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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Procrastina��o: adiar ou n�o adiar? Eis a quest�o

Com o fim do ano e o balan�o do que cada um fez e produziu, o que ficou de lado vem � tona e costuma cobrar a fatura


26/12/2021 04:00 - atualizado 26/12/2021 10:13

Juliana Machado, redatora publicitária
A redatora publicit�ria Juliana Machado � procrastinadora assumida e n�o luta contra, aceita e vive bem resolvida (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS)
 Quem nunca procrastinou que atire a primeira pedra. Adiar algo, transferir para outro dia, prolongar uma situa��o, deixar para depois, adiar, postergar... Se reconheceu? Sim, em algum momento da vida cada um de n�s ir� agir assim. E est� tudo bem. O problema � quando tal atitude se torna comum, rotineira, frequente e impede o caminhar da vida, seu desenvolvimento, sua experi�ncia, ainda que com acertos e erros em cada tomada de decis�o e a��o. Com a proximidade do encerramento de mais um ano, certamente muitos v�o se lembrar do que n�o fez ao longo de 2021, do que protelou e, como diz a express�o popular, “empurrou com a barriga”.
 
Ainda que desde a hora que se levanta cada um tome decis�es a todo instante, para muitos � um sofrimento agir diante de quest�es importantes, o que os levam a procrastinar mesmo sabendo que deixar para depois tornar� sua vida mais complicada. Os porqu�s s�o muitos, as causas individuais e h� quem precise de ajuda profissional, terap�utica para conseguir dar o primeiro passo. Medo, inseguran�a, subservi�ncia, falta de coragem, acomoda��o... Mas tamb�m h� quem veja a procrastina��o como uma caracter�stica, um tra�o de comportamento sem qualquer complica��o, negatividade ou algo que tem de ser mudado.
 
Juliana Machado, de 33 anos, redatora publicit�ria, � muito bem resolvida com sua procrastina��o. E deixa claro: “N�o luto contra”. Ela conta que sempre teve muitas coisas para fazer o tempo inteiro. Trabalha em dois lugares, com pais separados, duas ceias de Natal, dois anivers�rios para comemorar, morou seis anos em S�o Paulo, ent�o viveu a ponte-a�rea para BH (voltou agora), fora o fato de ser perfeccionista e sempre achar que nada est� perfeito, pronto, acabado. Para ter ideia de como �, seu TCC de p�s-gradua��o com prazo de seis meses para entregar foi feito um dia antes: “Na minha cabe�a, ele estava acontecendo, o argumento pronto, a ordem definida... Vou sentar para fazer quando n�o tiver mais recurso. Desafio o tempo e fa�o o melhor que posso. Se fizer antes, ficaria revisando e mudando a cada instante. Tem dado certo e vou continuar assim. Claro, h� risco, mas se der errado, encontro uma sa�da na hora”.
 
Por trabalhar com criatividade, Juliana acredita que tenha levado para a vida a maneira de lidar com o tempo. Procrastinadora assumida, ela avisa: “Depois de sempre ouvir das pessoas que sempre deixo tudo para a �ltima hora, de sofrer, levar a quest�o para a terapia, percebi que este jeito funciona para mim, � meu m�todo, meu processo. Desde que eu tenha seguran�a, trabalho com tempo reduzido, resolvo a vida em 24 horas, como Jack Bauer, e tenho recursos para fazer dar certo”.
 

Para mim, procrastinar n�o � um problema porque consigo me planejar desta forma, est� tudo certo. O problema � que as pessoas querem controlar as outras, acham que � um defeito, mas este inc�modo � mais sobre n�s que sobre os outros. Tenho uma l�gica. Se n�o � para amanh�, n�o � hoje que vou fazer

Juliana Machado, redatora publicit�ria

Exemplos n�o faltam sobre o procrastinar de Juliana. Vai receber amigos em casa, n�o prepara nada no dia anterior, mas horas antes, tem a seguran�a que seu quibe assado ficar� maravilhoso e todos aprovar�o, ficando pronto j� com as visitas em casa. Ela confessa que n�o consegue decidir viagem com anteced�ncia, fazer reservas... A quest�o para ela �: “E se no dia n�o puder ir, se estiver chovendo, se encontrar oferta mais barata... Ent�o, enquanto tiver tempo, vou poder mudar”. O caso mais recente envolve a compra de um vestido para um casamento, marcado para o s�bado, com viagem na sexta-feira e na quinta, ela ainda n�o tinha o traje da cerim�nia.

