
A Lua tem milhares de crateras, mas voc� sabia que algumas delas t�m nomes de pessoas?
Algumas dessas crateras lunares (1.577) receberam o nome de ilustres cientistas, engenheiros e exploradores... mas apenas 31 delas homenageiam mulheres reais.
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Quem s�o essas mulheres e por que h� t�o poucas homenageadas?
Quem tem uma cratera com seu nome

A maioria das crateras t�m o nome de pioneiros da vida real, como cientistas e pensadores — mas tamb�m existem crateras com nomes de deuses e deusas, bem como de criaturas mitol�gicas.
O fil�sofo Plat�o, o astr�nomo Galileu Galilei e o matem�tico Isaac Newton s�o alguns dos not�veis imortalizados com uma cratera cada.
At� mesmo o m�sico John Lennon ganhou sua pr�pria cratera, na �rea conhecida como Lacus Somniorum ou "Lago dos Sonhos", no lado da Lua que � sempre vis�vel da Terra.
Mas voc� ter� que conduzir pesquisas exaustivas antes de encontrar uma mulher homenageada dessa forma. Menos de 2% das crateras lunares t�m o nome de mulheres cientistas.
E mais, quase todas as crateras "femininas" est�o localizadas do outro lado da Lua, fora da vista da Terra.
Quem escolhe os nomes?

"A Uni�o Astron�mica Internacional (IAU, na sigla em ingl�s) det�m a responsabilidade de aprovar nomes de coisas astron�micas desde 1919; mas alguns dos nomes na Lua remontam aos tempos n�o muito depois de Galileu Galilei ter feito seus maravilhosos desenhos das caracter�sticas lunares que ele viu atrav�s seu telesc�pio [em 1610]", diz Megan Donahue, presidente da American Astronomical Society.
"Em 1651, o astr�nomo italiano Giovanni Riccioli foi a primeira pessoa a come�ar a nomear locais na Lua", explica Tayyaba Zafar, astr�nomo do Paquist�o que � professor s�nior do centro de pesquisa Australian Astronomical Optics.
"Riccioli deu o seu pr�prio nome a uma cratera, mas, das 147 que ele batizou em homenagem a humanos, apenas duas foram nomeadas em homenagem a mulheres, e uma dessas mulheres pode nunca ter existido: Hip�cia era real, mas Santa Catarina de Alexandria talvez n�o."
Nos s�culos que se seguiram, as crateras foram nomeadas � medida que foram descobertas, principalmente celebrando o trabalho de cientistas e figuras hist�ricas do sexo masculino, porque "as mulheres eram muitas vezes impedidas de ter educa��o formal na �poca", diz Zafar.
�s vezes, manter registros de quem foi homenageado na Lua fica confuso, e os n�meros parecem conflitantes.
Na verdade, se voc� olhar um atlas lunar, encontrar� 1.608 crateras batizadas no total, mas "apenas 1.577 t�m nomes de pessoas reais. E embora 38 nomes femininos para pequenas crateras de interesse especial, h� 31 crateras lunares com nomes de mulheres cientistas, engenheiras ou exploradoras", de acordo com a IAU.
Por que t�o poucos nomes de mulheres?

O s�culo 20 trouxe um frenesi lunar que atingiu seu pico entre o final dos anos 1950 e o in�cio dos anos 1970 (com os Estados Unidos e a Uni�o Sovi�tica competindo para ser o primeiro a chegar � Lua).
"Havia um pouco de caos na nomenclatura de locais na Lua, ent�o, em 1973 a Uni�o Astron�mica Internacional criou um comit� para trazer um pouco de ordem", disse a astr�noma Rita Schulz, da IAU.
Foi decidido que os locais s� seriam nomeados se houvesse uma necessidade cient�fica para faz�-lo.
"Os nomes antigos seriam mantidos, mas, a partir de ent�o, para colocar seu nome na Lua, voc� tinha que ser um cientista ou explorador, e voc� tinha que estar morto", diz Schulz.
Outra coisa aconteceu, o que explica em parte por que a diferen�a de g�nero na superf�cie lunar perdurou: "Originalmente, a IAU decidiu que as caracter�sticas da Lua teriam o nome de homens, e as de V�nus teriam o nome de mulheres", acrescenta Schulz.
Esta �ltima decis�o n�o existe mais, mas a desigualdade sim: "Nos �ltimos 30 anos, apenas sete crateras foram batizadas com nomes de mulheres. Quando a IAU foi fundada, menos de 2% das crateras tinham nomes de mulheres. Um s�culo depois, o �ndice permanece o mesmo", diz Zafar.
Por que isso Importa?

