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Estado de Minas CI�NCIA

Qual o papel do c�rebro e do humor em nossa resposta imune

C�rebro � como diretor da orquestra do corpo, mas o que sabemos de sua intera��o com o sistema imunol�gico? Veja o que dizem quatro especialistas


07/02/2022 12:42 - atualizado 11/02/2022 09:07


Cérebro
(foto: Getty Images)

"Passei os �ltimos 30 anos me preocupando sobre como o c�rebro interage com o sistema imunol�gico e como o sistema imunol�gico interage com o c�rebro", diz Daniel Anthony, professor de neuropatologia experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, � BBC Mundo.

Jonathan Kipnis, professor de patologia e imunologia da Universidade de Washington em St. Louis, Estados Unidos, teve a mesma preocupa��o.

"Minha obsess�o � entender como o c�rebro e o sistema imunol�gico se comunicam na sa�de e na doen�a."

No Oriente M�dio, Asya Rolls, pesquisadora e professora do Technion-Israel Institute of Technology, tamb�m busca respostas h� algum tempo.

"Intuitivamente estamos cientes de que o c�rebro afeta a imunidade", diz o site do laborat�rio que ele lidera.

-Leia: O surpreendente lado positivo do mau humor

E � isso, diz ele � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC), "em geral,%u202Fsup�e-se que o c�rebro est� envolvido em tudo%u202Fo que acontece no corpo porque � o regulador central de todas as rea��es".

Mas a verdade � que, segundo Kipnis, "s� agora estamos aprendendo como os dois sistemas interagem".

"� muito emocionante, mas%u202Fainda estamos no come�o", diz.

Cristina Koppel, neurologista do Kings College Hospital e professora do Imperial College London, na Inglaterra, acredita que "da mesma forma que estamos come�ando a entender as redes sociais e que o mundo est� muito mais conectado, a mesma coisa acontece com a complexidade de uma rede de mensagens que o c�rebro e o sistema imunol�gico transmitem um ao outro".

Com a ajuda desses especialistas, exploramos o que se sabe sobre o papel do c�rebro na resposta imune.

O comportamento

"No mundo cl�nico, no hospital, vemos muitos pacientes com problemas neuroimunol�gicos", disse Koppel � BBC Mundo.

"E, na academia, sabemos que ambos os sistemas se comunicam - os mesmos transmissores podem falar com c�lulas imunes e c�lulas neuronais, mas ainda temos muito a descobrir."

Anthony concorda que a rela��o entre o c�rebro e o sistema imunol�gico � de m�o dupla.

Se pegarmos gripe ou covid-19, muitos de n�s v�o se sentir mal e mudar os comportamentos, que s�o descritos em pesquisas como "estereotipados".

"Voc� interrompe seu sono e em seguida passa a n�o querer ver as pessoas ou socializar. Assim, come�a a exibir toda uma s�rie de comportamentos que s�o muito caracter�sticos de algo chamado 'comportamento de doen�a'."

"Voc� se torna aned�nico, ou seja, deixa de fazer as coisas que gosta, as atividades hedonistas, como beber, comer doce, se divertir."

Do ponto de vista evolutivo, explica o especialista, isso traz dois benef�cios:

"Talvez ajude voc� a se recuperar da infec��o. Mas, al�m disso, tamb�m%u202Fenvia um sinal para as pessoas ao seu redor%u202F."

E isso � algo que voc� v� entre os animais, nos mam�feros em particular: quando estamos doentes, o c�rebro altera nosso comportamento e come�amos a priorizar o que fazemos.

"Quando voc� est� resfriado, n�o come�a a resolver problemas matem�ticos complexos porque est� cansado", diz Kipnis.

"Um animal se retira porque n�o quer infectar o rebanho, voc� tamb�m se afasta, n�o quer infectar a Terra".

O estresse

Hans Selye foi o m�dico e fisiologista austro-h�ngaro que cunhou o termo estresse na d�cada de 1940.


Labirinto no cérebro
"Se estou estressado, ocorrem mudan�as nos neurotransmissores do c�rebro" (foto: Getty Images)

Ele mostrou que o estresse social e ambiental, al�m da infec��o, tamb�m altera nossos comportamentos e afeta a maneira como o sistema imunol�gico funciona.

