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Estado de Minas

Estudo brasileiro aponta que inc�ndios na Amaz�nia afetam geleiras andinas

Levados pelo vento, o carbono preto e part�culas de poeira gerados pela queima da floresta dificultam que a neve reflita a luz solar, acelerando o seu derretimento


07/12/2019 04:00
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Pesquisadores focaram nos anos de 2007 e 2010, períodos em que a região amazônica mais sofreu com as queimadas
Pesquisadores focaram nos anos de 2007 e 2010, per�odos em que a regi�o amaz�nica mais sofreu com as queimadas (foto: Dida Sampaio/AFP)


A grande quantidade de queimadas na Amaz�nia, recentemente, fez com que o mundo virasse os olhos para o Brasil, desencadeando, inclusive, crises pol�ticas e diplom�ticas. Isso porque os danos ocorridos na floresta – boa parte dela em territ�rio brasileiro – podem desencadear problemas para todo o planeta. Em um estudo publicado na revista Scientific Reports, pesquisadores brasileiros mostram que os inc�ndios nos tr�picos est�o ligados ao derretimento das geleiras andinas. Por meio de uma s�rie de c�lculos e proje��es, os investigadores mostram que aeross�is gerados pela queima de biomassa podem intensificar o derretimento do gelo.

Newton de Magalh�es Neto, pesquisador do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e principal autor do estudo, explica que a pesquisa foi motivada por dados que revelaram como emiss�es geradas pela queima de combust�vel f�ssil em regi�es vizinhas eram transportadas para o �rtico e para a Groenl�ndia, contribuindo para o derretimento do gelo nessas �reas. “Imaginamos que as queimadas geradas na Amaz�nia tamb�m poderiam gerar efeito nas geleiras dos Andes devido � sua proximidade”, conta.

No estudo, Newton de Magalh�es Neto e sua equipe, que contaram com a participa��o de cientistas franceses, usaram dados coletados entre 2000 e 2016 sobre inc�ndios, movimento da fuma�a pelo vento, precipita��o e derretimento de geleiras. Eles descobriram que os aeross�is gerados pela queima de biomassa, como o carbono preto, podem ser transportados pelo vento para as geleiras andinas tropicais. L�, s�o depositados na neve e t�m o potencial de aumentar o derretimento das geleiras. Isso acontece porque a neve que � escurecida pelo carbono preto ou pelas part�culas de poeira reflete menos luz – o que compromete um fen�meno chamado albedo. “O albedo � o que impede que as geleiras derretam. Se ele diminui, � muito mais f�cil que elas se deteriorem”, detalhou o pesquisador brasileiro.

FASE CR�TICA 

Os pesquisadores resolveram dar foco aos anos de 2007 e 2010, per�odos em que a regi�o amaz�nica mais sofreu com as queimadas. “Analisamos uma base de dados oficiais. Com ela, identificamos as regi�es que mais queimavam na Amaz�nia. Usamos um modelo de transporte que consegue prever o quanto do material gerado pelas queimadas pode ser depositado sobre as geleiras e, dessa forma, contribuir para o seu derretimento”, detalha o cientista brasileiro.

A an�lise mostrou que apenas o carbono preto ou a poeira tem o potencial de aumentar o derretimento anual das geleiras em 3% a 4%. Quando ocorrem juntos, a taxa sobe para 6%. Em situa��es de alta concentra��o, a poeira sozinha pode aumentar o fen�meno em 11% a 13%. O carbono preto, em 12% a 14%. “Escolhemos essa regi�o para ser analisada porque ela est� pr�xima da Amaz�nia e tamb�m porque � uma das �reas de que mais temos dados. Ent�o, podemos trabalhar com um n�mero mais amplo de informa��es. Vimos, por meio dessa an�lise, que, realmente, o efeito nessa �rea pode ser muito grande”, destaca.

Segundo a equipe de pesquisadores, h� a possibilidade de o aumento da demanda global por alimentos agravar o problema. Ele pode resultar em maior expans�o da agricultura e do desmatamento da floreta amaz�nica, culminando na amplia��o das emiss�es de carbono preto e CO², que, como mostra a pesquisa, impactam as geleiras andinas. “A mensagem que o estudo passa � mais uma vez a necessidade de preserva��o desses territ�rios. Precisamos preservar as florestas e evitar sua queima de todas as formas poss�veis”, frisa Newton de Magalh�es Neto.