Ent�o, realmente importa se t�o poucas mulheres t�m uma cratera na Lua com o nome delas?
"Claro!", diz Maritza Soto Vasquez, astr�noma chilena que aos 25 anos descobriu seu primeiro planeta e, aos 31, acaba de descobrir o quarto.
"Se queremos que mais mulheres se envolvam na ci�ncia, a visibilidade talvez seja um dos fatores mais importantes. Quando as meninas pensam sobre o que querem estudar, elas precisam ver modelos que se parecem com elas."

Soto Vasquez est� atualmente realizando pesquisas de p�s-doutorado na Queen Mary University de Londres, no Reino Unido, e tem uma forte opini�o sobre as mulheres na ci�ncia.
"Pode n�o haver uma pessoa dizendo a elas 'Voc� n�o pode ser um cientista porque voc� � uma mulher', mas h� muitas pequenas mensagens que podem deixar uma forte impress�o quando voc� � jovem, como querer estudar ci�ncias na escola, mas n�o ver outras mulheres nas aulas ou nos livros did�ticos", acrescenta.
Vicky Chu, da Organiza��o Espacial Nacional de Taiwan, tamb�m gostaria de ver mais mulheres na superf�cie lunar e concorda que a visibilidade ajudaria a atrair mais mulheres para o estudo das ci�ncias: "Com certeza ajuda, especialmente para estudantes do ensino m�dio e superior".
"O reconhecimento tem um efeito cascata", diz Zafar. "A comunidade cient�fica precisa reconhecer as mulheres para dar o exemplo para a sociedade e promover um ambiente de trabalho inclusivo, solid�rio e flex�vel."
A ag�ncia espacial norte-americana, a Nasa, anunciou recentemente seus planos de retornar � Lua em 2024 e, desta vez, enviar� uma mulher, al�m de um homem, no primeiro pouso com humanos desde 1972.
Vamos celebrar algumas das mulheres que t�m uma cratera com seu nome...

Valentina Tereshkova (nascida em mar�o de 1937)
"Na Terra, homens e mulheres correm os mesmos riscos. Por que n�o dever�amos correr os mesmos riscos no espa�o?", disse a cosmonauta russa Valentina Tereshkova, a �nica mulher viva a ter uma cratera lunar com o seu nome por sua contribui��o excepcional para a ci�ncia.
Em 1963, Tereshkova fez hist�ria ao se tornar a primeira mulher a ir para o espa�o. Ela continua a ser a �nica mulher a fazer isso sozinha, e a mais jovem (ela tinha 26 anos na �poca).
Depois, ela refletiu: "Uma vez que voc� est� no espa�o, voc� percebe como a Terra � pequena e fr�gil".
Durante sua miss�o a bordo da c�psula espacial Vostok 6, Tereshkova passou quase tr�s dias orbitando a Terra.
"Qualquer pessoa que j� passou algum tempo no espa�o vai adorar fazer isso para o resto de suas vidas", disse ela.
Tereshkova estava ansiosa para cumprir outra miss�o, mas aquela foi sua primeira e �nica. Mais tarde, ele diria: "Depois de uma vez no espa�o, queria muito voltar para l�. Mas n�o aconteceu".
Em vez disso, Tereshkova viajou pelo mundo como embaixadora da ci�ncia sovi�tica e, mais tarde, tornou-se pol�tica.
"N�o se pode negar o grande papel que as mulheres t�m desempenhado na comunidade mundial. Minha miss�o foi mais um impulso para dar continuidade a esta contribui��o feminina", disse ela.
Sua cratera fica do outro lado da Lua, na margem oeste do Mare Moscoviense.

Hip�cia (morreu em 415 d.C.)
Hip�cia foi uma matem�tica, astr�noma e fil�sofa que nasceu entre 350 e 370 d.C. em Alexandria, quando o Egito era uma prov�ncia do Imp�rio Romano Oriental.
Ela � considerada a primeira mulher na hist�ria conhecida a se dedicar profissionalmente � ci�ncia, embora a maioria das mulheres de sua �poca n�o tivesse acesso � educa��o.
Seu pai, Theon, um astr�nomo e diretor da famosa Biblioteca de Alexandria, garantiu que ela aprendesse com os melhores.
Embora a maior parte do trabalho cient�fico de Hip�cia tenha se perdido, os estudiosos modernos acham que deve ter sido significativo porque foi amplamente comentado por outros autores.
Sabemos que ela escreveu para o C�none Astron�mico (um tratado de astronomia) v�rias tabelas astron�micas e coment�rios sobre textos cl�ssicos.
Mas Hip�cia teve um fim tr�gico quando se desentendeu com o bispo de Alexandria e, como resultado, foi assassinada por uma multid�o de crist�os.
Quase 2 mil anos depois, a figura de Hip�cia tornou-se um �cone dos direitos das mulheres e uma fonte de inspira��o para o movimento feminista.
Riccioli deu o primeiro nome a uma cratera em sua homenagem em 1651, mas em 1973 o IAU mudou o nome de Hip�cia para outra cratera menor a sudoeste do Mar da Tranquilidade.
Ainda � uma das poucas crateras "femininas" no lado terrestre da Lua.