"� uma resposta c�clica na qual, se estou estressado, ocorrem mudan�as nos neurotransmissores do c�rebro, o que pode levar a um aumento do fluxo de informa��es para fora do c�rebro e alterar a maneira como o sistema imunol�gico funciona", indica Anthony.

No Reino Unido, a cidade de Salisbury foi palco de uma s�rie de experimentos no final dos anos 1980 e in�cio dos anos 1990. L�, um grupo de volunt�rios saud�veis %u200B%u200Bfoi infectado com v�rus do resfriado, com o objetivo de estudar a rapidez com que desenvolveram a doen�a e buscar tratamentos eficazes.

Os participantes receberam um question�rio e uma das perguntas era: "Voc� est� muito ou pouco estressado?"

Ao analisar as respostas e a taxa de infec��o, os pesquisadores conclu�ram que as pessoas que sofreram muito estresse%u202Ftinham%u202F20%%u202Fmais chances%u202Fde%u202Fpegar um resfriado.

"Fundamentalmente, o que estamos dizendo � que o n�vel de estresse, neste caso social e ambiental, altera a maneira como seu sistema imunol�gico se comporta e o torna mais suscet�vel a esses resfriados".

O elemento hormonal

Estudos semelhantes foram realizados ao longo dos anos e acredita-se que � a ativa��o do eixo hipot�lamo-hip�fise-adrena (HHA) que faz com que o sistema imunol�gico seja alterado pelo estresse.

Esse eixo cobre uma �rea do c�rebro, o hipot�lamo, e ativa parte do sistema neuroend�crino.

"� um processo de v�rias etapas: o c�rebro envia sinais para as gl�ndulas supra-renais, que produzem cortisol, e mais cortisol pode afetar a fun��o das c�lulas imunol�gicas".


Glândulas supra-renais
"O c�rebro envia sinais para as gl�ndulas supra-renais, que produzem cortisol, e mais cortisol pode afetar a fun��o das c�lulas imunol�gicas" (foto: Getty Images)

"Essa � uma maneira pela qual o c�rebro, por meio de horm�nios, pode afetar o comportamento das c�lulas imunol�gicas:%u202Fn�veis muito altos de cortisol suprimem o sistema imunol�gico".

"Al�m disso, os neur�nios que liberam neurotransmissores localmente no ba�o e na medula �ssea podem alterar a maneira como as c�lulas imunol�gicas se comportam".

Qualquer incompatibilidade entre o sistema nervoso simp�tico (um dos ramos do sistema nervoso aut�nomo) e o eixo HPA pode levar esses sistemas �s vezes a "trabalhar um contra o outro e torn�-lo mais suscet�vel a infec��es".

Uma das explica��es para o estresse cr�nico ser ruim � porque ele faz com que seu sistema nervoso simp�tico n�o funcione corretamente, e entre "mais ativa��o" do eixo HPA, mais cortisol, o que o torna vulner�vel � infec��o.

A hip�tese da mem�ria

"Acho que, no corpo, o c�rebro tem controle sobre o sistema imunol�gico", diz Kipnis, embora insista que eles est�o apenas no come�o da compreens�o de como as duas partes interagem.

"Quando lidamos com um v�rus ou uma infec��o, o c�rebro lembra como reagimos no passado. Por exemplo, ele diz ao sistema imunol�gico: j� lidamos com isso antes e � isso que devemos fazer?".

"Esta � a pergunta de US$ 100 milh�es", responde com um sorriso. "N�o tenho uma resposta categ�rica para isso. Mas acho que o c�rebro precisa se lembrar."

Ambos os sistemas trabalham com mem�rias: o c�rebro nos ajuda a relembrar o passado e o sistema imunol�gico tamb�m se lembra, � sua maneira. Um exemplo disso s�o as imuniza��es.

"A vacina basicamente constr�i uma mem�ria imunol�gica artificial. Voc� diz ao sistema imunol�gico: se voc� vir esse pat�geno, fa�a esse monte de anticorpos para poder neutraliz�-lo." Assim, quando o sistema imunol�gico � exposto a esse pat�geno pela segunda vez, ele reage.

Mas como � que o sistema imunol�gico de repente se torna t�o eficiente e responde t�o rapidamente?

"O que propomos � que talvez alguma mem�ria imunol�gica tamb�m esteja sendo gravada%u202Fem algum lugar do c�rebro."

