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Estado de Minas DISFUN��O

Impot�ncia sexual feminina: como identificar e quais s�o os tratamentos?

Quatro em cada 10 mulheres adultas s�o impactadas por falta ou dificuldades com desejo, orgasmo ou dor sexual - de forma espor�dica ou permanente


17/03/2022 22:22 - atualizado 18/03/2022 12:37


Mulher deitada na cama pensativa
Estimativa � de que quatro em cada 10 mulheres sejam impactadas pela falta ou dificuldades com desejo, orgasmo ou dor sexual %u2014 de forma espor�dica ou permanente (foto: Getty Images)

Identificar e compreender a disfun��o sexual feminina (conhecida popularmente como impot�ncia) pode parecer simples � primeira vista.

Afinal, talvez bastasse a mulher se perguntar, por exemplo, se est� satisfeita com a quantidade de vezes que deseja ou sente prazer ou dor no ato sexual consigo mesma ou acompanhada.

Mas tudo fica complicado se a resposta � n�o, e ela se pergunta: por que n�o?

Quatro em cada 10 mulheres adultas s�o impactadas por falta ou dificuldades com desejo, orgasmo ou dor sexual de forma espor�dica ou permanente, aponta uma estimativa comum entre especialistas.

Mas muitas delas nem sabem que t�m essa condi��o, ou quais s�o as causas e os poss�veis tratamentos.

E nem que h� um emaranhado de �reas envolvidas com a fun��o e a disfun��o sexual feminina, como ginecologia, psiquiatria, sexologia, psicologia, filosofia, sociologia, fisioterapia, educa��o sexual, cultura e antropologia.

Quando um ou mais fatores ligados a essas �reas afetam a resposta sexual, esse processo pode desencadear a disfun��o.

H� dois mecanismos fundamentais por tr�s da fun��o sexual.

"O aspecto da procria��o e o aspecto prazeroso, que s�o interligados", resumiu � BBC News Brasil a ginecologista L�cia Alves Lara, presidente da Comiss�o Nacional Especializada em Sexologia da Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo).

E ao longo da hist�ria, muitos pesquisadores tentaram entender e explicar como o aspecto prazeroso da fun��o se traduz em resposta sexual no corpo feminino.

Entre os nomes que se destacam est�o o do ginecologista William Master e da psic�loga Virginia Johnson, que investigaram nos anos 1960 as respostas fisiol�gicas e anat�micas da sexualidade feminina e masculina e depois pensaram em tratamentos psicoterap�uticos para disfun��es sexuais.

Anos depois, a pesquisadora Helen Singer Kaplan acrescentou � formula��o de Masters e Johnson a import�ncia do desejo na resposta sexual, algo quase desconsiderado at� ent�o.

Mas foi somente em 2001 que um novo desenho de resposta sexual, mais especificamente do feminino, foi criado pela psiquiatra canadense Rosemary Basson. Agora havia tamb�m a fase da intimidade.

Ou seja, se antes ele tinha come�o, meio e fim, como a resposta sexual masculina, no modelo de Basson passa a ser circular, no qual "a mulher mesmo sem ter desejo sexual, na presen�a de intimidade com a parceria dela, ao receber est�mulo er�tico, ela come�a a se excitar, a ter desejo, e pode ent�o entrar no compartilhamento sexual de rela��o sexual com a sua parceria, chegar a sentir uma excita��o m�xima, podendo ou n�o ter orgasmo", explica Lara, da Febrasgo. N�o se trata, portanto, apenas de est�mulo visual ou sexual.

O ciclo de resposta sexual feminino envolve, segundo o consenso cient�fico atual, intimidade emocional, neutralidade sexual, excita��o sexual, desejo sexual espont�neo, desejo responsivo e excita��o sexual e satisfa��o emocional e f�sica.

Tudo isso ligado h� basicamente tr�s fases, que podem acontecer ao mesmo tempo: desejo, excita��o e orgasmo.

E a disfun��o, onde surge nesses ciclos e fases? N�o h� exatamente uma r�gua universal para medir o qu�, quando e o quanto algo n�o est� bem.

Ent�o, esta condi��o come�a a ser identificada pela pr�pria mulher quando alguma altera��o se torna sofrimento ou dificuldade.

Em geral, 52% das queixas sexuais das pacientes est�o ligadas a fatores de origem ps�quica e 48%, de ordem biol�gica, explica Lara.

Como identificar a disfun��o sexual feminina?