Antonia Caetana de Paiva Pereira Maury (1866 -1952)
Antonia Caetana de Paiva Pereira Maury, tamb�m conhecida simplesmente como Antonia Maury, foi uma astr�noma americana e uma das melhores de sua gera��o.
Ela fazia parte do "Harvard Computers", um grupo de mulheres astr�nomas e "computadores humanos" no Harvard College Observatory.
Maury foi a primeira pessoa a estudar os bin�rios espectrais, nome dado a um par de estrelas que est�o t�o pr�ximas umas das outras que, da Terra, n�o podem ser distinguidas a olho nu.
Ela tamb�m criou um sistema para medir o espectro de radia��o eletromagn�tica das estrelas, que ainda est� em uso pela IAU at� hoje.
Embora Antonia Maury tenha nascido em Nova York, ela foi batizada em homenagem a sua av� materna, filha de um m�dico da corte portuguesa que fugiu para o Brasil para evitar as Guerras Napole�nicas.
Ap�s sua morte, aos 86 anos, a IAU deu o nome de Maury a uma cratera pr�xima ao Lago dos Sonhos (Lacus Somniorum).

Kalpana Chawla (1962 - 2003)
"O caminho dos sonhos para o sucesso existe. Que voc� tenha a vis�o para encontr�-lo, a coragem para segui-lo e a perseveran�a para persegui-lo", disse Kalpana Chawla, a primeira mulher indiana a ir para o espa�o.
Chawla, ou "Montu", como sua fam�lia a chamava, desde jovem foi fascinada por voar. Sua fam�lia diz que, quando ela tinha 3 anos, ela escolheu o nome Kalpana, que significa "imagina��o" como seu nome.
Ela foi uma das primeiras mulheres a se formar em engenharia aeron�utica pelo Punjab Engineering College e, em 1982, mudou-se para os Estados Unidos para estudar dois mestrados, um doutorado em engenharia aeroespacial... e ingressou na Nasa.
Seu primeiro v�o como astronauta e engenheira foi no �nibus espacial Columbia em 1997, como operadora de bra�o rob�tico.
Em 2003, Chawla foi uma dos sete membros da tripula��o que morreram no desastre do �nibus espacial Columbia, quando a espa�onave se desintegrou durante sua reentrada na atmosfera terrestre.
Sua cratera, localizada do outro lado da Lua, est� pr�xima � cratera L. Clark, nome de seu companheiro astronauta que morreu na mesma miss�o.

Annie Jean Easley (1933 - 2011)
Em 1º de fevereiro de 2021, Annie Jean Easley se tornou a mulher mais recente a ter uma cratera com o seu nome.
Easley foi um dos primeiros negros americanos a trabalhar como cientista da computa��o na Nasa (quando a ag�ncia ainda se chamava Naca). Ela era uma matem�tica que se tornou cientista de foguetes.
Mas, quando crian�a, obter uma boa educa��o n�o foi f�cil. Easley cresceu no sul dos Estados Unidos antes do movimento pelos direitos civis, o que significava que escolas e universidades eram segregadas.
Sua m�e a encorajou a ser ambiciosa, mas disse que ela teria que trabalhar mais, porque as escolas para crian�as negras geralmente ofereciam uma educa��o mais prec�ria.
Durante sua carreira de 34 anos na Nasa, Easley desenvolveu c�digos de computador, trabalhou em tecnologias de energia e ajudou a lan�ar as bases tecnol�gicas para futuros lan�amentos de �nibus espaciais.
Ao longo de sua vida, Easley fez campanha para que estudantes do sexo feminino e de minorias seguissem carreiras em ci�ncia, tecnologia, engenharia e matem�tica e combateu a discrimina��o dentro da Nasa.
Easley acreditava no trabalho em equipe e frequentemente expressava admira��o por aqueles com quem trabalhava.
Sua p�gina no site da Nasa diz: "Muitos que a conheciam diriam que n�o foi apenas o trabalho que ela fez que fez a diferen�a; foram sua energia e atitude positiva que tiveram um tremendo impacto".
Easley � uma pequena cratera (com menos de 10 km de di�metro) do outro lado da Lua.
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