"E, quando o pat�geno invade o corpo, o c�rebro sabe porque � informado porque h� uma quebra de barreiras atrav�s de nossa pele, nariz ou outra via de entrada que o pat�geno toma, e ativa esse sistema imunol�gico espec�fico".

No entanto, ele enfatiza: %u202Fisso � apenas uma hip�tese%u202F.%u202F"Acho que ningu�m provou isso."


Neurônios
"Os neur�nios que liberam neurotransmissores localmente no ba�o e na medula �ssea podem alterar a maneira como as c�lulas imunol�gicas se comportam" (foto: Getty Images)

O que essa ideia levanta � que, se o c�rebro controla o sistema imunol�gico, "provavelmente algumas das mem�rias imunol�gicas est�o sendo registradas no c�rebro".

"Seremos capazes de encontrar aquela parte do c�rebro que lembra as respostas imunes? N�o sei, espero que sim, mas n�o tenho tanta certeza."

A dificuldade em chegar � conclus�es

� dif�cil determinar isso, ,em grande parte, porque o c�rebro � um �rg�o extremamente complexo.

Por exemplo, sabemos exatamente qual �rea do c�rebro evoca mem�rias de inf�ncia?

"N�o", responde Kipnis.%u202F"Em algum momento pensamos que era uma regi�o do c�rebro, mas agora sabemos que � uma cole��o deles e que cobre muitas regi�es."

As mem�rias da inf�ncia podem ser recuperadas por n�s mesmos.%u202F"Mas a mem�ria do v�rus provavelmente n�o �", embora possamos lembrar como nos sentimos quando fomos infectados.

Os neur�nios podem "falar e entender a linguagem%u202F" das c�lulas imunes e vice-versa, porque "os dois sistemas provavelmente se comunicam muito mais do que pensamos".

No entanto, h� quest�es fundamentais, segundo o especialista: existe um tipo de controle mais consciente?%u202FPosso recuperar uma mem�ria dessa gripe e, portanto, quando adoecer novamente, evocar minha mem�ria imunol�gica (no c�rebro) da gripe e ajudar meu sistema imunol�gico a combater melhor a infec��o?

Ser� que ele tem uma mem�ria de respostas imunes em algum lugar do c�rebro e elas s�o desencadeadas por uma reinfec��o?

"Eu acho que � prov�vel, mas ningu�m definitivamente mostrou isso ainda."

Existem v�rios grupos de pesquisa, al�m do que ele dirige, que est�o trabalhando nessa �rea, um deles em Israel.

Experimentos com roedores

A neurocientista Asya Rolls busca entender como os processos mentais podem afetar as respostas imunol�gicas.

O laborat�rio que ela lidera aponta que, embora tenha sido alcan�ada uma compreens�o significativa dos efeitos do estresse na imunidade, "nossa compreens�o das redes neurais espec�ficas que regulam o sistema imunol�gico e a maneira como essa atividade � transmitida a ele � limitada" .

Com sua equipe, ela realizou v�rios experimentos com camundongos.

Em um deles, a equipe notou que se ativassem diretamente a �rea do c�rebro que est� envolvida nas expectativas positivas, no sistema de recompensa do c�rebro, havia uma estimula��o do sistema imunol�gico, o que tornava as c�lulas imunes mais eficientes e poderoso para matar bact�rias.

"A mem�ria imunol�gica em termos de anticorpos e a rea��o imunol�gica que eles geraram foi quase quatro vezes mais forte", diz ele.

"Tamb�m vimos - em outro estudo com camundongos - que apenas%u202Fativando a �rea do sistema de recompensa do c�rebro, o tamanho de um tumor era reduzido em 40%".

"O que estamos vendo � que o c�rebro parece estar ainda mais envolvido na forma��o de algum tipo de mem�ria imunol�gica de rea��es imunol�gicas anteriores".

Vest�gios na mem�ria


Médica diante de imagens do cérebro
"Quando estou feliz, meu sistema imunol�gico fica mais forte? Talvez sim, talvez n�o, n�o sabemos, n�o h� mecanismo que explique isso" (foto: Getty Images)

Al�m da mem�ria imunol�gica cl�ssica, que � armazenada pelo pr�prio sistema imunol�gico, Rolls tamb�m acredita que outra poderia existir.

