
Era um dia letivo normal, ap�s a volta presencial das aulas na Escola de Refer�ncia em Ensino M�dio Egeu Magalh�es, localizada no Bairro Tamarineira, Zona Norte de Recife, Pernambuco.
Por volta das 15h30, ap�s uma refei��o, 26 alunos come�aram a entrar em p�nico, apresentando sintomas de ansiedade. Um a um, foram deitando no ch�o das salas, suando muito e apresentando tremores. Alguns chegaram a desmaiar. Todos choravam e tinham dificuldade para respirar.
A situa��o saiu totalmente do controle. A dire��o da escola precisou acionar o Servi�o de Atendimento M�dico de Urg�ncia (Samu), que enviou ao local seis ambul�ncias, entre elas uma UTI, e duas motos para atendimento priorit�rio. A Prefeitura do Recife informou que foi necess�rio mobilizar 16 profissionais para dar conta de tantos atendimentos simult�neos.
Tamb�m � vis�vel que pessoas que tiveram dificuldades no distanciamento encontrem barreiras pra reverter situa��es advindas do isolamento. S�o comportamentos observados por setores de assist�ncia, em especial da sa�de mental.
Alguns acreditam que vamos ainda nos surpreender com estat�sticas mais severas que as dispon�veis sobre 2020 e 2021. � preciso esperar mais tempo de estudos para saber a evolu��o dessas consequ�ncias. Por outro lado, a capacidade humana de adapta��o � surpreendente, ap�s avan�os na imuniza��o, com volta gradual de atividades diante de n�meros relativamente mais baixos de casos.
Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) constatou que os �ndices de depress�o, ansiedade e estresse aumentaram durante a pandemia, assim como o n�mero de pessoas que relataram sintomas relacionados a essas patologias.
A Organiza��o Pan-Americana de Sa�de (OPAS) tamb�m fez alertas sobre o aumento nos fatores de riscos de suic�dios. Sem a possibilidade de mudar de ambiente para amenizar o estresse e, por vezes, at� mesmo de adaptar a rotina a algo que ofere�a satisfa��o real, as vulnerabilidades emocionais das pessoas aparecem. Os medos, as ang�stias e a raiva s�o comuns.
O n�mero de casais que oficializaram a separa��o em cart�rios bateu recorde em 2021. Levantamento do CNB (Col�gio Notarial do Brasil) mostra que foram registrados 77.112 div�rcios consensuais no ano passado. Os pedidos de div�rcio apresentaram em 2021 aumento de 266 casos em rela��o ao primeiro ano da crise sanit�ria, em 2020, que teve 76.846 dissolu��es matrimoniais formalizadas, o n�mero � o maior da s�rie hist�rica, desde 2007. H� dois anos, antes da pandemia, 75.033 casais oficializaram a separa��o.
Relat�rio parcial de um estudo realizado pela Fiocruz com mais de 800 profissionais de sa�de, revelam que 65% apresentaram sintomas de estresse, sendo 33,8% classificados extremamente severos, 61,6% de ansiedade, 61,5% depress�o.
Os dados sugerem que 1/3 de quem teve COVID-19 apresentou algum tipo de sequela, como transtorno neurol�gico ou mental. Com agravante para quem j� tinha alguma manifesta��o preexistente e interrompeu o tratamento, ou por medo de expor em ambientes p�blicos ou porque ficou o servi�o indispon�vel.
Os dados sugerem que 1/3 de quem teve COVID-19 apresentou algum tipo de sequela, como transtorno neurol�gico ou mental. Com agravante para quem j� tinha alguma manifesta��o preexistente e interrompeu o tratamento, ou por medo de expor em ambientes p�blicos ou porque ficou o servi�o indispon�vel.
ACIRRAMENTO
H� um conjunto de aspectos sociais decorrentes da pr�pria pandemia, mas tamb�m aspectos consequentes aos processos do seu enfrentamento. A partir da percep��o em consult�rio particular, a psiquiatra Ana Marta Lobosque, que atuou na rede p�blica de sa�de mental em Belo Horizonte por mais de 30 anos, adverte que sintomas atribu�dos � pandemia n�o podem ser generalizados.
Mas pode-se perceber o acirramento entre algumas pessoas, dos dois sexos, com mais frequ�ncia entre os homens, adolescentes e adultos jovens, que j� tinham dificuldade no �mbito do conv�vio social, nas amizades, namoros, escola. "S�o coisas j� dif�ceis para essa faixa, encarar os embara�os, as brincadeiras, as cr�ticas, que a conviv�ncia com as pessoas os coloca, principalmente com os pares da mesma idade."
Alguns desses perfis acabaram por cair "dentro do computador", capturados pela internet, jogos, redes de WhatsApp. Pessoas que n�o t�m amigos, ou se afastaram dos poucos que tinham. Totalmente embalados numa sociabilidade pela rede social.
"Que � uma forma de sociabilidade, mas me parece insuficiente para vida que tem que ser vivida, para os desafios a serem enfrentados, pelo fato de que esses jovens t�m ainda que estudar, encontrar uma forma de ganhar a vida, de sustento."
"Que � uma forma de sociabilidade, mas me parece insuficiente para vida que tem que ser vivida, para os desafios a serem enfrentados, pelo fato de que esses jovens t�m ainda que estudar, encontrar uma forma de ganhar a vida, de sustento."
A psiquiatra esclarece que a pandemia n�o causou novas formas de sofrimento mental, novos diagn�sticos, uma doen�a que vai ter um nome. "N�o acho que sejam causas inesperadas, s�o coisas previs�veis. A dificuldade de conviver sempre � um desafio. Mas quando a pandemia nos obriga a ficar em casa, defendendo nossas vidas, � l�gico que cria dificuldades, ficar trancado dentro de casa, �s voltas s� com coisas de sua cabe�a. S�o quest�es familiares que se repetem muito. Remexendo as mesmas quest�es, conflitos entre filhos e pais, mulheres e maridos."
Um sofrimento acoplado � internet, que tamb�m apresenta um outro lado, a possibilidade de, mesmo impedido do contato f�sico, estar conversando com outras pessoas, por�m criando uma ilus�o de que a sociabilidade s� existe em grupos de WhatsApp. "O isolamento da pandemia n�o criou nada que j� n�o estivesse l�. N�o � causa de nada, apenas trouxe � luz alguma dificuldade j� existente", esclarece.
Por tr�s disso tudo, a emo��o mais relevante � o medo. De adoecer, de morrer, de perder entes queridos. Intensificado pelo fato de ter perdido algu�m ou ficar sabendo de pessoas morrendo, mesmo distantes, de perder emprego, ficar em situa��o de vulnerabilidade. N�o conseguir planejar, de lidar com isolamento, n�o ter not�cias de pessoas pr�ximas.
"Quando o medo atinge n�veis muito altos, passa a gerar quadros de ansiedade muito graves, levando a pessoa a certa paralisa��o. O medo at� certo grau causa rea��o, em grande intensidade pode provocar paralisa��o", explica a psic�loga V�nia de Morais.
"Quando o medo atinge n�veis muito altos, passa a gerar quadros de ansiedade muito graves, levando a pessoa a certa paralisa��o. O medo at� certo grau causa rea��o, em grande intensidade pode provocar paralisa��o", explica a psic�loga V�nia de Morais.