ria e reprogramadora neurodimensional, a define tomando emprestado as palavras de uma poeta: “Trago Cora Coralina, quando ela diz que o que vale na vida n�o � o ponto de partida e sim o caminho que fazemos”.






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