O baixo desejo sexual costuma ser a disfun��o sexual feminina mais prevalente. E pode parecer f�cil saber que algo na vida sexual est� "errado", mas nem tanto quando se busca entender o que est� "errado" e por qu�?

Tempo, frequ�ncia e n�vel de sofrimento ou de dificuldade tamb�m s�o importantes sinais no diagn�stico da disfun��o sexual feminina. H� quanto tempo e com que frequ�ncia isso tudo ocorre? Vale lembrar que cada mulher identifica seus pr�prios sinais, e algo que leva ao sofrimento de uma n�o necessariamente levar� ao de todas.

Alguns tratamentos podem at� lidar com sintomas, mas o central nessas abordagens � identificar as causas e da� sim definir como a disfun��o ser� tratada, num processo que envolve diversos profissionais, como m�dicos, psic�logos e fisioterapeutas.


Sinal de interrogação na área genital feminina
Especialista afirma que, em geral, 52% das queixas sexuais das pacientes est�o ligadas a fatores de origem ps�quica (foto: Getty Images)

Segundo especialistas, a disfun��o sexual feminina � qualquer reclama��o ou problema sexual geralmente decorrente do dist�rbio de:

  1. desejo (transtorno do desejo sexual hipoativo)
  2. excita��o (disfun��o da excita��o sexual feminina)
  3. orgasmo (disfun��o do orgasmo feminino)
  4. dor (disfun��o da dor genito-p�lvica-feminina)

1.Transtorno do desejo sexual hipoativo

Ter desejo sexual � sentir vontade de fazer sexo, mas quando este est� relacionado ao bem-estar f�sico e mental dessa mulher. H� dois tipos de desejo: o espont�neo e responsivo.

O primeiro costuma ser aquele que pode ser sentido com um est�mulo visual, s� de olhar para algu�m, por exemplo. O desejo responsivo parte de um est�mulo que pode ser algo como um contato f�sico ou uma conversa, levando a mulher da fase de neutralidade sexual para o resgate do desejo responsivo, ficando assim excitada.

Especialistas consideram disfun��o de desejo quando a mulher perde parcial ou totalmente o desejo responsivo, e n�o o espont�neo. Isso pode ser constante ou ocasional. Em geral, para se chegar a um diagn�stico de transtorno de desejo sexual hipoativo, � importante que a mulher perceba uma redu��o do desejo sexual por mais de seis meses e que ela considere isso um sofrimento (caso contr�rio, n�o "configura" um transtorno).

N�o h� um tratamento espec�fico ou �nico para tratar essa condi��o porque ele depende das causas, como efeito adverso de medicamentos, problemas de sa�de mental e hipotireoidismo. Essas raz�es podem variar de uma mulher para outra, e por isso a abordagem dos profissionais de sa�de depender� da avalia��o de cada paciente.

H� hoje dois medicamentos que podem ser usados para o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo em mulheres antes da menopausa e em situa��es bem espec�ficas, com a��o de horm�nios ou neuromoduladores e neurotransmissores. Apenas um deles, a Flibanserina, � aprovado para comercializa��o no Brasil pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).

Este atua nos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina em busca de equil�brio que leva � uma melhora da libido. Ele foi pensado inicialmente como um antidepressivo, n�o pode ser usado por gr�vidas ou lactantes e pode causar efeitos adversos como n�usea, sonol�ncia, tontura e sensa��o de desmaio.


Casal conversando na cama
Um fator importante ligado �s causas da disfun��o sexual feminina � o relacionamento em que a paciente est� (foto: Getty Images)

O uso de medicamentos para esse tipo de transtorno costuma ser prescrito para mulheres que n�o sofrem de nenhuma doen�a (que possa ou n�o afetar a libido), e que tenham um bom relacionamento com sua parceria. Al�m disso, por causa da complexidade desse transtorno, a exemplo das causas psicol�gicas, um tratamento farmacol�gico nem sempre ser� prescrito de forma isolada.

2. Disfun��o da excita��o sexual feminina

A excita��o sexual � a sensa��o de prazer sexual, sentida principalmente na vulva ou vagina. Quando isso ocorre, h� um aumento do fluxo de sangue na regi�o da genit�lia, que "incha" e lubrifica a vagina.

No caso de uma disfun��o da excita��o sexual, a mulher encontra dificuldade em ficar lubrificada e sexualmente excitada. Ela pode tamb�m sentir pouca ou nenhuma sensa��o de desejo, ainda que haja estimula��o er�tica.