INVASORES NA ANT�RTIDA 

A excessiva presen�a do homem pode prejudicar a rica biodiversidade da Ant�rtida, segundo um estudo brit�nico divulgado na revista Science Advances. De acordo com autores, com as mudan�as clim�ticas, atividades como o turismo facilitam que esp�cies invasoras se estabele�am na regi�o. A grande quantidade de esp�cies � preservada por um equil�brio entre o frio extremo e o isolamento de uma massa terrestre cercada por correntes oce�nicas poderosas.

“Uma mudan�a clim�tica reduz a barreira de entrada (dos invasores)”, explica Peter Convey, especialista do Instituto de Pesquisa British Antarctic Survey e coautor da pesquisa. A estimativa � de que mais de 100 tipos de esp�cies invasoras estejam na regi�o. Um tipo de grama chamado Poa annua j� fincou ra�zes em algumas ilhas, assim como duas esp�cies de mosca levadas pelo homem. “O ponto principal � que os humanos trazem 99% das esp�cies invasoras”, frisa Convey.

Segundo o cientista, milhares de pesquisadores e 50 mil turistas visitam o continente remoto a cada ano. No caso das mudan�as clim�ticas, a estimativa � de que, mantido o atual n�vel de aquecimento global, uma �rea de terra que j� est� sem gelo na pen�nsula ant�rtica, no Oeste, aumente seu tamanho em 300% no pr�ximo s�culo. “Isso significa que qualquer esp�cie invasora ter� muito mais terras para colonizar”, ressalta o cientista.

Com mais terra e �gua dispon�vel, tamb�m � prov�vel que se intensifique a competi��o por recursos entre as esp�cies. Para os investigadores, � necess�rio repensar as atividades humanas na regi�o urgentemente. 

“A explora��o marinha hist�rica, a mudan�a no uso da terra e as invas�es biol�gicas v�o, provavelmente, continuar gerando impactos imediatos muito maiores nos ecossistemas ant�rticos do que as mudan�as clim�ticas em si”, justifica Peter Convey.

IMPACTOS LOCAIS 

Os impactos locais da rela��o entre os inc�ndios na Amaz�nia e o derretimento de geleiras nos Andes tamb�m s�o lembrados pelos pesquisadores. “Sabemos dos danos da fuma�a para quem mora pr�ximo a essas �reas. Al�m disso, o derretimento das geleiras pode causar uma crise h�drica. Temos uma popula��o vivendo nessa �rea que depende dessa reserva de �gua, que pode ser perdida”, explica Newton de Magalh�es Neto, autor principal do estudo.

A equipe tem a inten��o de dar continuidade ao trabalho. “Queremos analisar outras regi�es, entender o impacto desses elementos em outros locais e revelar as poss�veis consequ�ncias para poder criar alternativas que possam evitar poss�veis preju�zos. Mas, para isso, precisamos de financiamento”, diz o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Para Jos� Francisco Gon�alves, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas da Universidade de Bras�lia (UnB), a pesquisa brasileira revela dados interessantes e refor�a a necessidade de preserva��o das matas. “Esse estudo mostra uma an�lise extremamente inovadora, altamente qualificada e que ajuda a entender ainda mais os efeitos que as mudan�as clim�ticas podem causar. 

Nesse caso, principalmente por causa das queimadas”, diz. “Fica muito claro que os efeitos n�o s�o s� regionais, eles se expandem e chegam at� os Andes. Vemos que n�o � s� a Amaz�nia que sofre com os inc�ndios.”

O professor da UnB tamb�m ressalta que os danos causados pelo derretimento das geleiras podem ser extremamente cru�is. “Os efeitos podem ser catastr�ficos, a presen�a desse carbono preto e da poeira pode fazer com que surjam inunda��es e tamb�m resulta na diminui��o da reserva de �gua nessas regi�es. Isso pode provocar um grande desequil�brio e prejudicar a popula��o”, relata.

Para Jos� Francisco Gon�alves, mais pesquisas sobre o tema s�o necess�rias, pois fortalecem os alertas feitos constantemente pela comunidade cient�fica quanto � import�ncia da preserva��o do meio ambiente. 

“Esses dados s�o um refor�o ainda maior para algo que repetimos sempre e que precisa ser levado a s�rio: � muito importante evitar os danos causados pelas mudan�as clim�ticas, pois eles podem acarretar enormes preju�zos para o mundo inteiro”, frisa.






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