"O que observamos (em um experimento com camundongos) � que pode haver uma forma diferente e adicional de mem�ria, que � codificada pelos neur�nios".

Segundo ela, n�o seria%u202Fum tipo de mem�ria cognitivamente acess�vel, da qual conseguir�amos nos lembrar, mas poderia haver "um tra�o nos neur�nios que representa a condi��o inflamat�ria" que ocorreu quando contra�mos uma infec��o.

"Conseguimos testar esse tra�o de mem�ria em um estudo com camundongos, mas tamb�m h� evid�ncias em humanos", diz a pesquisadora, citando um famoso experimento em que indiv�duos al�rgicos ao p�len foram expostos a uma flor, sem saber que era artificial, e desenvolveram uma rea��o al�rgica.

"Ent�o existe algum tipo de mem�ria, alguma representa��o que conecta a flor com a alergia, e isso � algo que tem que acontecer no c�rebro", diz.

Rolls tamb�m est� intrigado com o efeito placebo, "um fen�meno psicol�gico muito complexo".

Apesar do entusiasmo com que fala sobre seus estudos, a cientista alerta que%u202Fdevemos ter muito cuidado%u202Fem "nossa interpreta��o do que vemos em camundongos" em rela��o �s pessoas.

"Esses estudos podem sugerir o potencial do sistema, mas ainda temos%u202Fum longo caminho a percorrer%u202Fat� que possam se tornar alternativas de tratamento em humanos. Estamos trabalhando nisso".

E o humor?


Homem preocupado
Existe um campo de pesquisa chamado psiconeuroimunologia que estuda a intera��o entre os processos psicol�gicos e os sistemas nervoso e imunol�gico (foto: Getty Images)

Dizem que quando nos sentimos tristes, deprimidos ou de mau humor � mais f�cil pegar um resfriado. Poder�amos dizer que o c�rebro est� desempenhando um papel nessa circunst�ncia?

"Sim. Quando experimentamos um estado emocional espec�fico, por exemplo, quando n�o dormimos bem - que � um estado cerebral - � claro que voc� � mais suscet�vel a pat�genos e a raz�o � porque seu sistema imunol�gico saud�vel precisa de seu c�rebro", explica Kipnis.

"Os imunologistas cl�ssicos provavelmente n�o estar�o muito abertos a essa ideia de que o estado mental afeta o sistema imunol�gico, mas h� algumas evid�ncias".

De fato, existe um campo de pesquisa chamado psiconeuroimunologia que estuda a intera��o entre os processos psicol�gicos e os sistemas nervoso e imunol�gico.

Mas, embora existam algumas evid�ncias, os cientistas est�o tentando ir al�m de simplesmente reconhecer que o fen�meno existe.

"Quando voc� diz que ficar triste enfraquece seu sistema imunol�gico,%u202Feu gostaria de ver um mecanismo: o que � produzido no c�rebro, qual mol�cula � liberada e como isso afeta o sistema imunol�gico para torn�-lo menos funcional?"

No caso de estresse intenso, o mecanismo foi estudado.

"O estresse social aumenta a chance de desenvolver depress�o e, nesse contexto, o humor deprimido � um problema porque est� associado ao%u202Faumento do cortisol, que, por sua vez, est� ligado � depress�o", diz Anthony.

No entanto, adverte que dizer que "controlando a felicidade pessoal se pode controlar o sistema imunol�gico" contra infec��es e doen�as, � um circuito muito dif�cil de comprovar cientificamente.

Mais estudos s�o necess�rios para chegar a essa conclus�o.

"Quando estou feliz, meu sistema imunol�gico fica mais forte? Talvez sim, talvez n�o, n�o sabemos, n�o h� mecanismo que explique isso", diz Kipnis.

Por isso, especialistas como Koppel alertam que esse tipo de informa��o deve ser criteriosa.

"%u202FO perigo � sugerir que voc� pode modular seu sistema imunol�gico. Por que voc� est� triste? Por que est� deprimido? Voc� pode entrar em um ciclo vicioso e criar mais ansiedade e isso n�o ajuda, especialmente se estiver doente."

E insiste: "Ainda h� muito o que entender sobre as conex�es entre o c�rebro e o sistema imunol�gico".

Se algo o preocupa com sua sa�de e seu estado de esp�rito, procure a orienta��o de um m�dico ou outro profissional de sa�de.

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