Entre as poss�veis causas est� a sexualidade da pr�pria mulher, influenciada por quest�es sociais, religiosas, educacionais e psicol�gicas (como traumas ou abusos e outras formas de viol�ncia).

3. Disfun��o do orgasmo feminino

O orgasmo costuma levar a diversas contra��es no �rg�o sexual feminino, repleto de termina��es nervosas — o clit�ris tem mais de 8 mil termina��es nervosas, o dobro que o �rg�o sexual masculino, por exemplo. A chamada anorgasmia � a dificuldade ou incapacidade de se chegar ao orgasmo mesmo com est�mulo sexual.

Nesse caso, o profissional de sa�de investigar� em primeiro lugar o que pode ter causado essa anorgasmia. Algo bastante comum � que a mulher pode nunca ter tido ou aprendido a ter um orgasmo em sua vida.


Casal na cama
A anorgasmia � caracterizada pela dificuldade ou incapacidade de se chegar ao orgasmo mesmo com est�mulo sexual (foto: Getty Images)

"Quando a gente pensa nas causas das disfun��es sexuais femininas, a gente precisa pensar que a ci�ncia ainda n�o chegou a uma �nica etiologia, a um �nico motivo", disse em entrevista � BBC News Brasil a psic�loga e especialista em Sexualidade Humana pela FMUSP, Fernanda Bonato.

Ela explica que h� muito equ�voco e desinforma��o em torno do tema "educa��o em sexualidade" ou "educa��o sexual", que n�o � ensinar nas escolas a fazer sexo. Isso se assemelha � transmiss�o cultural de informa��es que associam o sexo a quest�es imorais ou ilegais, o que contribui para ampliar o desconhecimento generalizado sobre o pr�prio corpo e o prazer.

"Ent�o, muitas mulheres n�o t�m, seja em ambiente escolar, familiar ou entre amigos, processos de educa��o em sexualidade sadios. A gente observa um silenciamento da sexualidade. E muitas vezes a mulher acaba aprendendo sobre sexualidade, mas sobre o n�o, sobre o interdito, como 'n�o transe antes do casamento', 'n�o engravide', 'n�o transe com qualquer um'. Mas da� ela n�o sabe o que fazer diante de uma viv�ncia da sexualidade positiva e sadia", afirma Bonato.

Esse desconhecimento do pr�prio corpo pode levar, segundo a especialista, muitas mulheres n�o a saberem como e onde ter prazer e tamb�m a enfrentarem disfun��o sexual.

4. Disfun��o da dor genito-p�lvica-feminina

Esta acontece principalmente quando a mulher sente dor durante a rela��o sexual com penetra��o, podendo variar de incapacidade de experimentar facilmente a penetra��o ou incapacidade total para experimentar penetra��o vaginal.

H� tr�s categorias principais dessa disfun��o: dispareunia, vaginismo e vulvod�nia.

A dispareunia � a dor genital sentida durante a rela��o sexual, que pode ser superficial ou profunda, sendo a superficial sentida geralmente ao iniciar ou durante a penetra��o vaginal, com a movimenta��o do p�nis. Dentre as poss�veis causas est�o as infec��es, hipoestrogenismo, infec��o urin�ria e lubrifica��o vaginal inadequada. No caso da dispareunia profunda, � quando a penetra��o toca o colo do �tero.

O vaginismo inclui espasmos musculares e contra��es involunt�rias, os quais podem impedir a rela��o sexual e capacidade de obter prazer, pois causam desconforto e dor, mas tamb�m podem dificultar o uso de absorventes internos e exames ginecol�gicos. As causas podem ser f�sicas ou psicol�gicas, e se manifestar ap�s abusos ou traumas sexuais, epis�dios de candid�ase, parto, entre outros motivos. Numa consulta, um ginecologista poder� fazer o exame p�lvico e encaminhamentos a um fisioterapeuta podem ser feitos, para tratamentos que podem usar gel, horm�nios e at� botox nos m�sculos.

A vulvod�nia, por fim, � a dor ou desconforto cr�nico na regi�o da abertura da vagina, a qual dura pelo menos 3 meses. Esta n�o � causada por infec��o ou alguma condi��o na pele daquela regi�o. Alguns pesquisadores acreditam que dentre as causas est�o as rea��es nervosas e at� doen�as autoimunes. � uma condi��o que ainda � estudada e pouco compreendida, e por isso suas defini��es podem variar.