O CONTROLE DAS PESSOAS

 
Viver assim realmente funciona para Juliana, talvez por se somar a outras duas de suas caracter�sticas: ela � adepta das listas e tem controle da estimativa do tempo que vai gastar para cada atividade. Pode ser que o equil�brio esteja a�. Outra quest�o que a redatora enfatiza � que “se � meu processo, tenho de acalmar meu cora��o, porque reconhe�o ter de lidar com minha ansiedade e perfeccionismo, mas tamb�m comunicar �s pessoas como sou. Minha m�e e meu namorado, que � met�dico e mineiro cartesiano, ficam aflitos. Se vamos viajar e ainda n�o fiz a mala parece ser um problema. Na mudan�a de volta para BH, ele queria empacotar as coisas um m�s antes, n�o d� para mim. N�o ia ficar pegando roupa dentro de caixa. Conversamos para uma decis�o intermedi�ria, demos uma limpa no guarda-roupa, o que seria vendido e doado, e um dia antes fiz minha mala. Para mim, procrastinar n�o � um problema porque consigo me planejar desta forma, est� tudo certo. O problema � que as pessoas querem controlar as outras, acham que � um defeito, mas este inc�modo � mais sobre n�s que sobre os outros”.
 
Na carreira, com mais de 10 anos de mercado, Juliana destaca que “entendo que h� um rigor no trabalho, tenho bom senso para n�o atrapalhar o outro. J� passei por isso, mas da mesma forma que n�o gosto de ser pressionada, n�o gosto de atrapalhar o outro. Consigo calibrar. A procrastina��o � minha, uma quest�o individual e � preciso respeitar o tempo e as emo��es do outro. Sendo assim, tira o estigma de problema, que ali�s est� nas rela��es, de um n�o conseguir lidar com o outro. Eu, enquanto tiver tempo, posso mudar hoje. Tenho cora��o apaziguado, n�o resisto, que as pessoas n�o sofram e se lembrem que cada um � de um jeito”.


DEIXAR PARA AMANH� 

Moça sentada na cadeira com a cabeça sobre a mesa
(foto: niritaharoni62/Pixabay)


A palavra procrastinar � originada do latim ‘procrastinatus’. Pro quer dizer ‘� frente’ e crastinatus significa ‘de amanh�’. Ou seja, para muitos � mais “confort�vel” deixar para amanh�. E n�o � quest�o de apenas ser mais f�cil, muitos realmente n�o conseguem tomar uma atitude. Por isso, n�o � aceit�vel apontar essas pessoas como pregui�osas, fracas ou incapazes. H� quem lide muito bem, como a Juliana, como tamb�m quem seja acomodado por natureza e afete o entorno. Onde voc� se encaixa? O importante � que a procrastina��o n�o se torne um problema, um sofrimento, um empecilho para o impedir de desfrutar, agir, progredir, curtir, enfim, viver o h� por a�.

A psiquiatra Maria Francisca Mauro, associada da Associa��o Brasileira de Psiquiatria (ABP) e doutoranda em psiquiatria e sa�de mentalpelo PROPSAM/IPUB/UFRJ, enfatiza que adiar algo � adiar o problema. Quando ficamos com pend�ncia na vida que n�o cuidamos, podemos ir acumulando “pensamentos” ou mesmo sensa��es de “incapacidade”. Portanto, cria o preju�zo de estar em d�vida e aos que sofrem com esta press�o, v�o elevar o n�vel de preocupa��o ou mesmo de tens�o emocional. O que pode impactar para al�m da sa�de emocional, tamb�m a sa�de f�sica.

Para deixar de procrastinar, a psiquiatra recomenda alguns passos. “Primeiro, precisa-se avaliar se � um h�bito por alguma dificuldade emocional, pode se tratar por meio de uma psicoterapia. Ou se est� ocorrendo um adoecimento emocional, a� � indicado uma avalia��o do psiquiatra. Agir estabelecendo prioridades, certificando-se de se dedicar aos que assumiu, organizando seus hor�rios e n�o se propondo metas intang�veis ou que n�o sejam fact�veis. Para cada a��o se proponha in�cio, meio e fim. N�o existe um caminho comum a todos, pois somos �nicos. Portanto, pare e reflita se fez o poss�vel, se est� se dedicando, se o que est� querendo fazer � real e cuide sempre da sua vida. S�o medidas iniciais para identificar por onde est� adiando. Tamb�m, pode ser que voc� acha que quer uma coisa, mas no 'fundo' nem quer tanto e, por isto, a adia e n�o se compromete. Procrastine o Instagram, n�o sua vida real.”

Ahh, e depois da entrevista, Juliana mandou uma mensagem por WhastApp: “S� para saber que a miss�o-vestido deu certo. Em menos de tr�s horas atravessei a cidade e voltei, fui em cinco lojas, ainda parei pra tomar um a�a� e comer uma empadinha. Na terapia, falei da reportagem do jornal, e me dei conta de que se a procrastina��o paralisa algumas pessoas, no meu caso ela me transforma em uma m�quina de fazer coisa. Fa�o m�gica com o tempo e preciso confessar que acho essa adrenalina viciante. No fim das contas, somos todos ansiosos mesmo e cada um lida com suas piras no seu ritmo”. E o vestido ainda foi para a costureira fazer a bainha e ficar� pronto no tempo certo para ela curtir o cas�rio.




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