H� diversos tratamentos poss�veis para as disfun��es de dor, inclusive n�o farmacol�gicos, como massagem perineal, libera��o miofascial, treinamento muscular, biofeedback, dilatadores vaginais, eletroestimula��o e radiofrequ�ncia. Mas cada um deles s� deve ser indicado ou adotado por profissionais de sa�de capacitados.

Sarah Mendon�a, fisioterapeuta e professora da UniFBV e da Uninassau Olinda, explicou � BBC News Brasil essas t�cnicas que podem reverter ou reduzir as disfun��es sexuais da mulher. Segundo ela, � fundamental que a paciente tenha seu assoalho p�lvico avaliado por um profissional de sa�de especializado e que se compreenda qual � a percep��o dessa mulher em rela��o aos seus m�sculos, se ela tem consci�ncia perineal, se compreende os comandos de contrair e relaxar, por exemplo.


Silhueta de mulher com a mão na cabeça preocupada
Muitas mulheres sentem dor durante a rela��o sexual com penetra��o (foto: Getty Images)

Os m�sculos do assoalho p�lvico t�m fun��es importantes na resposta sexual feminina. Trein�-los � deix�-los mais fortes, explica Mendon�a, e essa alternativa costuma ser de custo e complexidade baixos e efic�cia elevada. "A massagem perineal [regi�o entre o �nus e a vagina] � uma t�cnica que, quando associada a outras, promove �tima resposta quando a redu��o dos transtornos dolorosos."

O biofeedback perineal, por outro lado, � como uma reeduca��o muscular. O objetivo desse tratamento � obter controle volunt�rio dos m�sculos do assoalho p�lvico, al�m de percep��o corporal e perineal. Mendon�a explica que "� inserido na cavidade vaginal uma sonda pr�pria do equipamento e � solicitado � mulher que contraia os m�sculos do assoalho p�lvico e acompanhe a resposta do que se pede no visor do aparelho ou tela do computador acoplado."

Para a mulher que deseja conhecer mais o seu pr�prio corpo, ganhar consci�ncia corporal e perineal, a especialista recomenda o feedback visual, "que � muito simples, � observar a pr�pria vulva usando um espelho enquanto contrai e relaxa a musculatura".

As poss�veis causas da disfun��o sexual feminina

O profissional de sa�de que cuida da fun��o sexual humana � o sexologista, com �rea de atua��o em sexologia na ginecologia ou na psiquiatria.

Para fazer os diagn�sticos, esses especialistas avaliam a sa�de e hist�rico da paciente durante a consulta, e podem realizar ou requisitar exames ou encaminhar o caso para outros especialistas.

Durante a consulta ginecol�gica pode ser avaliada tamb�m a possibilidade de outras doen�as ginecol�gicas, infec��es, corrimentos de repeti��o, endometriose (inflama��o do tecido que reveste o �tero), ader�ncias p�lvicas (que podem unir tecidos diferentes), doen�as no colo do �tero, fissuras e feridas, por exemplo.

Como citado no texto, uma das principais causas de disfun��o sexual feminina � o uso de medicamentos (como anticoncepcionais, antidepressivos, antipsic�ticos e rem�dios para tratamento de tireoide ou para emagrecimento). "Os medicamentos mais relacionados com desejo sexual hipoativo e anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de orgasmo), disfun��o da excita��o, s�o os psicoativos, entre eles os inibidores seletivos da recapta��o de serotonina (ISRSs), bastante utilizados na popula��o em geral. Eles interferem muito na fun��o sexual e podem reduzir o desejo sexual com muita frequ�ncia", explica Lara, da Febrasgo.

H� tamb�m o impacto de outras condi��es de sa�de, como depress�o, transtornos de ansiedade, hipertens�o arterial e diabetes.

"O diabetes pode interferir se estiver descontrolada, o aumento do triglicer�deos, aumento do colesterol, altera��es no colesterol tamb�m podem alterar a vasculariza��o da genital masculina e feminina. E ainda na percep��o da excita��o sexual, porque esse dano vascular pode ocorrer centralmente no sistema nervoso central tamb�m. As tireoidopatias (dist�rbios na tireoide) tamb�m podem interferir", afirma a ginecologista especializada em sexologia.

Outras possibilidades passam ainda por problemas psicol�gicos, quest�es financeiras, rela��es abusivas, desconhecimento do pr�prio corpo, hist�rico de abuso sexual, traumas, altera��es significativas nos horm�nios, gravidez, proximidade do climat�rio, uso de �lcool e outras drogas e fatores ambientais como repress�o familiar, social, cultural ou religiosa.

Quando a fil�sofa Simone de Beauvoir afirma em seu livro O Segundo Sexo (1949) que as mulheres n�o nascem, mas tornam-se mulheres, ela quer dizer, entre outras quest�es, que elas nascem em um mundo que j� formatou seu padr�o de comportamento, desejo, sexualidade e reprodu��o.

Quem elabora e estabelece o g�nero da mulher, portanto, � a civiliza��o, e ent�o ela vai se comportar como mulher, amar como mulher, desejar como mulher.

Ent�o, a sexualidade humana feminina, principalmente, n�o � s� f�sica, mas composta tamb�m de linguagem, ideias, experimenta��es e do conhecimento de si mesmo, do pr�prio corpo e das pr�prias fantasias.

Em meio a isso h� a redu��o tradicional do sexo � fun��o reprodutiva (e afastada do prazer) e, por extens�o, numa rela��o heterossexual com a imagem da mulher em torno das figuras da m�e e da esposa "normal" e submissa no contexto familiar, social e religioso.

As especialistas entrevistadas pela BBC News Brasil compartilham uma preocupa��o a respeito da ideia de "normalidade" acerca das mulheres, com demandas para explica��es ou estrat�gias �nicas, que hipoteticamente serviriam para todas as idades e nacionalidades, por exemplo.

Um sinal disso no Brasil � que o pa�s figura no topo global de procedimentos cir�rgicos de est�tica �ntima.

"N�o existe par�metro de normalidade para a apar�ncia das genit�lias. As vulvas t�m aspectos diversos e isso n�o deveria ser um fator de interfer�ncia na sa�de sexual", afirma a fisioterapeuta e professora Sarah Mendon�a.

Segundo ela, a Autoimagem Genital Negativa (AIGN) pode tamb�m ser uma causa de disfun��o sexual feminina.

"O mercado pornogr�fico contribuiu de sobremaneira para que a exig�ncia por genit�lias com uma apar�ncia espec�fica fosse a considerada ideal. Com base nisso, a ind�stria de produtos cosm�ticos, da est�tica e a sociedade como um todo induzem o pensamento de que para ser aceitas as mulheres precisam ter corpos (e genit�lias) 'perfeitos' e dispon�veis."

Mendon�a compara procedimentos est�ticos que modificam genit�lias saud�veis, como redu��o dos l�bios vaginais � semelhan�a do mercado pornogr�fico, a uma mutila��o genital em termos anat�micos.

Outro fator importante ligado �s causas da disfun��o sexual feminina � o relacionamento em que a paciente est�.

"A gente percebe em consult�rio que a mulher come�a, por exemplo, a ter uma queda do desejo porque o relacionamento n�o est� bom.(...) Muitas pessoas est�o em relacionamentos abusivos, violentos, e n�o conseguem se perceber desta forma. Elas n�o conseguem perceber a viol�ncia e agress�o inclusive por conta dessa estrutura machista e patriarcal que a gente vive e que muitas vezes naturaliza relacionamentos que n�o s�o mais funcionais", explica a psic�loga e sex�loga Fernanda Bonato.

Em alguns casos, especialistas podem realizar atendimentos para disfun��o sexual feminina e masculina com a participa��o do parceiro ou da parceira dos pacientes, pois isso ter� um efeito significativo caso as ra�zes da condi��o de sa�de estejam ligadas ao relacionamento.

Segundo Bonato, muitas pessoas n�o foram educadas para ter esse tipo de conversa com sua parceria. Ou mesmo com os profissionais de sa�de.

"Mais de 80% das mulheres gostariam que a ginecologista perguntasse a respeito da sua vida sexual", afirma Lara, da Febrasgo. Ela enfatiza qu�o importante � a mulher, durante uma consulta ginecol�gica, dividir sua sa�de sexual com esse profissional e pe�a ajuda para al�m de quest�es de reprodu��o, mesmo que ela sinta vergonha ou enfrente algum outro tipo de obst�culo.

"N�o estamos aqui apenas para reproduzir. Estamos aqui para sentir prazer. Ali�s, n�s vivemos muito mais o prazer sexual do que a nossa fun��o reprodutiva. Isso � de extrema import�ncia para todo ser humano. Isso � de extrema import�ncia para a autoestima das pessoas e para as rela��es interpessoais."

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